Coquetel insuportável do futebol: Racistas, omissos e policiais violentos
Só nesta semana, tivemos confrontos da polícia militar de São Paulo com torcedores do Nacional, do Uruguai, no Morumbi, e dos policiais de Minas com a torcida do San Lorenzo, em Belo Horizonte, no estádio do Atlético.
Nunca se sabe ao certo como essas coisas começam. Possivelmente algum idiota imitou macaco para "provocar" a torcida brasileira, a polícia entrou em ação e o pau cantou. É um coquetel insuportável. Às vezes não vai ninguém preso, às vezes quem apanha é quem não fez nada, às vezes algum vai preso e logo a Justiça libera.
Os racistas se aproveitam da impunidade gerada por estar em um estádio, no meio de tanta gente. Eles possivelmente sempre estiveram na área, mas agora têm sido filmados, porque todo mundo tem uma câmera, e expostos. Será que só agora estamos vendo o que sempre aconteceu? Ou será que tem acontecido com mais frequência justamente porque os atos têm sido mostrados e as pessoas se sentem "à vontade" e até querem aparecer?
Vivemos, é sempre bom lembrar, a era dos idiotas. Eles perderam a vergonha de ser idiotas. Na política, nas escolas, no esporte ou nas arquibancadas. Qualquer um se sente empoderado para falar e fazer barbaridades mundo afora, se autointitular pastor, coach, jornalista, patriota, influencer. Depois, chamam de "liberdade de expressão".
Os racistas estão aí, e a cada semana vemos mais coisas assim nos jogos das competições sul-americanas quando há times brasileiros em campo. E a omissão das autoridades dos países em volta e, claro, dos clubes, federações nacionais e da Conmebol é notável. Os caras imitam macaco e ninguém faz nada institucionalmente. Não há punição para os clubes, para as torcidas, para os indivíduos. Não importa se o governo é de esquerda ou de extrema-direita, como é o caso da Argentina, não importa o tipo de político que toma conta do Uruguai, do Chile ou até, vejam só, do Peru. Ninguém faz nada.
É triste, muito triste, observar como governos e clubes sul-americanos perdem a chance de educar as pessoas. De entender e explicar o que é o racismo real do dia a dia. A CBF não faz muito, a Conmebol não faz nada.
E aí chegamos à nossa realidade, que pode até ser melhor no discurso contra o racismo e algumas ações práticas e afirmativas, mas que é suficientemente triste. O racismo estrutural da nossa sociedade está aí e talvez a melhor medida disso seja a violência policial contra jovens negros. No que toca o futebol, a truculência policial sempre se fez presente e qualquer pessoa que vá a um estádio sabe bem do que estou falando.
Muitos policiais parecem que vão ao serviço em dia de jogo louquinhos para ver o pau cantar e poder espantar seus demônios. Pudera, sequer deveriam estar lá. Precisar de polícia para organizar um evento festivo é o fim da picada. Claro que não são todos. Mas os oficiais violentos estão lá em bom número, em todos os Estados do Brasil, em alguns agindo com mais violência, em alguns com menos. Se com a população local a polícia já resolve na porrada, imaginem só com estrangeiros folgados. E muitos deles são folgados mesmo, não necessariamente racistas, porque não respeitam militares depois das trágicas ditaduras que assolaram esses países. Desafiam a polícia - e levam na orelha.
É um círculo vicioso. Policiais treinados para a agressão e o combate, não para a mediação. Torcedores racistas misturados com torcedores folgados e com gente que só quer ver um jogo de futebol. Autoridades que nada fazem ou nada entendem. Só nos resta torcer por eliminatórias entre times brasileiros na Libertadores, como serão Fluminense x Atlético e Botafogo x São Paulo. E esperar pela próxima pancadaria.
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