Seleção planejou jogo faltoso em Wembley para compensar desentrosamento
Estava na hora de jogar o simples, disseram alguns jogadores após a vitória da seleção brasileira sobre a Inglaterra, no sábado. Espetadas em Fernando Diniz? Talvez sim. Talvez não.
O Brasil fez sim, um bom jogo contra a Inglaterra. Tinha feito também contra Colômbia e Argentina, ano passado. Resultados sempre mandarão na análise final. Sempre. É uma pena, mas é assim. E, como os resultados mandam, a empolgação já toma conta de algumas análises.
Eu certamente mandei mal ao dizer que o primeiro tempo do Brasil foi "pífio", em minha coluna de sábado. A sensação no campo, vendo o jogo ao vivo, foi de um bombardeio aéreo da Inglaterra e uma incrível dificuldade de a seleção sair jogando. De fato, os ingleses mandaram muitas bolas para a área, mas, revendo a partida, é verdade que o Brasil esteve organizado e conseguiu, com Paquetá, criar as duas jogadas perigosas que teve de contra ataque. Foi mais sofrido no início e foi melhorando ao longo da partida.
Os times de Dorival Júnior costumam ser times de contra ataque? Não, não são. Costumam ser times de posse de bola, ofensivos e verticais. Mas, em Wembley, a ideia era outra. Eram quatro jogos sem vitórias, três derrotas seguidas, um ano perdido. Era a hora de resgatar alguma confiança.
E no plano de jogo estava mesmo fazer faltas - mesmo que algumas delas tenham sido cometidas perto da área e que Paquetá tenha passado do ponto na tarefa. Poderia ter dado errado. Poderíamos estar aqui falando que o Brasil exagerou nas faltas e deu chances para a Inglaterra fazer gols de cabeça. Mas não saíram os gols, certo? O resultado, lembrem-se, é o que manda.
Que o Brasil tenha feito um jogo faltoso de forma proposital não é opinião, é baseado em fatos. Conversei com membros da comissão técnica que confirmaram o expediente como recurso diante do cenário. De um lado, um time que joga junto há bastante tempo, com um longo trabalho de Southgate e que tinha dois desfalques apenas para o jogo (Kane e Saka). Do outro lado, uma equipe com treinador novo, apenas alguns dias de treinamento e várias baixas por lesão. Era importante não deixar a Inglaterra se acomodar na partida e, sim, parar Bellingham e outros com faltas. Ainda mais em um contexto de amistoso e arbitragem permissiva.
"A gente precisa competir muito e muitas vezes a competição é dessa forma, fazendo faltas. A gente já sofreu muito com isso em vários jogos e a gente precisa também usar esse recurso para competir. E competir, muitas vezes, significa fazer faltas", me falou Danilo após a partida.
Rodrygo já havia deixado a estratégia no ar na zona de entrevistas de Wembley. "A gente começou muito confiante, as trocas de passes encaixaram. Mas a gente sabia que o jogo deles uma hora ia encaixar e a gente ia ter que ser firme."
No total, a seleção brasileira cometeu 19 faltas, sendo 12 delas no primeiro tempo - Paquetá fez 6, metade delas.
Contra a Argentina, em um jogo picado pela péssima arbitragem, o Brasil cometeu 26 faltas. Contra a Colômbia, somente 12. Contra o Uruguai, 18. Contra a Venezuela, 13. Estes eram os quatro jogos seguidos sem vitórias, com Diniz. Houve críticas pela ausência de faltas em lances cruciais das partidas contra Venezuela - quando cedeu empate em contra ataque - e Colômbia - quando o time foi engolido por Luiz Díaz. Ficou no ar uma sensação de um Brasil desorganizado defensivamente. A seleção não poderia ser engolida por Bellingham - e não foi.
Sim, faltas fazem parte do jogo. Organização defensiva faz parte do jogo. Jogar também faz. Conhecendo Dorival, não acredito que o Brasil vá ser um time de contra ataque. Mas, para ganhar protagonismo, vai precisar de treino e de confiança. Haverá tempo para treinos e observações na Copa América. E a confiança só vem com as vitórias, mesmo com o pragmatismo tático - e não o brilho ofensivo - como chave para chegar a elas.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.