Julio Gomes

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Solução para calendário é simples: Brasileiro e Estaduais invertidos no ano

Tite e Abel Ferreira reclamaram do calendário do futebol brasileiro, de como os dois dias de descanso são inaceitáveis e jogadores vão se machucar. O discurso dos técnicos, finalmente, alcançou o nosso, da imprensa, que já aponta para os problemas do calendário há anos e anos, na verdade há décadas. O futebol se transformou em um jogo físico e o domingo-quarta-domingo não cabe mais. Estão reclamando na Europa, onde jogam 60 vezes por ano, o que dizer do Brasil, onde os times mais bem sucedidos jogam 80 vezes.

Minha solução para o calendário do futebol brasileiro é simples: a inversão do Brasileirão com os Estaduais. Começar o ano com o campeonato mais importante e terminar com os menos importantes. Sei que muita gente vai dizer que é mais simples ainda: acabar com os Estaduais. Sou radicalmente contra. O futebol brasileiro atravessa um processo de elitização que começou com a adoção dos pontos corridos como fórmula de disputa, o que gerou muito dinheiro para quem está neles, passou pela ampliação do número de times na Libertadores e pela diminuição dos Estaduais.

O futebol brasileiro surgiu, cresceu e triunfou sendo estadual. Hoje, ele é nacional. Não adianta chorar as pitangas, isso não vai mudar. Assim como a influência da TV na montagem do calendário tampouco deixará de existir. Minha proposta de calendário, portanto, leva em conta essas realidades. O Brasileiro de pontos corridos e 38 rodadas, a Copa do Brasil, a Libertadores, os torneios Fifa/Conmebol no meio do ano, as datas Fifa e a permanência dos Estaduais.

O calendário estará resolvido se ficar da seguinte maneira.

Brasileirão - início na última semana de janeiro, finalização em setembro. Jogos somente aos fins de semana. Ele para em Datas Fifa e aqui estamos falando de somente uma, a do primeiro semestre (março). Quando houver competições de seleções no meio do ano (Copa do Mundo, Copa América), o campeonato para. Em anos assim, o Brasileiro pode ser esticado até outubro. Se a competição de meio de ano for o Super Mundial de Clubes da Fifa, os times envolvidos terão jogos nos meios de semana no primeiro semestre, e o Brasileirão não precisa parar durante do Mundial.

Copa do Brasil - segue como está, com as fases iniciais sendo disputadas somente nos meios de semana em que não houver Libertadores/Sul-Americana. A mudança de calendário permitiria que os clubes da Série A ou envolvidos em Libertadores pudessem participar dela desde o início. Alguém pode argumentar que os jogos da Copa do Brasil no meio de semana gerariam a mesma maratona de domingo-quarta-domingo que temos hoje. Mas aí eu digo que acontece a mesma coisa na Europa e cabe aos clubes entenderem o que é mais importante, o campeonato de pontos corridos ou a Copa. A janela para poupar atletas em uma competição ou outra está dada. As fases de quartas de final, semifinais e final da Copa do Brasil deveriam ficar para após o término do Brasileiro, ou seja, em outubro e novembro, "concorrendo" com os Estaduais. Novamente, haverá a janela para os técnicos e clubes escolherem o que priorizar.

Libertadores e Sul-Americana - é o calendário Conmebol que já conhecemos, com jogos no meio de semana de abril a junho, mata-mata em agosto, setembro e outubro. Assim, a fase aguda destes torneios irá ser disputada nos meios de semana que alternarão com a reta final do Brasileiro. Vai ter time disputando tudo, vai ter time já fora. É o mesmo cenário das competições europeias (da Uefa e ligas domésticas), que se dá entre fevereiro e abril para eles.

Estaduais - as federações terão o ano todo para criar calendário, se acharem isso conveniente, para que os clubes que não tenham calendário nacional possam jogar Estaduais em uma espécie de classificação para a fase final deles, quando os clubes "nacionais" se juntariam. A participação dos clubes de Séries A a C só começaria em setembro. Ou seja, Estaduais disputados em setembro, outubro, novembro, invadindo até o meio de dezembro. Enquanto houver Brasileiro (setembro), os jogos dos Estaduais serão disputados apenas nos meios de semana. Quando acabar o Brasileiro, Estaduais seriam jogados nos fins de semana e o haveria o respeito pelos clubes que estiverem envolvidos nas finais de Copa do Brasil e Libertadores. Assim, novamente, os clubes poderão escolher as prioridades. Se não quiserem jogar domingo-quarta-domingo, podem escolher entre Brasileiro e Estaduais ou entre finais das Copas e Estaduais. Detalhe: os Estaduais não precisam parar nas Datas Fifa do segundo semestre, que são três (setembro, outubro e novembro), o que desafoga o calendário.

Percebam que a simples inversão tornará muito mais fácil a tomada de decisões dos clubes em relação às prioridades. Seguiríamos tendo 80 jogos por ano, mas estaríamos espalhando esses jogos de forma mais inteligente e permitindo que os clubes escolham mais fácil e logicamente onde poupar atletas, para que eles tenham mais tempo de recuperação.

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Os clubes que estiverem envolvidos em finais das Copas continentais ou do Brasil não precisarão abrir mão de jogos do Brasileiro, abrirão mão dos Estaduais. E, quem não estiver vivo em tais competições, poderá jogar o Estadual com força máxima, se assim desejar. Quem não estiver nas finais dos Estaduais, poderá ter um período mais longo de férias e de pré-temporada. É uma escolha que não existe hoje para ninguém. Além do mais, quem não tiver vencido nada no ano, sempre terá o Estadual para ganhar - o que valoriza os torneios, em vez de tê-los esvaziados, como é hoje.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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