Julio Gomes

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Genialidade salva a Inglaterra. Não seria a Premier League supervalorizada?

Uma genialidade de Jude Bellingham, um gol de bicicleta aos 50 minutos do segundo tempo, e a história mudou. A Inglaterra, virtualmente eliminada da Euro, se salvou da derrota e levou para a prorrogação. Que já começou com o gol de cabeça de Kane. E, como a Inglaterra não é o Real Madrid, não acabou com um 4 a 1 impositivo contra uma seleção destroçada moralmente. Não, não. A prorrogação foi toda da Eslováquia, que por um triz não chegou ao gol que levaria aos pênaltis. Sim, a Eslováquia.

A Inglaterra sobreviveu e acabou com a vitória, Gareth Southgate segue empregado, e o jogo nas quartas de final será contra a Suíça, que ontem bateu a Itália. Se a Inglaterra jogar como jogou hoje e a Suíça jogar como jogou ontem, não terá como evitar o desastre inglês.

São quatro péssimos jogos em sequência. A Inglaterra surpreende? Eu, dessa vez, caí no conto do vigário. Achei que tivesse chegado a hora do título. Agora, já acho que estou enganado. Eu sempre digo que apostar na Inglaterra é mais ou menos que nem ficar apostando contra o Real Madrid: perda de tempo. A Inglaterra sempre foi uma seleção perdedora, tanto que nunca foi campeã da Europa. Do mundo, só lá em 1966. E não é só não ganhar. É não ganhar, não encantar, não chegar perto, não influenciar. Em suma, não ter importância alguma para o desenvolvimento do jogo, para o esporte.

Os dedos serão todos apontados para Southgate, o técnico conservador, que não tem conseguido fazer essa incrível geração inglesa jogar bola. Sim, ele tem culpa no cartório. Mas quero provocar uma reflexão aqui. Será que não ficamos inebriados com a Premier League?

A Premier é chamada de "melhor campeonato de clubes do mundo". E eu não estou tão certo disso como a maioria. No meu ponto de vista, o grande lance da Premier League é como os jogos são conduzidos pelas arbitragens. Que erram, engolem faltas, mas este é o preço de deixar o jogo correr. Os árbitros interferem pouco ou quase nada nas partidas, o VAR menos ainda, os jogadores têm ou adquirem ou simplesmente respeitam uma cultura de não reclamar, não perder tempo e não tentar enganar os árbitros - o que é meio inútil, porque eles não marcam nada mesmo. Esse jeito de conduzir jogos permite que o futebol flua.

Mas isso não quer dizer, necessariamente, que os times sejam todos timaços ou que os jogadores sejam todos craques. É a dinâmica de jogo e a atitude dos atletas que são legais, não necessariamente a qualidade. Se quiserem transformar isso em números, deem uma olhada nos resultados de Champions League e Europa League neste século.

Será que o suposto domínio da Premier League ou o não suposto, mas factual, domínio financeiro se transforma em um massacre no continente? Comparem, por exemplo, com o que os clubes brasileiros têm feito na Libertadores e na Sul-Americana com o poderio financeiro construído. Os ingleses fazem na Europa a mesma coisa? Não, não fazem. E não fazem porque não são tão melhores assim, se é que são melhores.

Que os jogadores ingleses são supervalorizados, já sabemos faz tempo. Sempre foram. Mas quero fazer uma provocação aqui: será que a Premier League não é igualmente supervalorizada? Ah, em tempo. Os gols da classificação inglesa foram marcados pelos únicos que não jogam lá. Um é do Bayern de Munique, o outro é do Real Madrid - e saiu do país aos 17 anos para crescer como jogador no futebol alemão. Me sinto um pouco oportunista com o comentário. Mas, como diriam na Inglaterra, "a fact is a fact".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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