Julio Gomes

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Juiz erra em vitória da Alemanha, mas VAR acerta em cheio ao não intervir

O jogo entre Alemanha e Hungria estava ainda empatado sem gols, era uma partida equilibrada. A Hungria havia começado bem, mas a Alemanha já tinha passado a dominar e chegar com perigo. Sai, então, a jogada do primeiro gol, que dá o controle da partida para o time alemão. Gol de Musiala, após passe de Gundogan.

Na jogada, uma enfiada de bola na área para o próprio Gundogan é interceptada pelo zagueiro húngaro Orban. Gundogan não alcança a bola e se choca com Orban, que tenta seguir na jogada, mas, desequilibrado, acaba caindo. O tombo atrapalha o goleiro, que não estava no lance por que também viu falta, depois tenta, mas não segura a bola e a solta nos pés do próprio Gundogan, que recupera e passa para Musiala marcar.

No meu ponto de vista, a falta de Gundogan em Orban é claríssima. O meia alemão não chega na bola, só atinge o corpo do húngaro. A impressão é que, se Orban tivesse despencado na hora, seria marcada a falta. Mas ele tenta seguir, tenta vencer o desequilíbrio gerado pelo adversário, sem sucesso. O árbitro holandês Danny Desmond Makkelie, figurinha carimbada dos jogos de Champions League, não marcou falta.

O VAR analisou a jogada, houve um certo suspense, mas resolveu não chamar or árbitro de campo para rever a jogada. E acertou em cheio ao fazê-lo!

"Mas como assim, Julio? Se a falta é claríssima, como o VAR acertou ao não chamar o juiz?"

E aqui estamos. Em um lance perfeito para explicar como deve funcionar o VAR, o que a Fifa pede, o que a Uefa pede e como nada disso funciona aqui na América do Sul. A Fifa quer um VAR que não interfira no jogo, salvo em lances absolutamente indiscutíveis. Lances objetivos e, usando um termo real, escandalosos. O VAR existe, na visão europeia, para evitar absurdos no campo. E não para o jogo ser reapitado.

Para mim, a falta de Gundogan é clara. E acho que, se revisse o lance, o árbitro de campo marcaria a falta. Mas podem ter certeza que aqui nos comentários deste post já aparecerá gente concordando comigo e discordando de mim sobre a falta. Não é um lance absoluto e escandaloso. Eu consigo entender a visão de quem acha que não foi falta. Por mais frustrante que isso seja, precisamos entender e conviver com um VAR que interfira menos no jogo. Que praticamente não apareça.

É todo o contrário do que rola no Brasil e na América do Sul. Por aqui, os árbitros de vídeo, chefes de comissões de arbitragens e outras pessoas que literalmente apitem no assunto usam o vídeo para mexer o tempo inteiro no jogo. O tempo inteiro! Chamam o árbitro de campo para reapitar, para reinterpretar, o que gera árbitros cada vez mais brandos e omissos em suas decisões. Afinal, eles se sentem "protegidos" pelo VAR. É uma muleta, falando o português bem claro. O que gera o círculo vicioso, já que os juízes se omitem cada vez mais, o que faz com o que o VAR intervencionista chame cada vez mais, e o jogo seja modificado ou reinterpretado cada vez mais.

É preciso entender que é menos nocivo para o jogo que um lance interpretativo passe, mesmo que discordemos da decisão do campo, do que a confusão que o VAR está gerando no Brasil.

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Para mim, a Alemanha foi beneficiada no lance do primeiro gol da vitória sobre a Hungria. Mas é só uma opinião. O árbitro de vídeo precisa pensar, antes de chamar o de campo, em algo maior do que a opinião dele sobre o lance. O árbitro de vídeo tem de aprender a pensar em cada lance de forma mais ampla. "Eu acho isso, mas será que esse é um lance indiscutível, será que o mundo inteiro viu a mesma coisa que eu e preciso mesmo chamar o juiz de campo para fazer a correção?".

Se todos os árbitros de vídeo passarem a se fazer essas perguntas, tudo ficará bem melhor nos campos de jogo. E tem mais um detalhe: os húngaros respeitaram a decisão, sem fazer bolinha nem peitar o árbitro. Educação também faz bem, obrigado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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