Julio Gomes

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CR7 é salvo por goleiro, e Portugal tem novo herói exatos 18 anos depois

Portugal mereceu passar da Eslovênia? Não, eu diria que não. Foi um jogo péssimo de Portugal nas oitavas de final da Euro, horroroso. Um time estático, sem movimentações, sem ideias, com um técnico, o espanhol Roberto Martínez, que fez todas as alterações possíveis e imagináveis de forma equivocada. Mas aí apareceu um rapaz de 24 anos de idade, nascido na Suíça, e salvou todo mundo. Salvou Pepe, salvou Cristiano Ronaldo, salvou Martínez, salvou todo mundo.

Enquanto Portugal tocava a bola de lado, com um monte de jogador parado fazendo uma linha de ataque que era a coisa mais fácil do mundo de se marcar, a Eslovênia fazia o jogo típico de quem está pronto para matar no contra ataque. Teve dois dados de presente por Pepe. Um porque Pepe não consegue competir na corrida, o outro porque o zagueiro luso-brasileiro engrossou feio mesmo, já na prorrogação, e deu um presente daqueles épicos. Sesko teve as duas bolas para fazer o plano de jogo da Eslovênia, melhor executado, dar certo. Na primeira, ele errou o chute. Na segunda, Diogo Costa fez o primeiro milagre da noite.

Diogo Meireles da Costa é goleiro do Porto. Nasceu na Suíça, onde vivem muitos portugueses em busca de condições melhores de vista. Basta um passeio de trem pela Suíça para ver dezenas de bandeiras portuguesas, mostrando que ali vive uma família lusitana. O pai de Diogo Costa voltou a Portugal quando o menino tinha 7 anos, em 2006, ano em que Portugal chegou à semifinal da Copa do Mundo da Alemanha.

Exatamente 18 anos atrás, no dia 1o de julho de 2006, Portugal eliminou a Inglaterra nos pênaltis nas quartas de final da Copa - após um 0 a 0, com o goleiro Ricardo pegando dois pênaltis dos ingleses. Hoje, um outro goleiro transformou-se em herói nacional.

(nota do autor: Ricardo havia defendido pênaltis ingleses sem as luvas na Euro de 2004, dois anos antes; em 2006, foi herói, mas com luvas, ao contrário do que eu havia contado aqui).

Fã de Vítor Baía, Diogo Costa tinha 11 anos quando foi jogar no Porto. Viveu todas as etapas de formação, jogou na seleção nacional desde o sub-15 e o caminho natural era estar onde está.

O primeiro milagre dele em Frankfurt, no mano a mano com Sesko, lembrou o famoso Diego Souza x Cássio de 2012. O atacante esloveno correu sozinho, sem ninguém para incomodá-lo e bateu (tinha mil coisas para fazer, era só escolher, ele preferiu finalizar baixo, rasante). A diferença para o lance do Pacaembu foi que Diogo Costa fez a defesa com o pé, abrindo o espacate, em vez de voar na bola com a mão, como Cássio.

Portugal tinha um domínio mentiroso do jogo, que acabava em cruzamentos sem sentido. No primeiro tempo, Nuno Mendes e Rafael Leão foram os melhores pela esquerda, no segundo quem se destacou foi Cancelo pela direita. Cristiano Ronaldo teve chances na primeira etapa, bateu uma boa falta na segunda, na única grande defesa de Oblak. Bruno Fernandes era um peso morto em campo, ao contrário de Vitinha, que dava alguma movimentação. Cristiano, parado no ataque, parecia aqueles centroavantes que tínhamos aos montes no Brasil, lento, ali na área, olhando o jogo passar para lá e para cá, esperando uma bola para ver se chega à consagração. É tipo jogar com 10.

Numa rara jogada de infiltração, já na prorrogação, Diogo Jota foi para a área e trombou com a defesa da Eslovênia. Nada a marcar, só que o juiz deu pênalti. No meu ponto de vista, mal marcado, mas o VAR acertou ao não chamar - interpretação pura, não tem que se meter. Cristiano Ronaldo, zero gols na Euro, foi virar herói. Nem bateu tão mal, foi no cantinho, mas Oblak, um goleiro que é espetacular, porém com poucos pênaltis defendidos no curriculum, voou para pegar.

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Cristiano Ronaldo chorou no intervalo da prorrogação. No meu ponto de vista, o técnico, que já havia tirado inexplicavelmente de campo Vitinha e Rafael Leão, que estavam bem, cometeu o terceiro grande erro. Sim, tinha que ter tirado CR7. O cara não estava jogando nada e estava visivelmente abalado emocionalmente. Estava pensando no pênalti, não no jogo. Não importa se é Pelé, Cristiano ou Jesus Cristo, o técnico precisa assumir responsabilidades, coisa que Roberto Martínez nunca fez, na Bélgica ou agora em Portugal. Coragem não é a palavra para melhor defini-lo.

Veio o primeiro milagre de Diogo Costa no segundo tempo da prorrogação, após a pixotada de Pepe. Na decisão por pênaltis, Diogo defendeu três cobranças seguidas, as três primeiras da Eslovênia. Cristiano, Bruno e Bernardo Silva marcaram, e Portugal levou por 3 a 0. O goleiro salvou Pepe, salvou Cristiano Ronaldo, salvou o técnico, salvou Portugal.

Tal qual Ricardo, 18 anos atrás, na mesma Alemanha. E tal qual ocorreu naquela Copa, no dia 5 de julho Portugal enfrentará a França. Naquela ocasião, Portugal dançou na semifinal na Copa. Nesta sexta-feira, Cristiano Ronaldo, o único que estava em campo em 2006, tem a chance da vingança nas quartas de final da Euro. Graças a Diogo Costa, o menino que tinha 7 anos e voltava para casa em 2006. E hoje chorou ao lembrar tudo o que passou até a glória.

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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