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OPINIÃO

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Apesar de Messi, Mbappe, Modric e Ziyech, a Fifa já saiu derrotada da Copa

Andrei Kampff

13/12/2022 04h00

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A Copa pode ser de Messi, de Mbappe, ou de Modric, ou de Ziyech. Será preciso esperar até domingo para saber. O que já se sabe é que essa já é a "Copa da Vergonha" para o futebol.

Os conflitos que prometiam aparecer ao levar um evento global para um país que tem leis que violam direitos universais acabaram se confirmando. Cerceamento de liberdade de imprensa, de expressão, violação a direitos humanos e uma série de denúncias que pipocaram durante os dias de mundial escancararam um erro que era anunciado.

É verdade que a escolha da sede da Copa foi feita em um processo que gerou o maior escândalo da história do futebol, o Fifagate. Para quem quiser entender mais, tem séries para todos os gostos em diferentes plataformas. Jogo da Corrupção no Prime Video, Esquemas da Fifa na Netflix e Os Homens que Venderam a Copa do Mundo na HBO explicam direitinho como se deu esse processo.

Mesmo assim, a Fifa decidiu manter a Copa no país árabe. No Qatar, as mulheres são consideradas cidadãs de segunda classe, a homossexualidade é crime e a imprensa é censurada. E quem quisesse defender esses direitos esquecidos foi perseguido no país durante o mundial, sob os olhares da silenciosa Fifa.

A ameaça da Fifa de punir atletas que entrassem em campo com a braçadeira de apoio à comunidade LGBTQIA + , ou seja, a defesa de direitos humanos, foi apenas um outdoor de muitos absurdos.

Tudo isso viola direitos humanos internacionalmente consagrados e a própria política do futebol.

Fifa e direitos humanos

É importante entender que o esporte não se afasta do direito e o direito tem como base a proteção de direitos humanos. A Declaração Universal de Direitos Humanos, tratados internacionais e os próprios regramentos internos da Fifa reforçam esse compromisso inegociável.

Basta dar uma olhada no estatuto da entidade, a "constituição" do movimento privado do futebol.

No art 4. 2, a entidade se declara neutra em matéria política e religiosa (tentando proteger a utopia da neutralidade esportiva). Mas complementa escrevendo que exceções se darão em casos que dizerem respeito aos objetivos estatutários da Fifa.

Um pouquinho antes, o artigo 3 do estatuto diz que a Fifa protege direitos humanos.

A entidade traz ainda a Política de Direitos Humanos apresentada em 2017 e um novo Código Disciplinar que se tornou mais rigoroso no combate ao preconceito.

A verdade é que a Fifa precisa decidir se abraça ou não sua política de direitos humanos. A autorregulação não pode ser só propaganda institucional, precisa ser guia concreto de conduta.

E o legado?

Não se trata aqui de querer mudar as leis do Qatar. Muito menos de não respeitar a soberania do país. O que se discute ao levar a Copa para o Qatar é a política de direitos humanos da FIFA. Ela é para valer ou não?

Se as leis estatais no Qatar - e é preciso entender realidade local - dificilmente mudarão, o esporte precisa aprender com essas irritações e avançar na proteção de compromissos inseparáveis.

As medidas tomadas para escolhas das sedes de grandes eventos esportivos decorrem também de recomendações constantes em suas políticas e regramentos internos.

Isso mostra uma resposta efetiva do movimento esportivo às críticas que sofreu relacionadas a questões como sustentabilidade, transparência, gestão e respeito aos direitos humanos depois de processos traumáticos.

A Copa do Qatar, mesmo sem terminar, já se coloca ao lado de outros dois erros históricos do esporte: a Olímpíada na Berlim de Hitler em 1936 e a Copa do Mundo da ditadura Argentina em 1978.

Sim, o erro foi gigante.

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