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Copa do Mundo terá ferramenta importante para proteger atletas de assédio

Gabril Coccetrone

21/06/2023 08h33

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A FIFA anunciou no último domingo (18) que a Copa do Mundo Feminina 2023, disputada na Austrália e Nova Zelândia de 20 de julho a 20 de agosto, contará com uma ferramenta nas redes sociais para proteger as jogadoras de assédio, abusos e mensagens ofensivas.

Desenvolvida pela FIFA e a FIFPRO (Sindicato Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol), a ferramenta é chamada de Serviço de Proteção das Redes Sociais (SMPS). Ela conta com a inteligência artificial para monitorar e moderar o discurso de ódio nas redes sociais, ocultando conteúdos ofensivos.

Para especialistas, ações deste tipo são importantes e podem ser importantes no combate a crimes digitais, em especial, no esporte.

"Há tempos a internet é palco de discussão se é possível ou válido, à luz dos direitos humanos, cercear manifestações em redes sociais. É claro que a discussão não é simples, mas neste aspecto necessária. Muitos elevam as liberdades individuais da pessoa à patamares isolados dentro de uma sociedade, esquecendo que a liberdade da outra pessoa também deve ser resguardada, o que leva a pseudônima ideia de injustiças. Neste aspecto, a ação promovida pela FIFA destaca e protagoniza seu fundamental papel de promoção do desenvolvimento e da paz, pautada nas três dimensões dos direitos humanos: liberdade, igualdade e fraternidade - que destacam o valor maior de dignidade humana", conta a advogada Alessandra Ambrogi, especialista em direitos humanos.

O advogado Vinicius Loureiro, especialista em direito desportivo, diz que "é interessante ver a FIFA tomando atitudes para coibir crimes digitais", mas que é necessário saber quão disposta a entidade está, uma vez que a simples identificação não é suficiente para esses casos, sendo importante que queixas sejam formalizadas junto às autoridades competentes.

"Com as diversas normas internacionais, sequer é possível saber se há estrutura jurídica na entidade para tal, ou se atletas e outros partícipes do evento se permitirão representar pela entidade máxima do futebol nesses casos. A ação, de difícil operacionalização, parece interessante se efetivamente for posta em prática. Até lá, pode ser apenas mais uma forma da entidade passar sobre si um verniz de ESG, como já ocorreu tantas vezes, no esporte e fora dele", entende.

Para Alessandra Ambrogi, a ferramenta ganha destaque, ao demonstrar o basta do esporte à discriminação, discurso de ódio e à violência, sem perder de vista outra de suas funções que é promover, de maneira ordenada em escala mundial, o futebol.

"Não há conflito de interesses ou colisão de direitos humanos, pensar que estes podem sofrer restrições apequenam o gigante que é o ser humano. O fato de alguém ser responsabilizado por se expressar ou ter uma opinião que viole o direito de outrem, pressupõe o uso de seu direito em se manifestar, além do mais, não podemos esquecer que estamos lidando com trabalhadores que têm o direito de exercer seu trabalho em um âmbito sadio e humanizado, livre de todo tipo de preconceito, discriminação e violência. Sobretudo por estes motivos, válida a iniciativa da FIFA", avalia a advogada.

Vinicius Loureiro reforça que é preciso mais do que discurso e anúncios, e que se a FIFA de fato seguir esse caminho, outras entidades desportivas podem seguir o exemplo.

Relatório reforça que problema é grave

O anúncio aconteceu no mesmo dia em que a FIFPRO divulgou um relatório apontando que a Copa do Mundo de 2022, realizada no Qatar, teve quase 20 mil conteúdos ofensivos nas redes sociais contra jogadores que disputaram o Mundial.

Segundo o documento, foram identificados 19.636 postagens e/ou comentários ofensivos destinados aos atletas. A partida entre Inglaterra e França, pelas quartas de final, foi a que registrou o maior pico.

Além disso, também se verificou no relatório a origem destes conteúdos: 38% da Europa e 36% da América do Sul. Os países dos dois continentes somam um total de 74% dos conteúdos.

"A discriminação é um crime. Nós estamos identificando os agressores e denunciando-os às autoridades para que sejam punidos por seus atos. Também esperamos que as plataformas das redes sociais aceitem sua responsabilidade e nos apoiem na luta contra todas as formas de discriminação. Nossa posição é clara: nós dizemos não à discriminação" disse o presidente da FIFA, Gianni Infantino.

O relatório foi produzido a partir do SMPS. A coleta de conteúdos discriminatórios foi resultado de uma varredura de mais de 20 milhões de postagens e comentários nas redes sociais: Facebook, Instagram, TikTok, Twitter e YouTube.

Segundo o documento, um total de 286.895 comentários foram ocultados do público antes que o destinatário ou seus seguidores pudessem ver o conteúdo.

A FIFA informou que mais de 300 pessoas foram identificadas e que vai compartilhar todas as informações com autoridades para que sejam tomadas medidas necessárias.

"A FIFPRO e a FIFA darão continuidade à sua colaboração para estabelecer o mesmo serviço na Copa do Mundo Feminina na Austrália e Nova Zelândia. Mas nós não podemos fazer isto sozinhos. Nós precisamos que todas as partes interessadas cumpram o seu papel", disse o presidente da FIFPro, David Aganzo.

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