Real e Ancelotti recuam sobre Mundial, mas recado está dado: É tudo grana
A segunda-feira amanheceu com uma entrevista bombástica de Carlo Ancelotti a um jornal italiano. O Real Madrid não disputaria o Super Mundial de Clubes da Fifa no ano que vem,, segundo o treinador. Algumas horas depois, o Real Madrid soltou um comunicado oficial desmentindo o técnico e dizendo que sim, estará no Mundial de 2025, nos Estados Unidos. Ato seguido, Ancelotti foi às redes sociais dizendo ter sido "mal interpretado".
Atentos para o que disse Ancelotti ao "Il Giornale": "A Fifa pode esquecer, jogadores e clubes não participarão deste torneio. Um só jogo do Real Madrid vale 20 milhões e a Fifa quer nos dar essa quantidade de dinheiro para a Copa inteira. Negativo. Igual que nós, outros clubes rejeitarão o convite". Mas puxa vida, Ancelotti, quanta margem para interpretações dá isso, não é verdade?! (contém ironia)
Não houve má interpretação alguma. Ancelotti contou algo que não deveria ter contado e que certamente era falado nos escritórios do Santiago Bernabéu. Mas a reação foi grande, e o Real logo veio apagar o incêndio. Importante lembrar que o Madrid negocia com a Fifa também o uso do Santiago Bernabéu, que hoje virou o estádio mais moderno do mundo, para palco da final da Copa de 2030.
A questão mesmo é profunda e é triste: é tudo sobre grana. Money, money, money. Plata. Euros.
A Fifa quer organizar o Super Mundial dela para criar um produto que rivalize com a Uefa Champions League. O Real Madrid, junto com Juventus e Barcelona, tenta se desmarcar da Uefa e criar a própria Superliga europeia. Clubes europeus não querem que o dinheiro fique com as Fifas e Uefas da vida. Querem o dinheiro nos cofres deles. As entidades, por sua vez, deveriam trabalhar com transparência e distribuir muito melhor os lucros vultuosos que têm - a missão de tais instituições não é só organizar o futebol, é fomentar o esporte. Por exemplo, o futebol feminino. Ou ajudar clubes que atuam em áreas do planeta onde sequer o poder público chega. Mas todos sabemos que os lucros são distribuídos por bolsos e contas na Suíça.
Em um Super Mundial da Fifa, o que é mais importante: o Real Madrid ganhar dinheiro para caramba ou o Esperance, da Tunísia? O Al Hilal ou o Boca Juniors?
No meu ponto de vista, todos deveriam receber a mesma quantidade de dinheiro. E, se algum receber mais, deveria ser o que precisa mais, não o que já tem mais. E, se o europeu não está feliz com isso, que se dane o europeu. Chega de mais e mais e mais concentração de renda, oras bolas.
A entrevista de Ancelotti mostra que o Real Madrid vai jogar duro com a Fifa. Com uma voz, ameaçou, com a outra mão, recuou, mas por trás dos panos vai travar a batalha que tiver que travar para ganhar mais e mais e mais. E certamente terá os outros europeus gananciosos ao lado dele.
Está claro que os clubes de futebol, e aqui falo dos brasileiros também, já esqueceram faz tempo a verdadeira razão de existir: disputar, competir no terreno de jogo. Sentem-se muito mais à vontade na mesa de negociações, dentro de um prédio envidraçado de escritórios, do que metendo o pé na grama. Que se dane o futebol!
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