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Estudo analisa atuação das redes de desinformação nos Jogos de Paris 2024

Um estudo produzido pelo Núcleo de Integridade da Informação (NII), da agência NOVA, analisou as notícias falsas (fake news) relacionadas a debates políticos em torno dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. O 'Relatório Check Up Fake News' analisou manualmente cerca de 1.000 posts nos dias úteis entre 21 de julho e 11 de agosto de 2024, totalizando aproximadamente 17 mil posts avaliados, que cobrem diversos temas políticos que circularam nesse período.

Os posts foram extraídos de uma base total de pouco mais de 585 mil publicações. Dos conteúdos analisados manualmente, foram selecionadas todas as menções ao termo "Olimpíadas", com o intuito de identificar as principais narrativas falsas que relacionaram pautas políticas aos Jogos de Paris-2024.

De acordo com o estudo, seis temas mobilizaram o maior volume de posts e incluíram publicações desinformativas, sendo eles: críticas aos uniformes da delegação brasileira; presença da primeira-dama (Janja) em Paris; apresentações da cerimônia de abertura; falta de investimento em esporte no Brasil; ataques a atleta apontada como mulher transgênero; e incidência de impostos sobre a premiação de atletas medalhistas.

As narrativas políticas falsas sobre os Jogos Olímpicos de Paris 2024

O estudo apontou quais foram as principais narrativas políticas falsas relacionadas ao evento realizado na capital francesa.

Após a delegação brasileira apresentar os uniformes oficiais dos atletas, incluindo os trajes da cerimônia de abertura, posts difundiram a fake news de que o Ministério dos Esportes, e não o COB (Comitê Olímpico do Brasil), era o responsável pelo fornecimento dos kits. Usuários também criticaram a "falta de amarelo" nas roupas e disseram que isso seria uma "demonstração de ódio" pelo País e falta de respeito com o povo brasileiro. Outra versão falsa que circulou foi de que Janja teria ajudado a escolher as peças.

A primeira-dama também foi alvo de ataques por comparecer à abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 como representante oficial do Brasil. Perfis compartilharam post do jornal Estadão que questionava se "Lula deveria enviar Alckmin em vez de Janja para abertura das Olimpíadas". Usuários trataram a presença de Janja como algo incomum e omitiram que a atual primeira-dama dos Estados Unidos, Jill Biden, também representou seu país. Perfis influenciadores também mobilizaram a versão de "gastança", dizendo que a primeira-dama "é medalha de ouro em gastos do dinheiro público".

Após a cerimônia de abertura, posts alegaram que a organização dos Jogos estaria perseguindo cristãos e que teria feito uma "sátira da Santa Ceia com pessoas LGBT" em uma das apresentações. Usuários falaram em "blasfêmia e heresia patrocinada pelos globalistas", o que foi atribuído à esquerda francesa. O diretor artístico da cerimônia, Thomas Jolly, rebateu as críticas e disse que não foi uma paródia da Santa Ceia, mas uma representação do deus Dionísio.

Também circulou vídeo em que o apresentador Marcos Mion culpou o governo pelo mau desempenho do Brasil nas Olimpíadas e falou em falta de investimentos no Esporte. Usuários alegaram que as críticas foram direcionadas a Lula e perfis de esquerda foram acusados de atacar o apresentador. Mion mais tarde se desculpou, alegando que a fala foi "tirada do contexto". Em paralelo, posts falaram em "desrespeito contra as mulheres" ao repercutir fake news de que a boxeadora argelina Imane Khelif seria transexual, e alegaram que a esquerda apoia que "homens batam em mulheres".

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Já na segunda metade dos Jogos, a narrativa de "taxação olímpica" foi intensamente explorada por perfis que propagaram memes e distorceram informações oficiais. As imagens da ginasta Rebeca Andrade e da judoca Bia Souza foram usadas para pautar a versão de que as medalhas de ouro seriam taxadas. Influenciadores aproveitaram para dar a entender que a incidência de impostos sobre a premiação em dinheiro seria uma medida recente do governo, repetindo exaustivamente menções a "Taxadd".

Principais perfis no debate político sobre os Jogos Olímpicos de Paris 2024

O material identificou dois agrupamentos principais. Um cluster que agrega 80% das interações do grafo e é dominado por perfis de direita. Tiveram influência nesse cluster os influenciadores Leandro Ruschel e Marco Antônio Costa e a deputada federal Carol de Toni. Esse agrupamento mobilizou a narrativa de "ataque da esquerda globalista ao Cristianismo" na abertura dos Jogos Olímpicos.

Por outro lado, há um cluster que agrega contas de esquerda, com menor interação, com destaque para o perfil Pesquisas e Análises Eleições, o influenciador Thiago dos Reis e o jornalista Guga Noblat. Circularam nesse agrupamento posts sobre a cobrança de impostos das premiações dos medalhistas olímpicos. Usuários lembraram que, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, medalhistas pagaram R$ 1,2 milhão em impostos.

Pesquisador comenta estudo

Marcus Di Flora, pesquisador que desenvolveu o relatório, afirma que "o que se confirma com este estudo é que as redes de desinformação não têm limites à sua atuação".

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"Elas (redes de desinformação) não se limitam aos embates nacionais recorrentes na política. Hoje elas transcendem fronteiras e agem no sentido de minar toda e qualquer referência civilizatória do planeta. E a vítima da vez foram os Jogos Olímpicos", avaliou o analista-chefe do NII.

"Diversos estudos no mundo têm destacado que parte do sucesso das fake news está relacionado ao que se chama economia da atenção, que é o tempo e a sucessão de vezes que uma pessoa fica exposta a determinadas fakes, como parte essencial do processo de convencimento delas de que a mentira é verdade", concluiu.

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