Julio Gomes

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Por que só a seleção brasileira foge do sistema com três zagueiros?

A Argentina, campeã do mundo, da Copa América, de tudo nos tempos de Lionel Scaloni, fugiu da máxima do "em time que está ganhando, não se mexe". Sem Messi, e cada vez menos a Argentina terá Messi, começou a partida contra o Chile, pelas eliminatórias, com uma linha de três zagueiros: Otamendi, Romero e Licha Martínez. E não escolheu entre Julián Álvarez e Lautaro Martinez - começaram os dois juntos no ataque. São mudanças que podem se manter ou não, mas o fato importante é que uma seleção vencedora está mudando e testando.

Só o Brasil não muda. Todo mundo já tentou ou joga com linha de três atrás, mas o Brasil se recusa. Tite fez uma tentativa minúscula, de uma partida aleatória, para concluir que "não dá certo". Fernando Diniz não tentou, Dorival Jr tampouco e, pelo que apurei, nem passa pela cabeça tentar.

Nos últimos anos todos, pegue qualquer escalação da seleção brasileira nos últimos anos e enumere, de 1 a 11, o melhor jogador até o pior jogador. Os laterais sempre aparecerão nos números 10 e 11 da lista.

A seleção tem ótimos zagueiros, defensores acostumados em seus clubes a jogar em linha de três. Um desses zagueiros, Marquinhos, tem mobilidade para atuar por um lado ou pelo outro, como um falso lateral quando necessário, para cobrir qualquer que seja o velocista da outra equipe. Militão, idem. Temos um volante, André, mais do que acostumado a atuar como zagueiro e a ser o primeiro homem da saída de bola. Há inúmeras opções que poderiam ser testadas jogando com nomes cmo André, Marquinhos, Militão e Gabriel Magalhães, sem contar outros que sequer podem ser convocados, porque não cabe todo mundo.

Enquanto abrimos mãos de zagueiros bons, tem que fazer um esforço enorme para encontrar quatro laterais para serem convocados. Danilo, o capitão, pode até ter jogado como zagueiro na Juventus, mas ele não é um zagueiro bom como os zagueiros de verdade. E aí escolhe-se o lateral ofensivo, no caso de ontem, Arana, para aprofundar do outro lado, na esquerda, sendo que justamente pela esquerda gostam de atuar os principais atletas ofensivos - Vini Jr, Rodrygo, Neymar quando voltar...

Se a seleção tirasse os dois laterais de campo e atuasse com linha de três atrás, haveria espaço para mais um no ataque. Haveria como usar jogadores de maior qualidade pelos lados do campo. Talvez desse certo, talvez desse errado. Mas é inacreditável a resistência para tentar o que, repito, todos já tentaram ou estão usando. Não estamos falando de uma aberração, mas de algo consolidado no jogo de hoje.

Algum treinador dirá que, na fase ofensiva, o Brasil tem há tempos montado um 3-2-5, em que Danilo fica atrás e o lateral pela esquerda vira o ponta esquerda. Eu digo que temos zagueiros melhores para fazer as funções neste sistema e temos atacantes e meias muito melhores do que os laterais para gerar o jogo pela esquerda.

Mudar o espírito da seleção brasileira não é fácil. É, inclusive, difícil identificar exatamente o que acontece para termos tanto sono com a seleção. Acho até que o problema é mundial, há outras seleções importantes que dão um sono danado nestas épocas de jogos entre Copas e Eurocopas. Mas mudar o sistema é imperativo para criarmos uma situação que permita ter mais juventude, criatividade e atacantes em campo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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