Julio Gomes

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Lusa chancela SAF via Assembleia e afasta tentativa de 'virada de mesa'

De virada de mesa, o torcedor da Portuguesa entende bem. Foi uma delas, em 2013, talvez a última relevante do futebol brasileiro, que a derrocada do clube se aprofundou até parecer quase irreversível. Nesta terça-feira, os poucos sócios que poderiam votar foram ao Canindé, atenderam a convocação da Assembleia Geral e, por um placar de 113 a 3, chancelaram a ata que basicamente garante juridicamente a transformação de 80% do futebol do clube em SAF.

Se bem é verdade que o contrato entre os investidores e a Associação foi feito a toque de caixa e é leonino (como poderia ser diferente, considerando um clube quebrado, literalmente em ruínas e já quase sem torcida?), também é real observar os subterfúgios encontrados por alguns cartolas e conselheiros das antigas para dar um jeito de virar a mesa e impedir a SAF. As razões de cada um são as razões de cada um. Poder puro e simples? Inveja de quem conseguiu salvar a existência do clube de futebol? Interesses econômicos e imobiliários no espaço físico que a Portuguesa ocupa? Dinheiro? - afinal, o que é migalha para um clube não é para uma pessoa física.

Não se sabe. O fato é que a torcida da Portuguesa, representada pela Leões da Fabulosa, e os sócios, desfizeram o imbróglio nos últimos 7 dias. Foi fundamental a presença da Leões para botar pressão na reunião do COF, o tal Conselho de Orientação e Fiscalização, um órgão que transformou a Portuguesa em refém das suas "orientações" e "fiscalizações" (ou da ausência delas quando mais eram necessárias) ao longo de décadas. E a mobilização das redes sociais e da vida real acabou na goleada imposta pelos sócios, apesar de tantas fake news e ameaças vazias correndo soltas em grupos de Whatsapp.

A votação chancela a retificação da ata de aprovação da SAF, que havia sido indevidamente modificada pelo presidente da Assembleia, Marcos Lico. O filho do ex-presidente Ilídio Lico retificou a ata e saiu de cena, se afastou do cargo. O COF se reuniu para voltar a tumultuar, mas acabou "cuspindo" um documento em que dá o caso do contrato da SAF por encerrado, apesar de suas ressalvas ao acordo. E restava a votação de hoje para que o clube pudesse, em cartório, ratificar a negociação. Assim, a SAF poderá ser registrada na Federação Paulista e na CBF.

A partir do registro, qualquer medida para tumultuar a SAF terá de ser tomada via Justiça - o que é difícil de imaginar, dados os custos e a fragilidade dos argumentos jurídicos de quem é contra a venda do clube. É claro que, em um futuro próximo, um destes históricos conselheiros pode se transformar em presidente da Associação. Mas o máximo que conseguirá será uma relação ruim, um afastamento em relação a quem dirige a SAF - ou seja, o futebol da Portuguesa. Virar a mesa, não.

Sim, a SAF tem obrigações contratuais em relação ao clube associativo. Negociar as dívidas - todas elas -, construir a arena no lugar do Canindé e construir uma nova sede para a Associação e para a Leões da Fabulosa. Tem obrigação também de montar um time forte para tirar a Portuguesa da Série D do Campeonato Brasileiro e mantê-la perto da torcida que restou (e salvou a SAF) nos próximos três anos. Precisa andar na linha. Primeiro, porque é o certo: cumprir o que se promete e assina. E, segundo, para evitar futuras batalhas nos tribunais, como acontece com o Vasco.

É justo que os sócios observem, acompanhem de perto e cobrem. E é fato que, a partir de hoje, a torcida parece finalmente ter conseguido "tirar a Lusa dessa gente".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL