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Mundial terá novo protocolo de concussão e CBF também deve adotar medida

01/02/2021 04h00

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Por Gabriel Coccetrone

Douglas, do Bahia, foi atingido pelo zagueiro do Vasco, Leandro Castan, que acabou expulso do jogo. O chute marcou a rodada de domingo do Campeonato Brasileiro. Apesar da forte cena, o goleiro está bem, "sem suspeita de fratura ou uma lesão mais grave", tranquilizou o médico tricolor pelas redes sociais do clube baiano.

De qualquer forma, a situação traz à tona a discussão sobre concussão, um dos temas mais debatidos pelo futebol já em 2021. A exemplo da Premier League que adotará o novo protocolo para choques de cabeças a partir do próximo sábado, 6 de fevereiro, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) seguirá o mesmo caminho. O Lei em Campo procurou a entidade brasileira para saber suas pretensões sobre o tema.

"Está sim na pauta para definirmos em que competição esse protocolo será aplicado. A Comissão Médica de Competições e Arbitragem ainda não definiu", contou Jorge Pagura, diretor médico da CBF.

Para o médico e estudioso da área de concussão no esporte, Hermano Pinheiro, a medida é um avanço para o esporte.

"A adoção de substituições adicionais em suspeita de concussão cerebral é uma evolução importante no protocolo existente no futebol profissional. A Premier League adotará essa iniciativa a partir de fevereiro e no Brasil a CBF deveria seguir o exemplo. Atualmente, os 3 minutos de paralisação são insuficientes para uma avaliação neurológica adequada", avaliou Hermano.

"Essa medida da FIFA é extremamente válida, mesmo que ainda insuficiente. Não é possível falar que haverá benefício esportivo nesses casos, e a preservação da saúde do atleta deveria ser a principal preocupação. Na NBA, por exemplo, a substituição não só é permitida como é obrigatória. Em casos de concussão há um processo rígido para que os atletas possam voltar a atuar", afirmou Vinicius Loureiro, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo.

Andrei Kampff, advogado, jornalista e autor desse blog, lembra que é "fundamental evoluir e trabalhar dentro dessa nova regra com um médico independente para fazer esse trabalho de observação pós choque de cabeça. Protocolo do futebol avança na proteção aos atletas, mas ainda é preciso caminhar mais".

Em janeiro, a Fifa confirmou que o Mundial de Clubes 2020, a ser disputado no Catar entre 1º e 11 de fevereiro com a presença do Palmeiras, que conquistou a Libertadores no sábado (30), também testará o novo protocolo. A medida permite aos clubes fazerem substituições extras em caso de concussões. Essa será a primeira competição oficial da entidade que vai contar com a nova norma.

O protocolo de concussão foi aprovado pela International Football Association Board (IFAB), órgão regulador das regras do futebol, em dezembro de 2020. Segundo a Fifa, a medida pretende "priorizar o bem-estar dos jogadores" ao evitar duas concussões seguidas dos atletas e reduzir a pressão sobre a comissão técnica no momento da avaliação.

Na prática: caso um jogador sofra um choque de cabeça e seja constatado concussão, através dos testes realizados pela equipe médica, o clube poderá fazer uma substituição extra, mesmo se já tiver feito o número máximo de trocas ao longo da partida.

A concussão passou a ser um tema bastante discutido depois que familiares de ex-jogadores campeões mundiais com a Inglaterra em 1966, revelarem o diagnóstico da doença decorrente da prática do futebol, e o Lei em Campo tem alertado há bastante tempo sobre o problema.

"Estudos recentes mostram que não apenas choques de cabeça, mas como cabecear as bolas provocam pequenas lesões no cérebro que no longo prazo podem provocar Encefalopatia Traumática Crônica, a chamada demência do pugilista. Esses estudos podem trazer mudanças ainda mais profundas no jogo no longo prazo", completou Vinicius Loureiro.

A decisão da IFAB e da Fifa de mudar as regras é um caminho para proteger a saúde dos atletas, mas é só o começo. É preciso mais.

"Esperamos que essa medida tenha vindo para ficar. Precisamos ver como será na prática. É um passo importante, mas outras mudanças devem ocorrer também na maneira como esse problema é abordado no futebol. Médicos independentes no dia do jogo, uso do VR para análise de casos suspeitos, médicos e fisioterapeutas independentes do time para atestar o retorno do atleta aos jogos, ter dados neurocognitivos e funcionais baseline (aqueles obtidos na pré-temporada) de todos os atletas para determinar quando o retorno aos treinos de contato e aos jogos deve ocorrer. Poucas equipes possuem esses dados hoje. Há ainda um longo caminho pela frente", finalizou Hermano Pinheiro.

Andrei destaca que "o esporte muda a partir de provocações. A provocação pode aparecer como forma de aprimorar o jogo, ou de dar mais proteção a quem joga. E ela pode se manifestar a partir de processos judiciais, de tragédias, mas também do entendimento científico e humano de que o esporte precisa proteger a saúde de quem pratica. Esse entendimento é fundamental para o jogo e para o Direito Esportivo"

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