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Nova Liga de Man United e Liverpool pode gerar crise entre Fifa e Uefa

21/10/2020 04h00

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Por Ivana Negrão

Uma semana depois de ser revelado que Manchester United e Liverpool estariam por trás do plano 'Big Picture', que buscava reformular a Premier League, os clubes seriam responsáveis agora pelas negociações para a criação de uma nova liga, a European Premier League.

O projeto já teria o apoio da Fifa e adesão de 12 clubes da Alemanha, França, Espanha e Itália. Os principais apoiadores seriam PSG, Juventus e Bayern de Munique. A Uefa, no entanto, ainda não teria dado seu aval.

Em julho deste ano, o atual presidente da entidade europeia, Aleksander Ceferin, concedeu entrevista ao jornal britânico Times, e demonstrou interesse em criar uma disputa entre o campeão da Eurocopa e o campeão da Copa América, que poderia não ser chancelada pela Fifa. "Por que precisamos da permissão da Fifa para organizar uma competição? Somos sócios, mas não seus subordinados".

Tal declaração pode ter desagradado a Fifa, que agora estaria apoiando a a European Premier .League

"O apoio inicial da Fifa deve ser no campo político", avalia Luiz Marcondes, presidente do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo. Isso porque, pelo próprio estatuto, a Fifa deve envolver a Uefa na questão.

O artigo 22 da carta magna da entidade fala em respeito mútuo pela autoridade de cada uma das instituições em sua área de competência institucional. Logo, "a entidade máxima do futebol também deve respeito às instituições a ela vinculadas de alguma forma, como a Uefa. O trabalho deveria ser de cooperação. A Fifa pode apoiar e trazer a Uefa para a conversa. Não creio que a entidade queira gerar atrito com a instituição europeia", pondera Luiz Marcondes.

A possibilidade dos clubes se "livrarem" da Uefa sempre vem à tona, e o consultor de marketing Amir Somoggi explica o porquê. "A estruturação do negócio interessa mais à Uefa do que aos clubes, que poderiam faturar muito mais se tivessem uma liga em que fossem sócios. Eles sabem que não são remunerados por aquilo que valem."

Mas é preciso ter cuidado com esse movimento "separatista".

"Se os clubes insistirem com a competição sem o aval da UEFA, além das ameaças de punição a eles e aos jogadores, podem na prática colocar o sistema Fifa como conhecemos atualmente em xeque", alerta o advogado especialista em direito esportivo, Wladimyr Camargos.

As punições vão desde uma pena mais branda, passando pela proibição de participação em campeonatos da Uefa e Fifa, até desfiliação da agremiação e da federação nacional, por não coibirem os clubes. "Uma crise grande. Não sei se vai adiante", completa Wladimyr.

Se a ideia da nova liga na Europa ganhar força, pode gerar um efeito cascata para os outros continentes. A Conmebol, por exemplo, poderia perder a Libertadores e ficar apenas com a Copa América.

"Eu acho difícil, mas a pressão é cada vez maior, porque os proprietários dos times da Premier League têm uma visão americana. Eles querem ser donos da receita, não querem dividir com a confederação. Ela que cuide dos seus interesses, enquanto os clubes cuidam dos deles", analisa Amir Somoggi.

Mais detalhes do projeto "European Premier League":

O investimento na European Premier League seria de US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões na cotação atual), e o torneio contaria com a participação de até cinco clubes ingleses por serem os responsáveis pela criação da nova competição.

A princípio, seriam jogos de turno e returno, com os mais bem colocados avançando para o mata-mata na fase final, que terá uma grande premiação financeira ao campeão. O valor seria maior que o campeão da Uefa Champions League recebe.

Também é previsto que tenha outras divisões da competição, mantendo o formato de promoção e rebaixamento, como já fazem as ligas europeias.

A Sky Sports afirmou que a competição será divulgada oficialmente até o final de outubro, uma vez que os últimos detalhes estão sendo finalizados. Na Inglaterra, Arsenal, Chelsea, Manchester City e Tottenham também concordaram com a criação da liga.

Um dos principais objetivos é tornar a liga como a mais rentável do mundo, tentando superar a NFL, nos Estados Unidos. Para isso, diversos bancos europeus foram acionados para financiar o projeto e seu gerenciamento.

A ideia vem de encontro com uma possível mudança no formato da Champions League que a Uefa planeja fazer a partir de 2024. A European Premier League seria uma concorrente e por isso há uma pressão na Fifa pela aprovação da competição e liberação a partir de 2022.

Um dos principais motivos para a criação e desenvolvimento da liga seria recuperar o prejuízo causado pela pandemia de Covid-19 nos clubes com a paralisação das competições e falta de presença dos clubes nos estádios.

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