Julio Gomes

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A 'nova Champions League' mostra que modelos históricos podem e devem mudar

Foi um sorteio meio esquisito e há de se confiar nos sistemas - torcedores e dirigentes de futebol costumam desconfiar de tudo, já sabemos. Mas o fato é que a "nova Champions League" arrancou com o sorteio eletrônico, com ajuda do computador, que definiu os adversários de cada time na primeira fase. Chamávamos de fase de grupos, agora é "fase de liga". A tabela exata, rodada a rodada, será divulgada no sábado. Também com ajuda do computador, que já conhece os interesses das TVs do mundo todo.

À primeira vista, parece complicado, mas não é. Por muitos anos, a Liga dos Campeões tinha oito grupos com quatro equipes, que jogavam entre elas para duas se classificarem para as oitavas de final. Agora, são 36 times em vez de 32. Cada um fará oito jogos (em vez de seis) e não há mais grupos. Ou seja, serão oito adversários diferentes. Vão somando pontos e isso vai gerar uma classificação geral. Os oito melhores vão para as oitavas de final, os 16 times subsequentes (9o ao 24o) farão um mata-mata entre eles para ver quem passa para as oitavas. Nada como um mata-mata a mais! E, a partir daí, tudo como antes. Com uma diferença: a classificação na "fase de liga" posicionará os times nas chaves de oitavas em diante.

Lembram daquela coisa da Libertadores? Ao final das fase de grupos, a classificação ordenava os times antes das oitavas. A Champions será parecida, mas com um sorteio (sempre tem que ter um sorteio!) mandando os pares de times para um lado ou outro da chave. Ou seja, entre primeiro e segundo colocados gerais, um vai pra cada lado. Entre terceiro e quarto, um para cada lado. Entre quinto e sexto, um para cada lado. E assim por diante para a definição dos playoffs e das oitavas.

É bem simples, na verdade. E dará uma melhorada significativa no torneio. Porque a verdade é que a fase de grupos já tinha ficado bastante chata. O abismo entre clubes europeus aumentou nos últimos anos e eram raros os grupos interessantes e de difícil previsão. Até havia um clássico ou outro, mas eram jogos pouco relevantes, que meramente definiam quem ficava em primeiro e segundo no grupo.

Com o novo formato, os times enfrentarão oito adversários diferentes, em vez de três. Isso criará mais variedade de jogos bacanas. Com o sorteio de ontem, já temos garantidos na fase de liga os seguintes jogos: Real Madrid x Borussia Dortmund (repetição da última final), Liverpool x Real, Real x Milan, Manchester City x Inter (final de 2023), PSG x City, Juventus x City, Bayern x PSG, Barcelona x Bayern, PSG x Atlético de Madrid, Arsenal x PSG, Milan x Liverpool, Inter x Arsenal...

Enfim, vocês já entenderam. Haverá mais jogões e eles significarão mais para os times e para o torneio do que os grupos como eram. É claro que os times que estiverem garantidos entre os oito primeiros poderão poupar aqui e ali. É claro que times no meio da tabela, garantidos nos playoffs, mas sem chances de entrar direto nas oitavas, podem também fazer jogos de pouca importância. Junto com os jogões, haverá "imperdíveis" Brest x Sturm Graz, Bologna x Shakhtar e Slavia Bratislava x Dínamo de Zagreb.

Sim, continua existindo o risco de termos jogos que significarão pouco ou nada. Mas já era assim nos grupos. Só saberemos a dinâmica da "nova Champions" na prática.

A reação da Uefa não se deve ao interesse técnico, mas financeiro. Os maiores e mais poderosos queriam (ainda querem) criar a tal Superliga, ficar com todo o dinheiro, nada disso de ficar dividindo. A Uefa teve muita sorte de os torcedores ingleses terem literalmente impedido seus clubes de se juntarem ao movimento liderado por Real Madrid, Barcelona e Juventus. E se adaptou. Criou um formato que foi pensado, estudado e que vai durar pelo menos três anos. Possivelmente, precisará de um aprimoramento aqui e ali, já que a prática muitas vezes deixa a teoria falando sozinha. Claro, precisou também distribuir mais dinheiro e criar mecanismos que sirvam de "cala boca" para os grandes.

De qualquer maneira, é fato que modelos de campeonatos podem e devem mudar, independente das tradições e vontades deste ou daquele. Estamos em um movimento em que os torneios europeus ocupam quatro semanas a mais de calendário e vão espremendo os chatérrimos pontos corridos domésticos, em que todo mundo sabe quem será campeão. Vários campeonatos europeus estão, pouco a pouco, se mexendo para criar mais emoção e duelos diretos: raramente para título (como na Bélgica), mas já frequentemente para definição de acesso e rebaixamento.

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Os Estaduais deles, ops, os campeonatos domésticos fatalmente terão de se ajustar para trazer mais emoção, mais indefinição. Nem que o ajuste seja uma redução substancial de times e calendário. Pode ser que ainda demore 50 anos, mas esse dia chegará.

Para a Champions League, já chegou. E tem tudo para ser legal!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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