Julio Gomes

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CBF e clubes não enxergam a solução mais simples: Estaduais no fim do ano

A CBF criou um monstrengo. Um calendário 2025 que não vai agradar ninguém e que vai gerar períodos insanos, de um jogo atrás do outro - períodos que têm como consequências queda técnica brusca, lesões de jogadores, impaciência das torcidas e demissões de técnicos - e outros trechos da temporada absolutamente vazios de jogos. O mais incrível é que não enxergue que a solução é fácil, está debaixo do nariz da CBF, dos clubes e das TVs com direitos de transmissão.

Não estou falando aqui nem sequer de acabar com os Estaduais e diminuir radicalmente o número de jogos. Eu entendo a importância das Federações, entendo que a política e os valores pagos pelos detentores de direito não permitam a redução do calendário. Estou falando de manter todos os torneios, todas as datas e apenas usar a razão para fazer uma melhor distribuição.

E a solução é simples: começar o ano com o Campeonato Brasileiro.

A CBF anunciou ontem que os Estaduais vão começar em 12 de janeiro, o Brasileirão em março, aí ele para por causa do Super Mundial de Clubes da Fifa, entre junho e julho e com a participação de quatro clubes daqui, para depois ser retomado. Ou seja, um mês sem futebol no meio do ano, mesmo que talvez só um time brasileiro passe, por exemplo, para as quartas do Mundial. Teremos uma insanidade de jogos importantes encavalados nos meses de abril, maio e junho, com Brasileiro e fase inicial da Libertadores, depois outra insanidade em fim de julho, agosto e setembro, novamente com o principal campeonato do país prejudicado pelo excesso de partidas e dezenas de clubes envolvidos nos mata-matas de Libertadores, Sul-Americana e Copa do Brasil. E aí o que acontece na sequência? Longos períodos sem jogos com as Datas Fifa de setembro, outubro e novembro. É uma estupidez completa.

A solução, repito, é começar o Brasileirão no fim de janeiro, após um mês completo de pré-temporada. O Brasileiro e as séries B, C e D podem tranquilamente transcorrer durante fevereiro, março, abril, maio e junho, com a paralisação para somente uma Data Fifa (março). Ele seria intercalado com jogos da fase inicial da Libertadores e da Sul-Americana, fases que os clubes podem negociar melhor, poupar jogadores com inteligência e não por pura necessidade e esgarçamento.

Aï sim, já com o primeiro turno encerrado e umas 25 rodadas disputadas, o campeonato ficaria interrompido por três semanas em junho para a Data Fifa daquele mês e o Mundial de Clubes. Mas não precisa parar durante todo o Mundial. Nada indica que haverá brasileiros nas quartas, semi e final do torneio. E, se houver, OK, que este ou aquele time tenha dois ou três jogos adiados no Brasileiro. Mas o torneio poderia tranquilamente ser retomado no início de julho com o restante do segundo turno e ser encerrado no meio de setembro.

Outra coisa que pode ser feita durante o Mundial de Clubes da Fifa é a realização das três fases iniciais da Copa do Brasil. E as fases decisivas da Copa do Brasil poderiam ficar para outubro e novembro, esta época do ano em que pouquíssimos clubes estão envolvidos em finais continentais. A final da Copa do Brasil pode ser o último grande jogo do ano, em dezembro.

E os Campeonatos Estaduais começariam justamente na Data Fifa de setembro. Este é o grande detalhe: os Estaduais não precisam parar nos longos períodos de Datas Fifa de setembro, outubro e novembro. São torneios secundários, em que os clubes grandes seriam menos afetados por terem jogadores convocados e as TVs podem tranquilamente ocupar suas grades.

Os clubes que estiverem envolvidos em final de Libertadores ou jogos grandes da Copa do Brasil poderiam poupar jogadores justamente nos Estaduais, e não na reta final do Brasileirão (que já terá acabado). E os clubes que não estiverem nestes mata-matas nacionais e internacionais podem, aí sim, jogar os Estaduais com força máxima. Tem mais: muitos clubes não estarão envolvidos nas fases finais dos Estaduais, o que lhes permitiria também adiantar as férias e pré-temporada (do ano seguinte). Ao contrário do que acontece hoje, quando um time que fica fora de uma semifinal de Estadual, por exemplo, fica com duas semanas inteiras no meio do calendário sem ter nada para fazer.

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O que a CBF faz hoje em dia, e isso se aprofunda em 2025, é criar um calendário esgarçado em vários momentos e que gera muitas situações de folgas estendidas, são cinco ou seis "intertemporadas" no meio da temporada. Não tem sentido algum. Nem para os clubes, nem para os jogadores, que vão alternando estados físicos totalmente diferentes ao longo do ano, e muito menos para quem transmite os torneios - e recebe produtos de qualidade cada vez pior.

Fazer o Brasileirão logo de cara é uma solução para lá de simples, que não afeta a quantidade de jogos, mas que os distribui de forma mais racional e inteligente. Uma solução que valoriza o Brasileiro tecnicamente, que racionaliza a Copa do Brasil e valoriza também os Estaduais, pois eles vão virar prioridade de verdade para muitos times grandes que precisem "salvar a temporada" no fim do ano. Hoje, ganhar Estadual não vale nada. Ganhar no fim do ano dá outra dimensão à conquista.

Todas as pessoas do futebol com quem converso desconfiam desta solução inicialmente para, ato seguido, perceberem que ela faz todo o sentido. É uma pena que ela nunca seja colocada na mesa pela CBF, clubes e Federações.

ANOTE AÍ, EDNALDO!
Fim de janeiro -
início do Brasileirão
Fevereiro e março - Brasileiro (com uma pausa Data Fifa), séries subsequentes (B, C, D), pré-Libertadores
Abril, maio e início de junho - Brasileiro e fase de grupos continentais
Junho e início de julho - Três fases iniciais da Copa do Brasil, Mundial de Clubes
Julho, agosto e setembro - Brasileiro, playoffs e oitavas de final dos torneios continentais
Fim de setembro, outubro e novembro - Estaduais sem parar nas Datas Fifa
Outubro e novembro - Fases decisivas de Libertadores, Sul-Americana e Copa do Brasil
Dezembro - Finais da Copa do Brasil, Estaduais e férias
Janeiro - Pré-temporada e Copa SP de juniores

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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