Julio Gomes

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Após dispensar Neymar, Jorge Jesus vive crise, goleada e vê Liga escapar

Desde que chegou ao Al Hilal, no começo da temporada passada, Jorge Jesus colecionou títulos. Hoje, o time chegou a 92 partidas consecutivas fazendo pelo menos um gol. Mas levou 4. O mar de rosas acabou. E talvez o domínio na Liga Saudita tenha sido tão grande quanto rápido. A curiosidade é que as coisas começaram a ruir para os lados do Al Hilal justamente quando o técnico português decidiu que dispensar Neymar seria uma boa.

Vejam bem. Não estou falando que o Al Hilal era Neymar-dependente. Isso seria uma estupidez. Foram 34 vitórias seguidas na temporada passada, um recorde histórico no futebol mundial. O Hilal ganhou de forma invicta a primeira Liga Saudita cheia de estrelas, ganhou também Copa do Rei Saudita, Supercopas... Só não ganhou tudo porque perdeu a Champions League asiática, sendo eliminado pelo Al Ain, de Crespo. Tudo isso sem Neymar.

Aquele mau momento - a eliminação para o Al Ain - pode ser considerado consequência de uma outra baixa importante: Mitrovic, o atacante sérvio que faz gol até quando está dormindo ou jantando, estava machucado.

Acelerem a fita. Chegamos a janeiro desde ano, um mês e meio atrás. E Justamente outra lesão de Mitrovic mudou a temporada do Al Hilal. O sérvio se machucou em um jogo da Copa do Rei Saudita, contra o Al Ittihad - o time de Benzema, que se classificaria nos pênaltis. A partida foi a primeira de 2025, após a pausa de inverno, e foi ali que Jorge Jesus decidiu não inscrever Neymar para a segunda metade da temporada.

Na Liga Saudita, há um limite de dez estrangeiros em campo, sendo que pelo menos dois deles precisam ser jogadores sub-21. No caso do Al Hilal, os estrangeiros mais velhos eram (e são): o goleiro marroquino Bounou; o zagueiro senegalês Koulibaly; os laterais Cancelo, que é português, e Renan Lodi; o volante português Rubem Neves, o meia sérvio Milinkovic-Savic, além de Malcom e Mitrovic. Todos muito bons jogadores e encaixados no sistema.

Quem seria deixado de fora para a inscrição de Neymar? Jorge Jesus disse que Neymar não conseguia acompanhar o ritmo dos treinos, pela recuperação física lenta que teve. Hoje, vendo o que ele tem feito no Santos, é compreensível que o técnico tenha enxergado o que enxergou. Mas faltou a JJ uma visão um pouquinho mais ampla do que poderia ser a temporada. O Al Hilal, já naquelas alturas, não estava sobrando tanto quanto na temporada passada. O fim de 2024 tinha sido marcado por uma derrota surpreendente (para o pequeno Khaleej) e algumas vitórias mais apertadas do que o normal. O Al ittihad estava juntinho na tabela. Ou seja, não havia, em 24/25, a mesma sobra que todos viram em 23/24.

Se qualquer jogador de ataque se machucasse, haveria problemas e Neymar poderia, sim, ser importante. E logo veio a lesão do mais importante deles, Mitrovic, um atacante que arrancou várias vitórias na marra para o Al Hilal.

Desde a dispensa de Neymar e a lesão de Mitrovic, o Al Hilal ganhou quatro jogos, empatou dois e perdeu dois - deixou dez pontos pelo caminho. Nas últimas cinco partidas pela Liga Saudita, conseguiu só uma vitória. E, neste sábado, veio o pior momento de todos: uma goleada por 4 a 1 para o Ittihad, de virada, com uma atuação soberba de Benzema.

No ano passado, Benzema não jogou absolutamente nada pelo Ittihad. Mas, nesta temporada, com a montagem de uma "república francesa" no clube, ele voltou a brilhar demais. Tem 16 gols no campeonato e divide a artilharia com Cristiano Ronaldo. É impressionante como Benzema faz tudo certo no jogo, acerta as tomadas de decisões, os passes e, de quebra, deixa os gols dele.

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Já o Al Hilai sofre com a construção de jogo e a falta de um finalizador do porte de Mitrovic. Muitos tentaram virar heróis em campo contra o Ittihad, ou seja, o time perdeu a coletividade. É a primeira vez, em um ano e meio, que vemos Jorge Jesus perdidinho, sem soluções.

Não sei se Neymar teria ajudado em uma partida intensa como a deste sábado. Mas talvez tivesse resolvido as duas partidas anteriores em fevereiro, empates contra os pequenos Damac e e Al Riyadh. Os times pequenos e médios da Arábia Saudita estão nitidamente mais competitivos nesta temporada, a segunda da "nova era", do que na passada. Contrataram jogadores de origens variadas, tem muitos atletas "classe média" do futebol europeu que chegaram neste ano sem os holofotes, mas que elevaram o nível.

Talvez Jorge Jesus tenha achado que abrir mão de Neymar não representaria problema algum. E talvez ele tenha simplesmente feito uma leitura errada do aumento de competitividade da Liga Saudita. O fato é que este é o pior momento de JJ no comando, o time dele ficou sete pontos atrás do Ittihad na tabela e o bicampeonato parece bem distante. Ter um Neymar no elenco, acho eu, ajudaria. Se arrependimento matasse, Jesus estaria vivo?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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