Basquete em Lille: Torcida 'americanizada', decepção de sempre com o Brasil
Bastaram umas bolas de três, alguma defesa mais dura e o jogo estava empatado: 40 a 40. No estádio Pierre Mauroy, pertinho de Lille, no norte da França, quase 24 mil pessoas assistiam ao jogo do "azarão" Brasil contra a Alemanha, campeã do mundo de basquete masculino. Um grupo de uns 30 brasileiros, 50 no máximo, entre eles este escriba, engolia a torcida alemã.
Bem, de Lille a Dusseldorf, a maior cidade alemã por perto, são 300 km, umas três horas de viagem. Tinha alemão pra caramba no estádio. Isso mesmo, estádio, não ginásio. É o estádio em que joga o Lille, mas eles precisam de pouco tempo para fechar o teto e transformar em ginásio. Uma maravilha. Lille fica a uma hora de trem de Paris. Eu peguei duas horas de estrada. Demoramos um pouquinho e achamos uma espécie de praça em que outros motorhomes estacionam e montam base. São as maravilhas da conectividade.
O basquete é um dos esportes mais apaixonantes e quentes quando se trata de arquibancada. O único que se compara ao futebol, e na Europa as torcidas de basquete são muito mais "raiz", já que o futebol virou essa coisa de arena, esse ambiente de teatro. Nos EUA, como vemos pela TV, o jogo não tem nada de quente. São só aquelas baboseiras nos intervalos, telões mostrando gente dançando e "orquestrando" o público. Na Olimpíada, está tudo "americanizado". E os alemães não são sérvios nem turcos nem gregos. Decepcionaram. Só palminha para cá, palminha para lá. E gritos, vejam só, em inglês: "De-fense, de-fense. Let's go Deutschland, let's go". Ah, tenha dó. Pelo menos torçam em alemão! "Defense" não dá, me desculpem.
E daí que o time brasileiro, raçudo, fez a torcidinha, que estava lá junta meio que por coincidência, já que ninguém se conhecia, tomar conta do ginásio.
É curioso como o futebol é a coisa menos importante da Olimpíada, mas é o esporte que permite a identificação de paisanos. No caso dos brasileiros, em meio à camisa amarela da seleção estão as duas clubes: Vasco, Fluminense, Botafogo, Sport, Náutico, Corinthians, uma bandeira do Fortaleza atrás de uma das cestas, uma da Portuguesa lá no fundão. E come solto o "le, le, le ô, le le ô, le le ô, le le ô, Bra-sil!".
Bem, durou pouco. Sabemos bem como é com o basquete masculino do Brasil nesses eventos, né? Olimpíada, Mundial, não importa. Não existe modalidade mais do "quase" que o basquete masculino. É a mais irritante, eu diria. Seja na época em que tinha time bom, seja agora, com jogadores desconhecidos até dos brasileiros, sempre fica no quase. Você meio que sabe que uma hora vai dar ruim. E dá ruim mesmo.
A Alemanha começou bem o terceiro quarto, abriu vantagem, mas o Brasil buscou e ficou a dois pontos. Teve duas bolas para empatar, jogadas limpas, e falhou nas duas. Em uma delas, Caboclo claramente sofreu falta - pelo menos da visão 100% imparcial da arquibancada, setor A1, fileira 38, cadeira 17, valor de 50 euros. Mas o juiz deu falta de ataque.
Um rapaz com a camisa da Portuguesa puxou o coro: "Ei, juiz, vai tomar no c***!", para espanto de suas filhas ao lado, que se divertiam com aquele absurdo. Os outros 50 em volta entoaram juntos as palavras amorosas. Agora fui pesquisar e me deu certa satisfação saber que um dos árbitros era espanhol e outro era mexicano. Eles entenderam, pois.
E os alemães aproveitaram. Schroeder, um nota 5 da NBA, que vira nota 8 com a Alemanha, tomou conta do jogo e engoliu o Brasil. Fez 20 pontos e foi o cara. O Brasil não tem mais jogadores de tal tamanho. Entra o nervosismo, os caras sequer percebem que o saldo de pontos era importante e, mesmo que não desse para ganhar, perder de pouco era crucial. Foi uma pelada no fim. E aí os 20 e tantos mil alemães saíram felizes do estádio, muitos entraram em seus motorhomes e voltaram para casa.
Eu tomei uma cerveja e voltei para o meu. Para dormir. Porque nesta quarta é dia de torcer para o Sudão do Sul.
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