Julio Gomes

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Neymar está de volta e, com ele, a enorme sombra chamada de esperança

Neymar voltou ao futebol. Um ano depois da triste lesão em Montevidéu, ele voltou aos 31min do segundo tempo do jogo do Al Hilal pela Champions asiática. O duelo foi espetacular, vitória por 5 a 4 sobre o Al Ain, de Crespo, o mesmo time que foi o único capaz de derrotar o Hilal de Jesus na temporada passada, sagrando-se campeão continental. Mas isso pouco importa.

Neymar entrou com 5 a 3 no placar, para jogar 15 minutinhos. Com os insanos acréscimos que marcam o futebol asiático, jogou meia hora. Nada demais, nada de menos - e é natural que seja assim, o cara voltou após um ano parado. Tocou 13 vezes na bola, perdeu cinco, deu um drible certo, fez uma falta, ganhou quatro duelos e ainda teve tempo de receber uma bola limpa de frente para a área e finalizar bem, mas pra fora (passou raspando).

Neymar não está inscrito na Liga Saudita, onde poderia pegar ritmo. Só poderá jogar o campeonato doméstico no fim de janeiro, após a parada de um mês no inverno saudita. Ou seja, o Hilal não calculou bem a data de retorno. Ele só pode jogar pela Champions asiática e, vejam só, pode jogar com a camisa da seleção brasileira.

O próximo jogo do Al Hilal na competição da Ásia será daqui a duas semanas, no dia 4 de novembro, uma segunda-feira. Antes disso, na sexta, dia 1o de novembro, Dorival Júnior anunciará a lista de convocados para os jogos das eliminatórias contra Venezuela e Uruguai. Justo o Uruguai. E aí? Neymar será convocado?

O ano sem Neymar mostrou uma seleção frágil. Só que ela também era frágil com Neymar. Neymar é a grande sombra que paira sobre a seleção brasileira. Sombra, no meu ponto de vista, é lógico. Para muitos, Neymar não é sombra, mas esperança.

Que Neymar é o melhor jogador de futebol nascido no Brasil em muitos anos, não há qualquer dúvida. É um cara totalmente diferente, um verdadeiro craque. Não preciso ficar elogiando, mas é bom fazê-lo para não mostrar que não é pegação no pé. O problema que Neymar traz, no meu ponto de vista, pode ser explicado em duas partes: 1) ele não é confiável. Neymar joga de acordo com a própria agenda e vontades, seja baixando os calções para mostrar marca de cueca ou para driblar inutilmente no meio de campo um jogador que lhe esteja caçando em campo. Ele é um individualista, se coloca na frente do time. Às vezes, joga coletivamente, às vezes, não. Às vezes, resolve ajudando os companheiros, às vezes, sozinho, às vezes, não resolve nada. Nunca se sabe; e 2) consequentemente, a influência que exerce sobre o resto de moleques é negativa, não é um baita exemplo a ser seguido, pelo contrário.

"Mas Julio, o Brasil não ganha nada sem o Neymar". Eu digo que, com Neymar, também não. Aliás, a única coisa que ganhou nos últimos 10 anos foi uma Copa América em que ele não jogou. Neymar é muito craque, mas o pacote Neymar é nocivo para a seleção. É como eu vejo, respeitando todas as opiniões diferentes e respeitando também a qualidade técnica do jogador, que não é pouca.

Meu approach em relação a ele, fosse eu o técnico, seria o seguinte: "Neymar, toque tua vida, jogue bola, mantenha-se em forma e, quando chegar a Copa do Mundo de 2026, se você estiver bem, sem lesão, você estará no grupo e no time. Até lá, preciso encontrar e testar opções sem tua presença". Jogo limpo e transparente. Se você consegue montar um time no período e acrescenta Neymar, pode ganhar a Copa. Se você monta o enésimo time em função de Neymar e ele te deixa na mão na hora H, está lascado.

Não sei se Dorival irá convocar Neymar já neste ano, daqui a 11 dias. Antes, achava que não. Mas, dado tudo o que aconteceu no ano, acho que talvez Dorival não irá adiar o inadiável. Chamará logo.

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Neymar não precisa sequer jogar para ser o assunto, o centro das atenções. Imaginem, então, já de volta aos gramados. Esse é o problema. Ainda que muitos chamem de solução.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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