Julio Gomes

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Mbappé, ao contrário de Neymar, deixa Paris maior do que chegou

Kylian Mbappé e Neymar chegaram juntos ao PSG, no verão europeu de 2017. E deixam o clube francês separados por um ano. Neymar se foi em 2023, Mbappé anunciou nesta sexta-feira o que era um segredo a vozes e não jogará mais no Paris. A diferença é que Mbappé sai muito maior do que chegou, enquanto Neymar saiu minúsculo - para o que se esperava dele.

Neymar veio do Barcelona, onde havia conquistado o triplete duas temporadas antes. Era o "substituto natural" de Messi no clube catalão e havia sido peça chave na famosa goleada do Barça sobre o próprio PSG, os 6 a 1 da Champions de 2017. Ali, os donos do dinheiro, ou seja, os xeques do Qatar, decidiram que ele seria a pedra fundamental para fazer o PSG conquistar a Europa.

Vamos lembrar que o PSG foi comprado pelo Qatar em 2011, um ano depois de o pequeno e rico país do Oriente Médio ser anunciado como sede da Copa do Mundo de 2022. O plano era inserir o Qatar em vários setores das sociedades europeias, como uma espécie de "seguro de vida", e normalizar um Estado autoritário, mas "moderno", para a visão complacente do Ocidente. Dentro deste grande plano, estava o PSG. O que também interessava aos franceses, já que Paris, uma das cidades mais importantes do mundo, nunca teve um clube de futebol relevante.

Foram pagos 222 milhões de euros por Neymar, então com 25 anos de idade e com o melhor ainda por vir. Ao mesmo tempo, no entanto, outro movimento foi feito. E o Qatar desembolsou 180 milhões de euros para contratar Mbappé, o garoto de 18 anos que havia explodido com a camisa do Monaco. Para driblar o fair play financeiro, a jogada foi a seguinte: Mbappé chegou por empréstimo e só foi oficialmente comprado pelo PSG no ano seguinte, em 2018.

E o que aconteceu também em 2018? A Copa do Mundo foi disputada na Rússia. A Copa que era para ser a Copa de Neymar, que conseguiu jogar fora credibilidade e fãs com o cai-cai protagonizado na Rússia. Já Mbappé, aos 19 anos, era campeão do mundo com a França e se tornava o mais jovem desde Pelé a fazer gol em uma final de Copa. Ali, começava o descolamento. Quem era mesmo a pedra fundamental do projeto do Paris?

Tudo girou em torno a Neymar ao longo dos anos, mas paulatinamente o brasileiro foi diminuindo, não só pelas polêmicas fora de campo e pelo aparente desinteresse, mas também, é verdade, pelas lesões. E o francês foi crescendo, tornando-se maior e, claro, desejado pelo Real Madrid.

Aqui, é preciso falar de um outro clube em comum na vida dos dois craques. O Real Madrid quis Neymar quando ele tinha 13 para 14 anos. Sabem aquela entrevista do menininho Neymar no Santiago Bernabéu, destacada pelo próprio em seu documentário de autopromoção na Netflix? Foi este colunista que fez a entrevista - à época, eu era correspondente da Band em Madri. Depois daquilo, Neymar cresceu, virou profissional no Santos e, novamente, o Real quis muito contratá-lo.

Mas Neymar Jr e Neymar pai resolveram fazer um negócio da China (para eles) com o Barcelona, deixaram investidores e o Santos a ver navios e promoveram a grande (talvez única?) frustração de Florentino Pérez nestes quase 25 anos mandando e transformando o Real Madrid no maior clube do mundo (não só no campo).

Depois de tantas portas na cara, o Real Madrid esqueceu Neymar. E a obsessão virou Mbappé. Que também deu uma canseira danada em Florentino, convenhamos. Mas, agora, chegou a hora.

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Mbappé deixa o Paris com 255 gols em 306 jogos (talvez as cifras ainda mudem). E deixa também torcedores chateados com ele. Na postagem do jogador no X, em que anuncia a saída, uma das respostas de mais engajamento mostra o momento em que ele perdeu um gol feito contra o Bayern de Munique, na final da Champions League de 2020, na bolha de Lisboa. Sim, foi Mbappé, e não Neymar, que perdeu a grande chance.

Neymar nunca foi amado pelos parisienses, até porque nunca mostrou qualquer amor de volta. Mbappé sai do PSG pedindo desculpas por não ter conseguido demonstrar o que ele sentia pelo clube e garante que seguirá sendo um torcedor do Paris daqui para frente. Sim, deixa para trás torcedores que não gostam dele. Mas deixa também muita gente que o idolatrou e queria um francês à frente do grande projeto francês (e qatari).

Ele já poderia ter ido embora antes, como eu disse. Resolveu ficar para ser o grande (e único) líder do projeto. Bateu na trave, quase levou "sozinho" o PSG a mais uma final de Champions League. E agora deve ter visto que o momento, na verdade, é de descontinuar o projeto. O Qatar não vai continuar botando dinheiro no clube, como se não houvesse amanhã.

Aos 25 anos, mesma idade de Neymar quando chegou ao PSG, Mbappé deixa o clube. Quem fez mais na carreira até os 25 anos? Isso dá um bom debate. Pelo ângulo do ambiente de clubes, dá discussão. Pelo ângulo das seleções, não há debate.

O fato é que Neymar desceu não um degrau, mas uma escadaria ao deixar o Barcelona para ir ao PSG. E desceu outra ao sair para a Arábia Saudita - até porque ninguém mais lhe queria, nem o Real Madrid. Já Mbappé subiu degraus do Monaco para Paris e sobe uma escadaria ao partir para o Real Madrid. Se o melhor ainda está por vir para um cara de 25 anos, me parece ser impossível medir onde Mbappé pode chegar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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