Vini Jr. virou melhor do mundo justamente por não fazer disso uma obsessão
Quantas vezes já vimos Neymar ou Robinho falar sobre "ser o melhor do mundo"? Não são só eles, é claro. Nós, da mídia, temos muita culpa nisso. O staff desses caras, então, nem se fala. O fato é que somos um país em que o individual tem mais peso do que o coletivo. Enquanto o futebol foi jogado em menos lugares e éramos os donos do talento, isso funcionou bem. Quando a coisa começou a se globalizar, o jogo virou mais internacional, mais tático e mais físico, perdemos quase tudo.
Ainda assim, seguimos olhando muito mais para o individual do que para o coletivo. A lição não está sendo aprendida. Robinho nunca teve bola para ser melhor do mundo. Neymar teve. Mas a obsessão por uma Bola de Ouro, pela glória egocêntrica, tirou o foco do que realmente importava: trabalhar pelo time.
E assim chegamos a Vinícius Júnior. Que nunca foi badalado como um futuro melhor do mundo. E talvez seja assim porque Vini Jr. não nasceu sabendo tudo. Teve uma formação atropelada e precisou lapidar seu jogo. Vimos ao vivo, domingo após domingo, como Vini tinha vários problemas em campo, e vimos também como ele foi melhorando. Melhorou tanto que virou o melhor.
Vini Jr. é o melhor jogador de futebol do planeta? No meu ponto de vista, não. Ele foi o melhor jogador de futebol do planeta na temporada 2023/2024? No meu ponto de vista, sim. No ponto de vista do colégio eleitoral da Bola de Ouro, foi o segundo melhor. E, no ponto de vista do colégio eleitoral da Fifa, foi o melhor.
Vinícius teve menos concorrência do que Neymar? Sem dúvida. Não teve Messi, não teve Cristiano. Mas teve algo que Neymar nunca teve. A perseverança para entender suas fragilidades, lutar para melhorar e jogar sempre para o time. Possivelmente, nem o Real Madrid acreditasse tanto nele quanto ele acreditou. Tentou, inclusive, colocá-lo em negociações no sonho de trazer Mbappé. Carlo Ancelotti viu no menino algo que Zidane não via quando era treinador do Real. E, a partir daí, ele começou a voar.
Jogando bola, dando passes de gol, fazendo gols, melhorando como atleta e, de quebra, assumindo uma postura de coragem na luta antirracista. Vinícius Júnior não perdeu tempo querendo uma Bola de Ouro ou um The Best. Até fiquei surpreso pela postura (infeliz, na minha opinião) que ele e o Real Madrid tiveram ao "perderem" a Bola para Rodri, do Manchester City. Foi, sim, desrespeitoso. Mas ali foi a primeira vez que vimos Vini Jr. publicamente "preocupado" com um prêmio individual. A carreira dele não foi pautada nisso.
A reação exagerada aqui no Brasil comprova o que falei no começo desse texto. Somos um país preocupado demais, como sociedade, com glórias imediatas e individuais. Quando o trabalho em equipe e a superação de etapas são coisas muito mais valiosas. Vinícius Jr. só pareceu se preocupar com isso quando, de fato, superou todas as etapas, sem queimar nenhuma delas. Uma história parecida com a de Kaká - o último brasileiro que havia sido eleito o The Best -, outro jogador que não era considerado um "candidato natural", mas que provou, com esforço e trabalho, não só talento, ser merecedor da láurea.
Em um esporte coletivo, a obsessão por ser o melhor raramente vai acabar bem. A mania de perseguição, outro pedacinho do nosso DNA, é outro elemento da história que não leva a lugar algum. Vini Jr. chegou lá no topo pelo bom caminho.
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