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Caso no Inter é recado para todos dirigentes no Brasil: façam o certo

Repercutiu pouco uma notícia vinda de Porto Alegre e que interessa a todos no Brasil. O ex-presidente do Internacional, Vitorio Piffero, e o ex-vice de finanças, Pedro Affatato, voltaram a ser condenados pela Justiça do Rio Grande do Sul nesta quinta-feira (21). A decisão foi proferida pela 2ª Vara Estadual de Processo e Julgamento de Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, em Porto Alegre, e refere-se a crimes cometidos pela dupla entre 2015 e 2016. A notícia é mais um alerta para todos os dirigentes no Brasil: integridade não é mais apenas uma questão moral, é sobrevivência.

Em abril de 2019, tive uma conversa com um dirigente de um grande clube brasileiro sobre a importância de implementar projetos de compliance no futebol. Disse a ele que o que hoje poderia ser visto como uma questão moral, em breve se tornaria uma obrigação legal e, mais adiante, uma questão de sobrevivência. Depois da primeira condenação dos ex-dirigentes do colorado, em março, ele me ligou e disse: "lembrei de você".

Essa foi a terceira condenação na justiça comum dos ex-dirigentes O caso talvez seja o maior outdoor sobre a importância de uma atuação conjunta entre os clubes e o Estado para garantir a integridade no esporte.

O Processo Interno e a Justiça Comum

O Internacional deu início a um processo exemplar: coletou provas, conduziu investigações internas, julgou os envolvidos e baniu os dirigentes do clube. Em seguida, encaminhou os documentos ao Ministério Público, que iniciou uma nova investigação, culminando na sentença condenatória de 4 de março, a primeira.

Esse duplo movimento - sanção no âmbito privado e punição criminal na Justiça Comum - demonstra que é possível responsabilizar dirigentes de forma abrangente. O esporte tem mostrado que o investimento em integridade deixou de ser apenas uma questão ética: tornou-se uma necessidade estratégica para a sobrevivência das instituições.

A verdade é que a vida de gestores irresponsáveis e criminosos está ficando cada vez mais difícil. Isso porque, além do avanço das práticas de autorregulação no esporte, o Estado decidiu agir, com apoio dos próprios clubes.

A Democracia Interna como Pilar de Proteção

A condenação dos ex-dirigentes do Internacional também é uma vitória da democracia interna do clube e do modelo associativo. Movimentos internos de mobilização de associados, investigações robustas e punições efetivas mostraram que, sim, existem caminhos legais para investigar, julgar e condenar gestores que prejudicam as instituições esportivas.

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Essa mudança é reforçada pela nova Lei Geral do Esporte, aprovada em 2023, que tipifica o crime de corrupção privada no Brasil. O avanço legislativo é fundamental, mas vale destacar que as ações do Internacional demonstram que a proteção das instituições pode - e deve - começar de dentro.

Também é verdade que essa conquista só foi possível porque o esporte tem se protegido com regras e políticas de integridade desenvolvidas internamente. A autonomia do esporte, um de seus pilares fundamentais, permite que clubes criem normas próprias de funcionamento e participação, forçando seus membros a seguir padrões éticos e de governança.

Autorregulação: Um Caminho Necessário

Exemplos de autorregulação já estão em prática no cenário esportivo global. O fair play financeiro e o Licenciamento de Clubes da FIFA são regulamentações que buscam garantir integridade, transparência e equilíbrio competitivo. No Brasil, a CBF já implementou o Licenciamento de Clubes e promete adotar, em breve, um sistema de fair play financeiro (quando. CBF?).

Outro instrumento promissor é o CNRD (Câmara Nacional de Resolução de Disputas), que também contribui para uma gestão mais profissional e transparente. Essa evolução regulatória não apenas transforma a administração esportiva, mas impacta o próprio Direito Desportivo, consolidando um ambiente de maior segurança jurídica.

Os Desafios da Gestão Moderna

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O caso do Internacional é um alerta: os clubes precisam modernizar suas gestões. Conselhos atuantes e autônomos, comitês de ética, estatutos atualizados, transparência e ouvidorias independentes são ferramentas essenciais para proteger as instituições contra abusos.

A condenação criminal dos dirigentes do Internacional reforça a urgência da profissionalização da gestão esportiva e da implementação de mecanismos de compliance. Aqueles que resistirem a essas mudanças aprenderão, como os ex-dirigentes do clube gaúcho, da forma mais dura.

O Internacional mostrou que é possível transformar crises em oportunidades para fortalecer a governança e a integridade institucional. O esporte brasileiro precisa seguir esse exemplo - e quem não enxergar essa nova realidade, já ficou para trás.

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