Julio Gomes

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Flamenguista pode não amar, mas Tite é o ideal para os jogos duros do ano

Tite é competitivo. Sempre foi um técnico bom de mata-mata, típico representante da escola gaúcha - a mais forte e eu diria até que dominante no futebol nacional, e isso se deu basicamente porque, aqui, o resultado se sobrepõe a qualquer tipo de estilo. A estética não vale mais nada no Brasil. E a escola gaúcha despreza a estética, mas entrega resultados.

O torcedor brasileiro, de uma forma geral, vive em constante paradoxo. Fala de jogo bonito, gosta das individualidades, gosta de ver craques, mas é apaixonado por um 1 a 0 apertado, desde que seja para seu time. Com a seleção brasileira, a relação é de cobrar tudo aquilo que não se cobra nos clubes. Ao time do coração, basta vencer. A seleção precisa vencer e convencer. Neste cenário, Tite passou por uma certa repaginação, tentou montar um Brasil ofensivo, que tivesse mais a cara do que sempre foi o futebol brasileiro. Deu certo de forma geral, deu errado nas Copas. Nunca pareceu natural.

A relação do torcedor com o Flamengo guarda algumas semelhanças com o que vemos na relação do torcedor com a seleção. O flamenguista quer se divertir no estádio. Se tem time bom à disposição, o plano é ganhar e golear. O pragmatismo não é muito a onda do carioca, de forma geral. Então muitos desconfiaram da chegada de Tite e seguem desconfiando da chance de sucesso.

Mas vejam bem. Qual o papel do Flamengo hoje no futebol brasileiro? O Flamengo é o melhor elenco há muitos anos, é o clube que tem mais torcedores, mais dinheiro e que está sozinho, em uma liga só dele, quando se trata de capacidade de investimento. É tanta diferença que se dá ao luxo de cometer erros, mandar treinadores embora, só não criou uma dinastia nos anos recentes porque outros clubes trabalham melhor.

Qualquer técnico mais ou menos é capaz de pegar o Flamengo e ganhar jogos - até por goleada. Em um campeonato como o Brasileiro e mesmo nos torneios de mata-mata, o Flamengo terá uma vantagem técnica nítida contra quase todos os adversários. Só que há meia dúzia de partidas durante o ano que basicamente determinam o teu nível de sucesso na temporada. São os jogos decisivos, a hora H, seja no mata-mata, seja em uma reta final de pontos corridos. Os jogos grandes, em que realmente o resultado é muito mais importante do que a estética ou a diversão. Os jogos táticos, em que decisões importantíssimas são tomadas. E aqui entra Tite.

Tite pode não ser o técnico ideal para o Flamengo ao longo de 60 jogos da temporada. Mas ele é certamente um grande nome para os 10 jogos importantes. Não, não é garantia de vitória - ninguém é. Mas é garantia de competitividade e estratégia.

A partida de ontem, contra o Bahia, era de enorme risco para o Flamengo. Como também era o confronto contra o Bolívar, na Libertadores. O Flamengo chega a este momento da temporada com desfalques, mal fisicamente e com resultados e atuações que não empolgam o torcedor. Consequentemente, são geradas ondas e mais ondas de críticas neste mundo virtual que hoje passa horas e horas e horas e horas falando (só) de Flamengo. É uma corneta constante e onipresente.

O Bahia tem um bom time, confiante, mais inteiro fisicamente e, jogando em casa, tinha a obrigação de amassar o Flamengo na intensidade de jogo. Mas Tite conseguiu tirar a velocidade da partida, montar o time para fazer uma partida inteligente, tática, de atenção defensiva e que pudesse fazer o time sair da Fonte Nova vivo na eliminatória. Isso, Tite faz muito bem. Talvez melhor do que ninguém. O Flamengo não só saiu vivo, mas saiu com uma vitória por 1 a 0 que lhe dá grande vantagem na Copa do Brasil. Era um dos jogos duros, grandes, importantes do ano. Quando tem que ter técnico de verdade no comando.

As últimas semanas não foram de brilho nem de goleadas nem de Carnaval, mas o Flamengo de Tite está com um pé na semifinal da Copa doméstica, está nas quartas da Copa internacional e segue absolutamente firme na disputa pelo título dos pontos corridos. Querem mais o quê? Tite não é treinador festivo. Tite é o técnico ideal para certos jogos que o Flamengo sempre fará na temporada, pelo poderio que tem. Os jogos que realmente valem.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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