Julio Gomes

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Na Portuguesa, é SAF ou morte. Demora faz grupo pensar em retirar proposta

A Associação Portuguesa de Desportos tem diante de si a decisão mais fácil de sua história. Entregar a gestão do futebol do clube e de suas dependências para terceiros. Não há outra opção. A segunda opção é a morte. Esta morte lenta e certa que estamos vendo desde a virada do século.

Segundo informações apuradas pelo jornalista Flavio Gomes, que é meu irmão, torce pela Portuguesa e nunca teve qualquer tipo de envolvimento com o clube, o grupo formado pela XP, Tauá e Revee pode retirar a proposta que atinge 1 bilhão de reais para a criação da SAF. É a notícia desta madrugada. A razão? A demora para os órgãos deliberativos do clube marcarem as reuniões para aprovação do projeto. Este é o tamanho do absurdo.

A Portuguesa não tem NADA para o Campeonato Paulista, que começa em janeiro do ano que vem, em possivelmente dois meses, pois deve ser adiantado. Não tem jogadores, comissão técnica, nada. O grupo de investidores precisa que a proposta seja aprovada agora para poder começar a trabalhar - até porque, em 2025, a Lusa volta a jogar a Série D e o plano apresentado é estar de volta à Série A em cinco anos. Mas o COF (Conselho de Orientação Fiscal) precisa dar o parecer positivo, e o Conselho Deliberativo precisa deliberar e aprovar.

Quem prefere as tradições e o Canindé de cimento, quem é contrário às mudanças, não percebeu ainda que tudo já mudou. A Portuguesa não tem mais quase sócios ou clube social, a Portuguesa não tem mais as piscinas, a Portuguesa não tem mais o vinho e o bolinho de bacalhau, não tem mais a lojinha da senhora simpática que vende camisas, a Portuguesa não tem mais time, a Portuguesa não tem mais importância.

Em um cenário de degradação ano após ano e dívidas que somam centenas de milhões de reais, a grande pergunta que muitos torcedores se fazem é: Por que os dirigentes, conselheiros, situação, oposição, não largam o osso? Por que os mesmos caras de sempre seguem lá no comando?

Só há duas respostas possíveis: 1) Porque ganham dinheiro com o clube, direta ou indiretamente. Se é isso, não podem ficar e sequer preciso explicar as razões; 2) Porque querem "ajudar" a Portuguesa. Essa é a resposta que darão. Pois eu tenho uma notícia: vocês não estão ajudando. Nunca ajudaram. Abram espaço, por favor.

O presidente do clube, Antônio Carlos Castanheira, é uma figura que às vezes parece estar disposto a passar o comando do futebol da Portuguesa adiante, às vezes não. É jogo duplo? Por que tanta demora com o processo da SAF?

O líder da oposição chama-se Beto Cordeiro. Sujeito esclarecido, médico, que fala bem, tem dezenas de conselheiros nas mãos. Era aliado e chegou a ser diretor de futebol de Castanheira. Foi demitido depois de agredir um torcedor no estádio. E virou desafeto. Segundo um conselheiro, em áudio vazado no mês passado, estaria liderando um plano para tirar Castanheira do poder. E agora é a principal figura que empaca o acordo que a Portuguesa PRECISA fazer para virar SAF.

Qual o interesse que Beto Cordeiro tem na Portuguesa? Será que ele não pode tocar a vida dele sem o clube e deixar a torcida em paz?

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Será que o poder público não deveria atuar de alguma forma, já que uma instituição endividada tem uma proposta concreta e pública de recuperação econômica?

É importante que conselheiros, diretores e envolvidos entendam que a Associação Portuguesa de Desportos não tem mais como sobreviver a este tipo de gestão ultrapassada. Acabou. O tempo deles passou e foi longo. Os poucos torcedores e simpatizantes que restaram não aguentam mais ouvir os mesmos nomes de sempre, pessoas que não são preparadas para gestão e muito menos futebol. Os Cordeiros, Castanheiras, Licos, Da Lupas, Tomés precisam largar o osso. Muito obrigado pela dedicação, mas não dá mais.

A Portuguesa já teve, em sua história, diversos cavalos selados passando a sua frente. Foi deixando de montá-los e morrendo pouco a pouco. Falta de gestão, falta de escrúpulos, falta de torcida - e, consequentemente, de mídia. Os problemas foram se avolumando e, o que antes dava para ir ajustando, hoje virou uma bola de neve tão grande que a Portuguesa virou um clube sem solução. Devedora na praça. E em dívida eterna com sua dedicada torcida.

Por sorte e pelo esforço de gente verdadeiramente boa do passado, o clube está bem localizado, tem algum capital humano e físico. Este é o fator que explica uma oferta sólida de três empresas, com avais bancários do grupo de investimentos mais conhecido do país, uma oferta que acabará com a dívida do clube, dará vida a algo que está morto e dará à pouca torcida que resta a chance de voltar a ver o time jogar futebol em competições estaduais e nacionais.

Os dirigentes da Portuguesa, muitos deles lá há muitas décadas, não foram capazes de fazer a Portuguesa progredir ao longo dos anos. Não há mais espaço para eles. E a impressão que temos, todos os que estamos de fora, é que eles não saem de lá porque ainda querem dar mais um jeito de ganhar alguma coisa em cima do clube e de manter o poder. Beto Cordeiro precisa parar de bloquear o processo. Castanheira precisa entregar o bastão. Não se trata mais deles. Trata-se de dar a um punhado de torcedores, que se dedicaram ao longo da vida a torcer pelo clube mais difícil de torcer no mundo do futebol, uma pequena esperança de poder voltar a ver o clube jogar.

Tenham um pouco de hombridade e dignidade, ora pois!

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A discussão sobre modelos de SAF é legítima e se aplica ao futebol brasileiro e a muitos clubes grandes, que não necessariamente precisam deste tipo de investimento. Ela não se aplica, a discussão, à Portuguesa. Ou vira SAF nos modelos sólidos apresentados nesta semana ou acabou. Ou pior, acaba daqui a algum tempo, depois de a última gota de sangue ter sido sugada.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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