Topo

Lei em Campo

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Terra sem lei? Vini Jr volta a ser alvo de racismo e esporte segue omisso

Gabriel Coccetrone

27/01/2023 09h45

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O atacante Vini Jr voltou a ser alvo de racismo na Espanha. Um boneco, com a camisa do brasileiro, foi pendurado pelo pescoço em uma ponte na cidade, simulando enforcamento. O ato foi realizado nesta quarta-feira (26), horas antes do clássico entre Real Madrid e Atlético de Madrid, pelas quartas de final da Copa do Rei. Recentemente, o jogador foi alvo de inúmeros ataques racistas no país, porém, poucas punições foram aplicadas aos criminosos. Segundo especialistas, as autoridades esportivas espanholas têm obrigação de punir severamente que pratica tais crimes.

"O futebol é o maior instrumento de integração social e congraçamento dos povos, não podendo admitir qualquer tipo de discriminação. Esperamos que as autoridades do futebol punam exemplarmente todos aqueles que, por ação ou omissão, permitiram esse 'gol contra'. Por fim... ¡Baila, Vini!", diz Luiz Marcondes, advogado especializado em direito desportivo.

João Paulo di Carlo, advogado especialista em direito desportivo e colunista do Lei em Campo, explica que desportivamente, por ter ocorrido longe dos arredores do Estádio, não deve haver punição, mas que o ato deve ser investigado e os seus autores punidos de maneira exemplar na esfera penal.

"A cena emblemática de um boneco do atleta Vini Jr. sendo enforcado e pendurado em uma via pública, ultrapassa qualquer limite tolerável de rivalidade e se configura em um crime de ódio. Nesse sentido, por não ter sido realizado em dia de partida, longe dos arredores do Estádio, ou até de meios de transporte organizados para comparecer ao evento, como preceitua a Lei 19/2007, afasta qualquer possibilidade de punição em âmbito administrativo e, obviamente, no desportivo também. No entanto, resta a esfera penal, onde o crime deve ser investigado de forma rígida e seus autores punidos severamente", afirma.

Ele ressalta ainda que as entidades esportivas espanholas têm o dever de punir os responsáveis pelos atos racistas e de violência.

"Com o aumento da violência e atos racistas promovidos por parte da torcida do Atlético, cabe à LaLiga, Real Federação Espanhola, ao Conselho Superior do Esporte e demais órgãos, aplicarem, dentro de suas competências, as medidas cabíveis para prevenir, educar e, acima de tudo, sancionar os responsáveis. O racismo, o ódio e a intolerância não estão em conformidade com os valores do esporte e da sociedade", acrescenta.

Andrei Kampff, jornalista e advogado que assina essa coluna, reforça que "esporte é instrumento de proteção de direitos humanos. Por isso, entidades esportivas têm dever de combater qualquer tipo de preconceito. E elas têm mecanismos internos para isso. Portanto, a ação precisa ser do Estado e do esporte, trabalhando juntos na proteção de direitos humanos".

Após o ato tomar conta das redes sociais e dos jornais, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Real Madrid, Atlético de Madrid, LaLiga, Federação Espanhola e outras entidades divulgaram nota condenado o ocorrido.

Vini Jr é alvo recorrente de racismo na Espanha. O jogador foi vítima de preconceito racial ao menos em três ocasiões nos últimos meses: no Camp Nou contra o Barcelona em novembro de 2021; contra o Atlético de Madrid em setembro de 2022; e em partida contra Valladolid em dezembro do ano passado.

Em todas as ocasiões, a promotoria da capital espanhola decidiu não apresentar denúncia, pois segundo comunicado, "as ofensas duraram apenas alguns segundos" e não constituíam crime em sí. Em dezembro, Vini Jr acusou a LaLiga, responsável pela organização do Campeonato Espanhol, de omissão sobre torcedores racistas nas partidas, depois que vídeos nas redes sociais mostraram torcedores xingando e jogando objetos contra ele durante a partida contra o Valladolid.

Reunião Extraordinária

A Comissão Estatal contra Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância no Esporte da Espanha marcou uma reunião extraordinária para a próxima segunda-feira (30), na sede da Procuradoria Geral do Estado, em Madri.

"Nessa reunião, serão discutidos os episódios desprezíveis de violência que continuam ocorrendo no meio esportivo e social, e que a (Comissão) Antiviolência condena veementemente", diz o comunicado divulgado pela comissão.

O órgão cobrou ainda as entidades esportivas e das torcidas de futebol que respeitem a integridade, dignidade e os valores que representam o esporte.

Dentro de campo, o Real Madrid derrotou o Atlético de Madrid por 3 a 1. O último gol dos merengues, nos acréscimos da prorrogação, foi marcado justamente por Vini Jr, que como bom brasileiro, comemorou o tento dançando.

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo