NFL esquece Trump e se une com a FIFA na defesa dos Direitos Humanos
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Andrei Kampff
O esporte vive uma reviravolta tardia, mas histórica. A FIFA se manifestou a favor dos atletas que se posicionaram contra o racismo, e até a conservadora NFL agora reconhece que os atletas têm razão ao combater o preconceito. As duas entidades - finalmente - entenderam que a proteção de Diretos Humanos está na natureza do esporte.
Com a morte do negro George Floyd por um policial branco, uma onda de protestos contra o racismo tomou conta do planeta, e o esporte quebrou um silêncio que incomodava. Marcas, clubes, entidades esportivas e atletas se posicionaram de maneira firme contra o preconceito, entendendo o papel que têm na proteção de Direitos Humanos.
FIFA e NFL atacam racismo
Depois do assassinato de Floyd, a FIFA orientou suas entidades filiadas a não punir atletas que se manifestarem contra o racismo, como aconteceu na Alemanha. As regras do jogo proíbem manifestações políticas em campo. Mas, nesse caso, a entidade faz uma leitura mais ampla da regra, entendendo que a proteção de Direitos Humanos vai além de qualquer bandeira ideológica.
A NFL é uma Liga independente, mas até ela se curvou pela necessidade de combater a discriminação.
"Estávamos errados ao não ouvir os jogadores mais cedo e a encorajá-los a falar e protestarem pacificamente. Nós, NFL, acreditamos no 'Black Lives Matter'. Apoiamos os jogadores que fizerem ouvir a sua voz e tomarem atitudes", disse Roger Goodell, chefe da NFL, em vídeo publicado nas redes sociais depois da morte de Floyd, e de manifestações de atletas da Liga.
Claro que todos imediatamente lembraram de Kaepernick, um atleta que por defender o combate a desigualdade racial ganhou a antipatia do presidente Donald Trump, e foi punido por isso.
Em 2016, Colin Kaepernick, quarterback dos San Francisco 49ers, se ajoelhou durante o hino nacional norte-americano como forma de protesto contra o racismo e a violência policial. O gesto foi repetido por alguns colegas de equipe, e também por adversários. E isso provocou um movimento contrário.
O presidente Trump encabeçou às críticas contra os atletas, e a Liga decretou sanções a quem não respeitasse o hino. Kaepernick deixou o 49ers ao final da temporada, e nunca mais foi contratado por nenhuma franquia.
Quase quatro anos depois, a declaração do chefe da NFL soa como um um pedido de desculpas ao atleta.
Proteger Direitos Humanos é da natureza do esporte
A importância do esporte como vetor de desenvolvimento da paz, igualdade e respeito às diferenças é reconhecida dentro do arcabouço institucional do movimento esportivo.
A própria Carta Olímpica estabelece que o objetivo do Movimento Olímpico é contribuir para a construção de um mundo melhor e pacífico por meio da educação dos jovens por via do desporto, praticado de acordo com o Olimpismo e os seus valores.
Já a FIFA recentemente se posicionou de maneira mais firme em defesa dos Direitos Humanos porque precisava criar uma agenda positiva. A imagem da instituição estava abalada.
A entidade foi muito criticada por movimentos sociais pelas escolhas da Rússia e do Qatar como sedes das Copas de 2018 e 2022, uma vez que os dois países são constantemente acusados por violarem Direitos Humanos. Além disso, em 2015, estourou o Fifagate, um tsunami investigativo que apurou uma rede de corrupção na entidade. Vários dirigentes foram afastados da entidade, e alguns presos, como o ex-presidente da CBF, José Maria Marin.
Abalada pelas sérias denúncias de corrupção, e pressionada por movimentos sociais pelas escolhas para as sedes os mundiais, ela precisava agir. Então, a entidade-mor do futebol decidiu investir em uma agenda positiva, tendo os Direitos Humanos como protagonista.
Ela incluiu em seu Estatuto, no art. 3, a previsão de que a "FIFA está comprometida com o respeito aos direitos humanos internacionalmente reconhecidos e deverá empreender esforços para promover a proteção desses direitos".
No Brasil, o art 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) determina punição para quem praticar ato discriminatório em função de origem étnica, raça, sexo, idade..
FIFA, NFL, e todos entendendo que proteger Direitos Humanos é da natureza do esporte, e precisa ser também de quem o pratica. O movimento de atletas ao redor do planeta combatendo o preconceito não pode ser punido, mas incentivado e aplaudido.
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