Julio Gomes

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Súmula absolve Hulk e mostra que quem tem que ser expulso é o árbitro

O futebol brasileiro é cheio de reclamões. Jogadores mal-educados, habituados a bater boca com árbitros o tempo todo, se sentem autorizados a fazê-lo. Não ajuda o fato de os árbitros também adotarem tom autoritário, não terem o profissionalismo bancado por CBF e clubes e, o principal, levarem cada jogo à sua maneira, sem nenhuma coerência, sem critérios claros que sirvam para todos. É um círculo vicioso. Os jogadores não ajudam, as arbitragens também não, os dirigentes e técnicos menos ainda, e assim vamos.

Hulk é um desses reclamões. Passa do ponto constantemente. Mas, ontem, no Atlético 0 x 4 Palmeiras, não foi o caso. E já deu para ver que não foi o caso desde o início. Pelas imagens, já se via que o cartão amarelo mostrado para ele não era condizente com os gestos corporais do atacante do Galo. O segundo amarelo veio poucos segundos depois.

Hulk saiu de campo, procurou um microfone e esbravejou, pedindo leitura labial para mostrar que ele não tinha ofendido o árbitro. E a súmula assinada por Rodrigo José Pereira de Lima confirma o que disse Hulk. O árbitro não teve coragem de botar ali algo que poderia ser desmentido pelo áudio vazado da comunicação dele com os jogadores no campo, por exemplo. Ou até mesmo leitura labial. Ele não foi xingado nem ofendido.

A súmula do árbitro, a meu ver, inocenta Hulk completamente. E mostra que quem tem de ser expulso é o árbitro, não o jogador. Que pegue uma bela geladeira para pensar um pouquinho no que fez.

Rodrigo José Pereira de Lima estragou um jogo que pode ser decisivo para o campeonato. Um jogo entre dois concorrentes a título. O Palmeiras já merecia a vitória parcial, mas é óbvio que a expulsão de um jogador tão importante, com 30min de jogo, decretou o final da disputa. Árbitros não estão lá para seca e friamente fazerem valer as regras escritas do jogo. Estão lá para arbitrar, para conduzir as partidas, aos olhos da regra e também do bom senso.

O árbitro justificou o primeiro amarelo de Hulk escrevendo que o jogador teria dito "apita logo, car****!". Isso até poderia render amarelo, se sempre fosse assim, em todos os jogos, em todos os campos. No contexto de um jogo de futebol no Brasil, sem qualquer gestual exagerado por parte de Hulk, isso valeria, no máximo, uma chamada de atenção. "Se vier com palavrão para cima de mim, vou te amarelar". No máximo.

O segundo amarelo, então, é pior ainda. Porque resulta em expulsão, o que, repito, muda completamente o jogo (e não é para definir jogos que os árbitros entram em campo, é para administrá-los). O segundo amarelo foi aplicado, segunda a súmula, após o atacante partir em direção ao árbitro "de maneira acintosa, ficando face a face comigo e gritando de forma desrespeitosa".

Na boa. Fala sério.

Está na cara que esse juiz entrou em campo com a predisposição para expulsar Hulk. Eles já tinham histórico de um América x Atlético no Brasileiro do ano passado. É inaceitável que um árbitro faça o que foi feito ontem.

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A CBF deveria retirar os dois amarelos de Hulk. E julgá-lo, aí sim, por ter colocado o dedo no rosto do árbitro após a expulsão - não há nervosismo que justifique. E o árbitro tem que ser "rebaixado" e sair da Série A. Vai apitar jogos menores e tomar maracujina para ficar mais calminho.

Passou do tempo de a arbitragem brasileira adotar critérios claros, ser profissionalizada e que os profissionais, juízes e assistentes, recebam pontuações sérias por acertos e erros no campo, por acertos e erros após intervenções do VAR e que também os árbitros de vídeo sejam avaliados, promovidos ou punidos.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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