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Por decisão do governo, França sem futebol até setembro. Entenda

28/04/2020 11h28

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O governo francês anunciou na manhã desta terça, entre outras medidas, que não haverá eventos esportivos, pelo menos, até agosto. A Liga francesa trabalhava com protocolo para volta aos treinos até metade de mo, e jogos em junho. Não será possível. A decisão está mesmo nas mãos dos governos.

O primeiro-ministro, Édouard Philippe, anunciou o encerramento da primeira e segunda divisões do futebol francês. Nenhuma partida será jogada, mesmo com portões fechados.

Agora, as ligas francesas terão que definir se a temporada 2019/20 terá campeão ou não. Além disso, terão que resolver questões como rebaixamento, acesso e classificação para os torneios europeus.

Outra questão importantíssima: o fato cria enorme pressão para clubes como Paris Saint-Germain e Lyon, que ainda estão vivos na Champions League, mas já sabem que não poderão jogar em território francês, caso o torneio da UEFA seja retomado.

A situação exige diálogo permanente entre Estado e movimento esportivo.

As principais ligas do mundo estão trabalhando para voltar com o futebol. A maioria quer treinos até meio de maio, e jogos na segunda semana de junho. Protocolos, calendários, portões fechados. Agora, para tudo seguir conforme o planejado é fundamental que as entidades recebam um OK do poder público.

- Na Inglaterra, Arsenal volta a trabalhar essa semana e a ideia da Premier League é que todos os times estejam treinando até metade de maio.

- Na Alemanha a ideia é ter jogo já no dia 9 de maio, já que as equipes já voltaram aos treinos. Para isso, regras sanitárias adaptadas, com cargos especialmente criados para este momento e testes antes e depois dos jogos;

- Na Espanha, a imprensa já disse que a La Liga trabalha com a data do dia 27 de junho para recomeçar. Antes de voltar a jogar, os jogadores serão submetidos a testes de detecção da COVID-19.

- Na Itália a federação apresentou um protocolo de segurança. A partir daí, treinos divididos em 3 fases.

A UEFA também trabalha com um cenário. Campeonatos nacionais sendo definidos em junho e julho, deixando as competições continentais para agosto.

Todos com portões fechados por tempo indeterminado.

As entidades do esporte fazem planos, mas todos só serão possíveis se tiverem a aprovação do governo.

Na Inglaterra, se o governo decidir prorrogar o isolamento e as fronteiras fechadas? Ou se a Alemanha decidir voltar com regras mais rígidas de isolamento? Nada de futebol em cada país.

Até aí, se entende.

Mas se uma entidade continental retoma o campeonato, e alguns países ainda têm proibição para eventos esportivos?

Nesse caso, um time até poderia jogar em outro país. Mas se houver restrição migratória, o problema passa a ser ainda maior.

Na Argentina, nada de voos comerciais até setembro. Como voltar com a Sulamericana e Libertadores?

"Depende do objeto das restrições impostas pelo Estado. Caso se refira à realização de evento esportivo, pode impedir a realização de partidas em seu território. Caso inclua restrições migratórias e/ou fechamento de fronteiras, pode representar impedimento para que equipes locais possam participar de partidas realizadas no exterior", é o entendimento de Pedro Mendonça, advogado especializado em direito esportivo.

É preciso aceitar. A autonomia das entidades esportivas não é ilimitada. O esporte vive em permanente interação com outros sistemas jurídicos, nacionais e transnacionais. E é fundamental que eles dialoguem e se entendam, principalmente em uma crise como essa.

Claro que o esporte goza de uma necessária autonomia quanto a organização e funcionamento dos eventos esportivos. mas, nesse caso, há uma força maior que se sobrepõe. A saúde de todos, a proteção de direitos humanos.

"No caso da pandemia de COVID-19, os potenciais conflitos demandam ponderação da autonomia esportiva diante diante do direito à saúde e, em última análise, do direito à vida. Assim, parece-me natural que as normas estatais visando preservar esses valores devam prevalecer nesta hipótese", me disse o Pedro Mendonça.

Até por isso a própria UEFA voltou atras em uma ameaça que havia feito às entidades esportivas, de retirar a vaga em competições continentais daquelas federações que cancelassem o campeonato. Na semana passada, a Uefa retirou a ameaça que havia feito, e confirmou que as ligas nacionais não serão banidas das competições europeias se cancelarem suas temporadas e tiverem que decidir por si mesmas como determinar as colocações finais "com base no mérito esportivo".

Na Holanda o governo proibiu eventos esportivos até setembro. A Liga foi obrigada a cancelar o campeonato.

Nesse momento, é fundamental que as entidades organizadoras das competições continentais, como UEFA e Conmebol, estejam atentas às restrições aplicáveis nos países onde têm sede os clubes participantes.

A verdade é que à medida que a crise do coronavírus se aprofunda, há uma aceitação de que as competições nacionais vivem situações diversas

Quem vai decidir sobre a volta do esporte, e como essa se dará, não será nenhum dirigente esportivo, mas o controle da pandemia. Aceite, somos reféns do vírus. É triste, mas é fato.

O mesmo já está sendo debatido pelas entidades esportivas no Brasil. A possibilidade de que os jogos finais dos estaduais, e mesmo os jogos do Brasileiro, sejam realizados sem torcedor por um tempo é grande.

Mas é preciso entende, antes de se fazer previsões sobre os nossos campeonatos ou achar que estamos atrasados em relação ao velho continente, que estamos em um momento diferente da Europa no controle da pandemia. A curva de contágio por lá já é decrescente, a nossa ainda não atingiu o pico.

Nessa hora em que o mundo inteiro está assustado, o movimento esportivo precisa buscar a ajuda de assessoria qualificada para tomar a decisão sobre como agir. E respeitar também a política pública de controle adotada pelo Estado.

Ou seja, as entidades esportivas trabalham para a bola voltar a rolar na Europa. Mas para o projeto andar é preciso esperar pelo Estado, que tem o dever de consultar os grandes protagonistas do esporte e da vida nesses dias, as autoridades da área de saúde.

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