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Até quando? Omissão das autoridades espanholas piora onda do preconceito

Gabriel Coccetrone

26/04/2023 20h48

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O atacante Vinicius Júnior voltou a ser alvo de racismo na Espanha nesta terça-feira (25). Durante a derrota do Real Madrid por 4 a 2 para o Girona, no Estádio Municipal de Montilivi, pela 31ª rodada do Campeonato Espanhol, o brasileiro teve mais uma grande atuação e acabou ofendido com gritos racistas por parte dos torcedores do time da casa.

Para especialistas, a falta de punições rigorosas por parte das autoridades espanholas e entidades esportivas do país faz com que os criminosos travestidos de torcedores continuem agindo dessa forma contra o jovem atacante.

"A repetição de insultos racistas direcionados ao Vinícius Junior, jogo após jogo, fez com que a LaLiga criasse uma comissão específica para cuidar unicamente de casos de racismo contra o brasileiro. Isso mostra, ao menos, que alguma importância tem sido dada a esses lamentáveis fatos. Mas seria suficiente? Se os fatos seguem se repetindo, é porque isso não basta. E ao meu ver, isso ocorre porque as punições aos indivíduos são raras e brandas", analisa Marcel Belfiore, advogado especialista em direito desportivo.

O advogado entende que todos os esforços têm que ser concentrados na identificação e punição exemplar dos indivíduos que cometem esses atos.

"Na minha opinião, punir os clubes não resolve o problema, talvez o agrave. Todos os esforços têm que ser concentrados na identificação e punição exemplar dos indivíduos que cometem esses atos, ainda que sejam centenas deles. Todos devem estar envolvidos na identificação dos torcedores racistas, principalmente os clubes, mas ao final, de nada adianta se apenas poucos deles são punidos e com penas que simplesmente os deixem fora dos estádios por alguns meses. Atos de racismo devem ser punidos com prisão, mas para isso não basta um esforço da LaLiga, é preciso que as leis do país se tornem mais rígidas", acrescenta Belfiore.

João Paulo Di Carlo, advogado especializado em direito desportivo, ressalta que "até agora, as punições aplicadas pela Comissão Estatal contra Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância, previstas na Lei 19/2007, tem se mostrado insuficientes".

"Devemos ressaltar que o esporte na Espanha possui um alto viés público, o que impede devido a limitação de competência, a aplicação de sanções por parte de Laliga e da Real Federação Espanhola (RFEF) aos atos de racismo. O papel de Laliga e da RFEF é detectar as ocorrências e denunciar as autoridades competentes, tanto na esfera administrativa, quanto na penal. Contudo, isso não impede da instauração de medidas sócio educativas e de campanhas para impedir essa conduta repugnante. O racismo deve ser combatido por todos", afirma.

Após marcar um gol aos 34 minutos do primeiro tempo, Vini Jr escutou os torcedores do Girona entoarem gritos de "mono, mono" ("macaco" em espanhol) vindo das arquibancadas do estádio. Em resposta às ofensas, o brasileiro começou a passar a mão no patch de campeão mundial que está costurado na camisa do Real Madrid, título conquistado em fevereiro, em direção aos torcedores rivais.

Além dos gritos racistas, a cada toque de Vini Jr na bola as arquibancadas vaiavam e xingavam o atacante. Apesar de mais uma excelente atuação do atacante, com um gol e uma assistência para Lucas Vásquez, o Real Madrid perdeu de 4 a 2 para o Girona, com quatro gols de Valentin Castellanos.

No ano passado, Vini Jr cobrou a LaLiga publicamente pela primeira vez. Na época, o brasileiro escreveu em suas redes sociais: "os racistas seguem indo aos estádios e assistindo ao maior clube do mundo de perto e a @LaLiga segue sem fazer nada... Seguirei de cabeça erguida e comemorando as minhas vitórias e do Madrid. No final a culpa é MINHA".

Em resposta ao atacante merengue, a Liga responsável pelo Campeonato Espanhol disse que seria mais rígida com os casos de racismo e anunciou a criação de uma Comissão Especial para acompanhar os jogos nos estádios. Apesar disso, os casos de racismo contra o brasileiro não cessaram. Torcedores do Valladolid e Mallorca foram punidos com multas e suspensões dos estádios por ataques racistas a Vini Jr.

Até o começo de abril, a LaLiga já apresentou oito denúncias à Justiça espanhol sobre manifestações racistas direcionadas a Vini Jr somente nesta temporada. Torcidas de Barcelona, Mallorca, Valladolid, Betis e Atlético de Madrid já ofenderam o atacante.

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