Julio Gomes

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Pode ter chegado a hora da Inglaterra na Euro, mas estreia será encardida

Nas casas de apostas, Inglaterra e França começam a Euro-2024 como favoritas ao título. Juntas e à frente de todas as outras. Gosto da visão dos algoritmos. São mesmo as duas seleções a serem batidas. A França está no topo do futebol mundial desde 2016: final de Euro, título de Copa, vice de Copa neste período. Mas e a Inglaterra, por que merece a confiança de todos?

Muitos já quebraram a cara apostando na Inglaterra ao longo da história. Importante ressaltar que o último (e único) título do futebol inglês foi o da Copa de 1966. Eles têm a melhor liga de futebol do mundo há algum tempo, a chegada de estrangeiros melhorou o nível de jogo dos ingleses, o "chutão" deixou de ser a marca registrada do berço do football. Muita esperança foi depositada na geração passada, que tinha Rooney, Lampard, Gerrard, Terry e outros. Antes deles, vieram Beckham, Scholes, Owen. A questão é: esses caras eram realmente, realmente, realmente bons? Ou eram supervalorizados?

Em 2002, 2004 e 2006, Luiz Felipe Scolari, com o Brasil e com Portugal, destruiu os sonhos dos ingleses. Aliás, o jogo de 2006, quartas de final da Copa, que teve expulsão de Rooney (cortesia de um árbitro argentino) e vitória portuguesa nos pênaltis, com direito a Ricardo defendendo sem luva, foi disputado em Gelsenkirshen. O mesmo estádio que abrigará neste domingo a estreia da Inglaterra na Euro-2024, contra a Sérvia. Um estádio amaldiçoado para os ingleses, que nunca engoliram aquela derrota.

Mas voltemos à Inglaterra atual. Por que ela merece a confiança de alguém? Bem, acho que a resposta passa pelo que essa geração atual vem fazendo nos últimos grandes torneios. Em 2018, bateu semifinal de Copa do Mundo, quando ninguém esperava; em 2021, perdeu a final da Euro nos pênaltis para a Itália; em 2022, foi firme até as quartas da Copa e caiu diante da França em um jogo equilibrado e cheio de más decisões do árbitro brasileiro a cargo da partida.

Ou seja, estamos falando de caras que já foram capazes de levar a Inglaterra mais longe do que as gerações anteriores. E que formaram as tais cicatrizes que são importantes no futebol - as derrotas muitas vezes levam às vitórias, se os envolvidos souberem interpretar bem o que aconteceu e sentirem de verdade a dor.

A Inglaterra de hoje tem a mistura que eu gosto para um time ser campeão. Experiência no setor defensivo, juventude e ousadia no ataque. Atrás, caras com Walker, Trippier e Stones são os veteranos. No meio, Rice pode ganhar um companheiro e tanto: Mainoo, o explosivo rapaz de 19 anos que foi a revelação da temporada jogando pelo Manchester United. Na frente, Saka, 22, Foden, 24, e Bellingham, 20, são a juventude prontinha para consagrar Harry Kane.

Experiência mesclada com juventude, um passado recente de torneios firmes, 40 mil torcedores apoiando nas arquibancadas, o melhor jogador da liga alemã (Kane), o melhor da inglesa (Foden) e o melhor da espanhola (ou segundo melhor, se quisermos colocar Vini Jr à frente de Bellingham). O que falta para a Inglaterra? Talvez um supertécnico. Mas quem tem um supertécnico na Euro? Basta Southgate ser menos conservador e medroso do que foi nos últimos torneios, e todas as condições estarão dadas.

Mas, e este é um grande mas, o caminho da Inglaterra começa com uma pedreira. Além de jogar no estádio que traz más lembranças, o English Team estreia contra uma Sérvia muito perigosa.

É o time de Mitrovic e Milinkovic-Savic. Se vocês não puderam ver os jogos do Al Hilal na temporada, saibam que esses dois caras destruíram. Jogaram muita bola e elevaram o nível - ao contrário do que muitos achavam, que a transferência para a Arábia Saudita era absurda e os enterraria. A Sérvia ainda tem Tadic, tem um tal Vlahovic que deve ficar no banco, tem a experiência de ter jogado Copas do Mundo. Faltava a Euro, e os sérvios, orgulhosos como são, sabem bem que fazem história ao jogar a competição europeia como nação independente pela primeira vez (já jogaram como Iugoslávia e como Sérvia e Montenegro).

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É um enorme teste para a favorita Inglaterra. Eu acho que um tropeço na estreia pode acontecer. Mas acho que, mesmo assim, chegou a hora para a Inglaterra. E vocês?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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