The English Game é aula para dirigentes atuais em tempos de coronavírus
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A série The English Game, do Netflix, se passa no final do século XIX, e tem o futebol como fio condutor de uma história muito mais sobre luta de classes e tensão social. E, mesmo assim, traz uma lição importante a todos os dirigentes da atualidade: entendam o momento, ou os fatos te derrotarão.
Para essas linhas, o personagem principal e elemento que ensina algo fundamental para todo dirigente é Arthur Kinnaird. Um craque da seleção inglesa à época, e um dos líderes da associação que controlava o jogo e as regras do futebol.
O futebol era um esporte dominado e praticado pela elite inglesa. E, de maneira inteligente, para manter o controle do esporte, o profissionalismo era proibido. O futebol crescia em popularidade entre os operários e pessoas das classes mais baixas.
Para quem (ainda) não viu, a série conta a chegada de Fergus Sutter e Jimmy Love, os primeiros jogadores considerados profissionais no futebol. Eles saíram da Escócia para jogar em um time de operários, e recebendo salário para jogar, o que contrariava as regras do jogo. Mas muito mais grave do que isso: tornando forte um time de operários, o que ameaçava o domínio da elite do esporte.
Agora, um porém indispensável.
Esta não é uma série para se ver bola rolando, mas para entender como o futebol acompanhou movimentos sociais decisivos para a história da sociedade moderna e do próprio jogo.
Então, não busque precisão histórica, típica dos documentários. A série tem o objetivo de entreter, buscando fastos reais para conduzir a narrativa. Para isso, ela contou com a supervisão de Andy Mitchel, um dos grandes pesquisadores do esporte no século XIX. Mesmo assim, ela não é fiel a datas, sequer a clubes e títulos. Ela aproveita vários momentos, para resumir uma história importante.
Alerta: spoiler na sequencia. Mas como a série é sobre uma história importante, qualquer pesquisa já mostra o que aconteceu.
O fato é que com os operários recebendo salários como atletas, e com eles se dedicando para o jogo, as equipes das fábricas ficaram mais fortes. Assustada, a elite se reúne e ameaça desclassificar o time de Fergus Sutter e Jimmy Love, na série o Blackburn. Mais do que perder o título, o Old Etonians estava assustado em perder o controle do jogo.
Kinnaird, o principal líder do time e da associação entendeu que não havia mais jeito. O futebol já fazia parte também da cultura popular. A propaganda, a venda de ingressos, e os jogadores assalariados seriam caminhos tomados, com ou sem o aval dos líderes.
Então, com a ameaça de uma grande ruptura na associação e a possibilidade de uma nova entidade ser organizada, ele consegue mudar os votos dos colegas de associação, e aceita as mudanças no futebol.
O Blackburn confirma a força que tinha e é campeão no último capítulo da série (na história o primeiro campeão foi o Blackburn Olympic, e não o Rovers de Sutter, numa final assistida por mais de oito mil pessoas). O time vence o Old Etonians de Kinnaird em 1883.
Com esse título, o jogo mudou também taticamente, mas não só isso. Dois anos depois, em 1885, o pagamento de salários passou a ser permitido, o futebol começou a se tornar um grande negócio e sabe quem ficou comandando toda essa transformação?
Arthur Kinnaird. O membro da aristocracia britânica foi o presidente da nova Federação Inglesa, a FA, de 1890 até 1923, por 33 anos.
Sábio, entendeu o momento. Cedeu, compôs e se tornou o líder de uma das maiores revoluções do futebol, mesmo sem mudar de lado.
Em tempos de coronavírus em que o futebol também passará por uma grande transformação, entender o cenário é fundamental para os nossos dirigentes.
A aula de Kinnaird está à disposição.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.