Rei de Paris e estrela olímpica: Nadal no lugar certo para um gran finale
Mais de 10 mil atletas vão competir a partir desta semana em Paris pela glória olímpica. Mas inegavelmente alguns nomes são mais nomes que outros. São as grandes estrelas dos Jogos, os homens e mulheres que o mundo inteiro quer ver, independente da modalidade em que competem. O basquete americano sempre chama a atenção, e Lebron James estará lá empunhando a bandeira dos EUA na abertura; o atletismo e a natação, talvez as modalidades mais simbólicas das Olimpíadas, terão estrelas como a velocista jamaicana Shelly-Ann Fraser ou a lenda das piscinas Katie Ledecky; na ginástica, um dos esportes mais assistidos, Simone Biles estará de volta à cena e terá como grande concorrente nossa Rebeca Andrade.
Mas é no tênis que estarão dois dos nomes que mais ouvimos falar neste século. Novak Djokovic, o maior campeão de Grand Slams da história, com 24 títulos, não tem um ouro olímpico na carreira. Bateu na trave algumas vezes, com derrotas nas semifinais em 2008, 2012 e 2020. Tem um bronze, apenas. O "apenas" fica por conta do colunista, considerando o que foi e ainda é a carreira de Djokovic.
O outro nome, é claro, é Rafael Nadal. Que não disputará simples e jogará duplas ao lado de Carlos Alcaraz, atual campeão de Roland Garros e Wimbledon, mas que não joga uma partida de duplas já faz tempo. A dupla "Nadalcaraz", como apelidou o próprio garoto de 21 anos, vai colocar lado a lado tenistas de gerações e estilos diferentes e é um dos atrativos em Paris.
Nadal é, sem dúvida, um dos três esportistas mais importantes que estão na Vila Olímpica. Os outros atletas param para tirar fotos com ele e guardar o momento para a eternidade. Assim como era Roger Federer em 2008, quando o espanhol foi lá e tascou o título e a medalha de ouro. Em Pequim, Federer, Kobe Bryant e Ronaldinho Gaúcho era os "tietados" no meio de milhares de competidores. Agora, são Nadal e Lebron.
O tênis é um esporte que atrai mais a atenção do que outros ao longo do ano não-olímpico, o que faz desses caras grandes estrelas mundiais. Além disso, os torneios olímpicos do tênis têm sido marcados por batalhas épicas e inesquecíveis. Nadal ganhou 14 títulos de Roland Garros, estará jogando na sua terra, no seu saibro, no seu lugar predileto. E com um adendo: pode ser que anuncie a aposentadoria, aos 38 anos, após a disputa do torneio olímpico. Que história poderia ser melhor do que mais uma medalha na conta?
Além da simples em 2008, Nadal já tem um ouro em duplas, conquistado no Rio de Janeiro, em 2016, ao lado de Marc López. Na época, Alcaraz era um menino de 13 anos de idade, feliz pelo título dos compatriotas. Agora, estarão juntos.
As duas medalhas de ouro de Nadal (e também a de Marc López, por incrível que pareça) estão expostas no museu que Nadal montou em Manacor, sua cidade natal, na ilha de Mallorca. Por acaso, é onde vim passar férias com a família e aproveitei para dar um pulinho em Manacor e conhecer a Nadal Academy, onde fica também o museu.
O legado é simplesmente impressionante. Nadal poderia ter montado sua academia em qualquer lugar do mundo, mas ele nunca viraria as costas às origens. A academia tem colégios primário e secundário, 43 quadras de tênis (23 de cimento e 20 de saibro, um punhado delas cobertas), quadras de padel, squash, poliesportivas, campo de futebol, piscina, academia, toda a estrutura médica, três restaurantes e mais alguma coisa que devo estar esquecendo. Pode receber turistas interessados em hospedagem e a chance de bater uma bola como também pode receber tenistas do mundo todo, de todas as idades, em busca de crescimento - com a opção de estudos no mesmo local. É simplesmente impressionante. Devem haver pouquíssimos países do planeta com uma estrutura de alto rendimento como esta.
O museu, que qualquer um pode visitar, tem dois andares. Um com experiências interativas e dinâmicas em simuladores. E outro em que estão todos os troféus de Rafa Nadal - são 92 títulos de simples e 11 de duplas, haja estante. Mas não só isso. Estão expostos kits completos - uniformes e pares de tênis - usados por Nadal em todas as finais dos 22 Grand Slams que ele conquistou. E também presentes recebidos de grandes atletas da Espanha e do mundo. No centro do salão está uma Renault usada por Fernando Alonso no título mundial de F1 de 2005, ao lado está uma camiseta de Michael Jordan usada com o Dream Team de 92, par de tênis de Pau Gasol, campeão do mundo de basquete com a Espanha, macacão de Marc Márquez, o gênio das motos, uniformes assinados por Federer e Djokovic e muito mais.
Em uma das paredes, um painel mostra como a carreira de Nadal se desenvolveu na ATP. A primeira vitória como profissional, com 15 anos de idade, a primeira vitória sobre um top-10, aos 16, seu primeiro momento de heroísmo na Davis e a primeira partida (e vitória) contra Federer, aos 17, o primeiro título de ATP, aos 18, e, claro, o primeiro Roland Garros, aos 19. Nadal ficou ininterruptamente no top 10 do ranking mundial entre 2005 e 2022. É de cair o queixo. Certos estão os atletas que forem lá pedir uma selfie com o Toro.
Tudo o que está exposto em Manacor poderia estar exposto em Madrid ou Paris ou Nova York, e certamente um "Museu Nadal" em uma destas cidades traria ainda mais renda. Claramente, não é o ponto. Na carreira, Nadal colecionou vitórias e títulos que lhe deram mais de 120 milhões de dólares só em prêmios. A onda não é ganhar mais e mais e mais dinheiro, é devolver ao tênis o que o tênis lhe deu.
Em Manacor, Rafael Nadal é Deus. A foto dele está em todas as esquinas, há referências e mais referências para quem colocou a cidade no mapa do mundo. Em Paris, ele é o Rei.
O trajeto Mallorca-Paris, que eu terei o prazer de fazer em breve, é o trajeto da vida de Nadal. Da sua terra para a outra terra. Do nascimento à glória. Depois dos Jogos, talvez seja a hora de voltar de vez. E talvez acrescentar alguma coisinha de Alcaraz no museu.
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