Julio Gomes

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Klopp sai de cena e Xabi Alonso mostra que pode ser o próximo supertécnico

Jurgen Klopp se despede neste domingo do Liverpool. A emotiva despedida do treinador alemão será realizada em um jogo que não vale nada, contra o Wolverhampton. No ano passado, o Liverpool já havia feito uma festa emotiva para as saídas de Roberto Firmino e outros jogadores que fizeram história no clube. Alguns mais se mandaram após o término da temporada. E agora se vai o líder.

Klopp está na história. Em 2020, em plena pandemia, o Liverpool conquistou o título inglês, que não ganhava havia 30 anos. Tinha sido campeão europeu um ano antes. Foram nove anos de Klopp nos Reds e, se olharmos para a lista de títulos, parece que ela ficou curta em relação a toda a bola que o Liverpool jogou nestes anos, a quantidade de vitórias e gols marcados. O único título repetido foi o menos importante, o da Copa da Liga Inglesa, que foi o troféu levantado neste último ano. De resto, um de cada, incluindo o Mundial de 19.

A explicação para a lista curta, claro, passa pelos dois maiores estraga-prazeres do futebol atual. O Manchester City, que ganhou duas Premier Leagues por um mísero ponto em cima do Liverpool, e o Real Madrid, que derrotou Klopp nas finais europeias de 18 e 22. Não sei há muito do que se arrepender. A sorte não sorriu em alguns momentos cruciais. Klopp foi a grande pedra no sapato de Guardiola ao longo dos anos, na Alemanha (Borussia Dortmund x Bayern) ou na Inglaterra. Mas, no fim, apesar de haver um enorme equilíbrio nos confrontos diretos e uma ligeira vantagem para Klopp nos jogos mais importantes entre eles, foi Pep quem colecionou mais taças.

Klopp trouxe de volta o Gegenpressing ao futebol moderno, a pressão pós-perda instantânea. O contra-ataque da pressão. Diz Klopp que, quando o adversário rouba a bola de você, ele precisa de alguns segundos para se orientar no campo. Se você rouba de volta imediatamente, está muito perto do gol. Isso parece simples, mas exige muito treinamento em busca de sincronismo e energia. Isso demanda muito dos jogadores, e a realidade é que os jogadores do Liverpool já não aguentavam mais tanta carga.

A maioria dos caras se mandou. Klopp conseguiu reformular o elenco com grande qualidade, mas agora ele mesmo viu que já está cansado. Vai cumprir 57 anos em junho e jura que se aposenta. Eu torço para que logo logo ele se arrependa. O futebol precisa de personagens como Klopp. De pessoas que não só são ganhadoras nos clubes, mas que acrescentam às sociedades. As democracias ocidentais vivem gigantesca crise e falta de liderança, e gente como Klopp, líderes e inspiradores de outros setores, que não o político, são importantes para mostrar alguns caminhos esquecidos em meio a tanta mentira e decepção.

Para o lugar de Klopp, o Liverpool foi buscar o holandês Arne Slot, após alguns bons anos no Feyenoord. Slot pode ter histórico bom, pode ter sido disputado por outros times da Premier League, mas só saberemos se foi ou não foi uma boa manobra quando as coisas acontecerem na prática. É uma aposta.

O fato é que não há muitos treinadores top, top, top no futebol hoje em dia. Essa é a cara do futebol. Cada vez mais para cada vez menos. Estou falando de dinheiro, claro. Cada vez menos times vencedores e dominadores, cada vez menos cadeiras em que um técnico pode se destacar. Quando um time é muito bom, o trabalho do treinador acaba sendo relativizado. Quando um trabalho é muito bem feito, e muitos são, mas acaba sem títulos grandes, fica a dúvida do que aquele treinador é realmente capaz.

Diante deste cenário, havia um nome só para o Liverpool. E para o Bayern. E para qualquer um que queira dar um salto. Xabi Alonso.

Xabi foi um grande jogador de futebol, fez coisas enormes com a Espanha, com o Liverpool, Bayern e Real Madrid. Quem conversava com Xabi em zonas mistas ou prestava atenção às coletivas ou ao que se falava dele, já sabia que vinha coisa boa por aí. Mas o mesmo servia para Xavi, por exemplo, o do Barça. E não parece que Xavi terá uma carreira como a de Xabi.

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O fato é que o fim de semana foi histórico, com o título invicto de Xabi Alonso no Bayer Leverkusen. Foram 28 vitórias e 6 empates em 34 partidas, conseguindo algo inédito na Alemanha. Nunca, nem mesmo o Bayern de Munique, com seus 33 títulos, algum time havia sido campeão invicto. O Bayer de Xabi ainda tem a chance de ganhar os títulos da Europa League e da Copa da Alemanha, são dois jogos que colocam à prova uma invencibilidade total de 51 jogos. É um time que joga bem, para frente, com coragem, e que tem mentalidade e compromisso - a prova está nos 17 gols marcados após o minuto 90.

Xabi Alonso já poderia dar o salto. Só que ele resolveu ficar. Nada de Liverpool, nada de Bayern. Xabi Alonso estará no Bayer Leverkusen ano que vem. É a decisão correta? Quem sou eu para julgá-lo. É bem difícil imaginar algo melhor para ele em termos de resultados no ano que vem. Mas talvez Xabi esteja pensando em mais do que isso.

Klopp se vai, e todos queremos que volte logo. Xabi Alonso fica, e muitos querem que saia para um palco ainda mais nobre. Os lugares são os lugares e não somos nós quem controlamos. O que está claro, no entanto, é o que o fim de semana marca uma espécie de passagem de bastão.

Sai de cena um cara que montou o que foi o melhor time do mundo em 2019 e 2020, uma máquina que acabou tendo uma possível dinastia consideravelmente prejudicada pela pandemia. Klopp foi o anti-Guardiola por mais de uma década, substituindo José Mourinho. Agora é a vez de Xabi Alonso. Que tamanho ele terá? Ocupará o vazio que Klopp deixa? Veremos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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