Julio Gomes

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Cano jogou mais que Messi em 2023! Patética premiação expõe Fifa e colégio

A bola estava cantada. Uma temporada é uma temporada. Outra temporada é outra temporada. A Fifa fez o desfavor de estragar seu prêmio The Best por subestimar a incapacidade de as pessoas entenderem algo tão simples quanto o período em questão. Era de se esperar que acontecesse com um colégio eleitoral tão grande. E um colégio do futebol, ainda por cima, dos quatro cantos do mundo. Quantos jogadores e treinadores leem regulamentos de premiações? E o público em geral, então?

A Fifa deveria ter dado o The Best de 2022 antes da Copa do Mundo, após o encerramento da temporada 21/22. E o The Best 2023 levaria em conta a temporada passada inteira, a 22/23, incluindo a Copa como competição que ocorreu no meio da temporada. Ao jogar a Copa do Mundo para a premiação do ano passado, a anterior, a Fifa criou uma situação bem confusa. Ela cortou a temporada 22/23 em duas e pediu para os votantes levarem em consideração somente o período de janeiro a agosto para a deste ano. Tipo, só os segundos turnos dos campeonatos nacionais e o mata-mata da Champions League.

Não deveria ser tão difícil. Haaland foi o cara da temporada passada, deveriam todos terem votado no Haaland e está tudo certo. Mas o pessoal se confundiu, pelo jeito. Deveriam ter recebido o e-mail de votação com um disclaimer: "atenção, senhores, o Messi jogou a Copa do Mundo fora deste período de votação que determinamos".

No fim, entre jornalistas, Haaland recebeu o dobro de pontos do que Messi. Entre o público, Messi ganhou o dobro dos votos de Haaland. Os treinadores das seleções do mundo deram mais votos a Haaland do que Messi. Os capitães, ao contrário. Haaland e Messi ficaram no empate, com 48 pontos cada, e Messi ganhou o prêmio por causa de um critério de desempate que ninguém nem sabia que existia - mais votos como primeiro colocado. Bizarro.

Messi prestou a atenção no regulamento e votou em Haaland na primeira colocação - ele nunca votava no Cristiano Ronaldo, lembram disso? Aliás, Messi sequer foi à premiação, pois ele sabia - ou achava que sabia - que o eleito seria o norueguês. Já o técnico argentino, Scaloni, fez a patriotada e votou em Messi, sem colocar Haaland no pódio. Fernando Diniz, ex-técnico da seleção, foi de Messi, infelizmente.

A grande pergunta é: o que fez Messi entre janeiro e agosto de 2023? E todos sabemos a resposta: nada. Quem votou em Messi poderia ter votado em qualquer um, qualquer jogador do presente ou do passado. Votou no nome, apenas. Não votou no que Messi efetivamente fez, mas no que ele foi. Pelo que fez na segunda metade da temporada 22/23, Messi não deveria aparecer sequer entre os 10 ou 20 primeiros da lista. O Germán Cano fez mais em 2023 do que o Messi, só para escolher um argentino.

A Bola de Ouro é mais respeitada do que a Fifa na Europa. Mas também resolveu ampliar seu colégio eleitoral. Em vez de jornalistas pela Europa, fez o mesmo que a Fifa e abriu para centenas de votantes. Não estou aqui dizendo que só jornalistas sabem ou podem votar. Mas o fato é que o mundo precisa cada vez mais de mais curadoria e não menos. Está tudo cada vez mais aberto a opiniões que não necessariamente são balizadas. Mais voz é bom. Voz demais da conta, pode não ser.

O The Best e a Bola de Ouro da France Football precisam ser votadas por colegiados menores e mais qualificados. Esse mundão de votantes aí não está dando certo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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