Julio Gomes

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Dortmund tenta repetir zebra de 97, a primeira final global da Champions

Quando Real Madrid e Borussia Dortmund entrarem em campo em Wembley, às 16h deste sábado, a Europa verá uma final global mais uma vez. Será a 11a vez seguida que mais da metade dos titulares em campo serão de nacionalidade diferente da dos clubes que disputarão o título. Nos últimos 20 anos, só duas vezes a conta foi invertida (mais titulares "locais" do que estrangeiros).

A Copa dos Campeões foi batizada como Champions League a partir de 1993. E virou global, como é até hoje, alguns anos depois, quando dois movimentos mudaram a configuração do futebol do Velho Continente: 1) a criação do Mercado Comum Europeu e do livre trânsito de trabalhadores, o que fez com que jogadores de outros países da Europa deixassem de ser "estrangeiros" dentro das fronteiras da União Europeia; 2) a Lei Bosman, que libertou os jogadores dos clubes e permitiu um trânsito mais frequente de atletas de um lado ao outro. Ali, começava a era que vivemos até hoje. Foi quando os times europeus começaram a virar seleções multinacionais.

A primeira final "global" da história foi justamente a do primeiro e único título do Borussia Dortmund na competição, em 1997. O Borussia chegou para aquela decisão em Munique como azarão contra a toda poderosa, detentora do título e já global Juventus - igualzinho chega como azarão hoje, contra o Real, em Wembley.

A final de 97 foi a primeira em que um dos finalistas tinha mais do que três estrangeiros - sem contar as exceções do passado que haviam se dado por nacionalizações. Importante notar que a limitação de estrangeiros seguia de pé, e os "forasteiros" da Juve foram três: o uruguaio Montero, o croata Boksic e o iugoslado Jugovic. Só que o detalhe é que havia dois franceses no time, uns certos Zidane e Deschamps (só isso!), que, na prática, já não eram mais estrangeiros. Eram 6 italianos e 5 caras nascidos fora do país da Juve, uma tendência que se aprofundaria nos anos seguintes e até hoje.

Já o Borussia Dortmund foi a campo somente com três estrangeiros, mas todos europeus: o escocês Lambert, o suíço Chapuisat e o português Paulo Sousa, que foi técnico do Flamengo recentemente. Os astros do time eram alemães, como o meia Andreas Moller e o capitão, Matthias Sammer.

No ano seguinte, a final entre Real Madrid e, de novo, Juventus já tinha 11 estrangeiros começando a partida. Um recorde que seria batido seguidamente. Acelerem a fita e chegaremos à final de 2022, entre Real e Liverpool, com 10 estrangeiros começando a partida pelos "espanhóis" e 9 pelos "ingleses": 19 de 22 atletas no total.

Curiosamente, foram majoritariamente os clubes alemães que quebraram a regra neste século. A última final com menos da metade de atletas estrangeiros foi a final alemã de Wembley, em 2013. Bayern de Munique e Borussia começaram o jogo com 12 alemães e 10 atletas de fora em campo. Um ano antes, na decisão de 2012, o Bayern havia escalado só 3 estrangeiros para começar a partida contra o Chelsea, que tinha 7. Antes destas duas, temos de voltar a 2004 para encontrar uma final com mais jogadores "caseiros", a estranha e inesperada entre Porto e Monaco. O Porto furou a bolha entrou em campo com nove portugueses e dois brasileiros - enquanto o Monaco tinha "só" cinco estrangeiros. Esta foi a última final europeia da história em que as duas equipes tinham mais locais em campo no apito inicial - e lá se vão 20 anos.

O último time a entrar em campo na final da Copa dos Campeões somente com locais foi o Steaua Bucareste, de Hagi, que em 1989 perdeu a final para o Milan mandando 11 romenos no time titular. Eram tempos de Guerra Fria, e não havia um jogador sequer de fora da Romênia nem no banco de reservas. De lá para cá, o único que entrou em campo com somente um internacional foi o Bayern de Munique, na final de 1999.

Para a decisão deste sábado, o Borussia já não consegue emular os times "raiz" de 1997 ou mesmo de 2013. Segundo as prévias, serão pelo menos cinco estrangeiros começando a partida. Já o Real Madrid terá só Carvajal e Nacho como legítimos espanhóis no apito inicial.

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Veja abaixo, ano a ano a quantidade de jogadores estrangeiros que começaram as finais da "era Champions League":

2024 Dortmund 5 Real 9 (*segundo as prévias)
2023 Man City 9 Inter 6
2022 Real 10 Liverpool 9
2021 Chelsea 8 Man City 7
2020 Bayern 5 PSG 9
2019 Liv 9 Tottenham 6
2018 Real 8 Liv 8
2017 Real 8 Juve 7
2016 Real 9 Atleti 6
2015 Barça 7 Juve 6
2014 Real 8 Atleti 5
2013 Bayern 6 Dortmund 4
2012 Chelsea 7 Bayern 3
2011 Barça 4 ManU 8
2010 Inter 11 Bayern 6
2009 Barça 5 ManU 8
2008 ManU 5 Chelsea 7
2007 Milan 4 Liv 8
2006 Barça 8 Ars 9
2005 Liv 9 Milan 7
2004 Porto 2 Monaco 5
2003 Milan 5 Juve 5
2002 Real 5 Leverk 4
2001 Bayern 7 Valencia 7
2000 Real 4 Valencia 5
1999 ManU 7 Bayern 1
1998 Real 7 Juve 4
1997 Dortmund 3 Juve 5
1996 Juve 2 Ajax 3
1995 Ajax 2 Milan 2
1994 Milan 3 Barça 3
1993 Marselha 3 Milan 2

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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