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Prêmio de Thiago Maia representa força do esporte na defesa de quem precisa

É preciso aproveitar o prêmio de Thiago Maia para falar de algo sempre necessário, a força do esporte na proteção de direitos humanos. O prêmio "Fair Play"- recentemente criado pela FIFA - valoriza uma essência do esporte: a coletividade e o relacionamento com o próximo.

É verdade que o futebol (como associação esportiva) só se rendeu a direitos humanos depois do escândalo do Fifagate e por pressão externa. Tanto por lá, como por aqui. E que muitas vezes fica escancarado - Copa na Arábia Saudita - que ele tá longe de ser uma prioridade diante de milhões do negócio. Agora, mesmo que forçado, um prêmio como o que Thiago Maia recebeu sempre trará essa reflexão sobre o compromisso do esporte com o próximo.

Que bom.

Olhar o próximo

O Rio Grande do Sul viveu em maio uma tragédia climática, social e econômica sem precedentes. Nem os gaúchos tem ma real dimensão do quanto o estado inteiro sofreu, chorou e lutou como agora. Em um momento tão difícil, não há outro caminho solidário que não seja o de olhar para a vítima e ouví-la.

Temos historicamente o hábito de falarmos (decidirmos) pelos outros. O colonizador pelo colonizado, o branco pelo preto, o rico pelo pobre. Apresentamos o melhor caminho para aquele povo, para o fim do racismo e para mitigar desigualdade. Mas - muitas vezes - esquecemos de ouvir a vítima e ajudar na construção do problema que ela quer resolver.

Tem um livro muito legal - que me ajudou na elaboração do meu livro Direitos Humanos e esporte, como Caso George Floyd ajudou a mudar regras do jogo - que é de uma escritora indiana e o título já é uma provocação "Pode o subalterno falar?

O livro foi escrito pela teórica pós-colonial Gayatri Spivak. Neste livro, a escritora aborda questões relacionadas à representação e à voz dos grupos subalternos na sociedade, especialmente em contextos pós-coloniais. O termo "subalterno" refere-se a grupos sociais marginalizados, muitas vezes silenciados ou ignorados pela hegemonia política e cultural.

Spivak examina como o conhecimento é produzido e transmitido, destacando as complexidades e desafios enfrentados pelos subalternos ao tentarem articular suas próprias experiências e perspectivas dentro de estruturas dominantes. O livro é uma contribuição importante para os estudos pós-coloniais e para o entendimento das dinâmicas de poder e representação na sociedade contemporânea.

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E uma lição também para o que aconteceu no Rio Grande do Sul.

O feito de Maia

Entre tantas perdas, dor, sofrimento, o esporte, claro, também aparece como elemento importante entre as várias discussões.

Primeiro, como fator social de mobilização. Atletas se fazendo presente. Jogadores da dupla Grenal e atletas de vários esportes estendendo a mão para quem precisa de um abraço, servindo comida para quem tem fome, carregando nos braços quem já não tem mais força.

E Thiago Maia que se colocou na linha de frente do resgate se tornou um símbolo desse movimento. Mergulhando sozinho em águas perigosas e emergindo de lá com um sobrevivente da tragédia.

Ele foi fundamental para catalisar uma corrente de solidariedade pelo Brasil e parte do mundo, ajudando a apresentar a tragédia e buscar recursos.

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Maia - e outros atletas da dupla Grenal e de vários esportes - entenderam que era a hora de ouvir o próximo, de olhar pro lado e de esquecer o próprio umbigo. Deu um exemplo que valeu na tragédia e vale para sempre: é preciso ouvir e entender o que quem sofre precisa.

O papel do esporte

Esporte e direitos humanos não se afastam. Além de ser da natureza do esporte, as cartas de FIFA e do COI reforçam esse compromisso. O esporte tem papel importante no mundo, reconhecido inclusive pela Organização das Nações Unidas, a ONU.

O dia 6 de abril é o Dia Internacional do Esporte para Desenvolvimento e pela Paz. A Organização das Nações Unidas criou a data devido a relevância política do esporte e escolheu a data para relembrar a realização dos primeiros Jogos Olímpicos Modernos, em 1896, na Grécia.

O esporte como instrumento de paz e desenvolvimento já tem o reconhecimento da ONU há algum tempo. Em 2003 foi publicada a Resolução 58/5, intitulada "Esporte como um meio para promover educação, saúde, desenvolvimento e paz".

Em 2005, a Resolução A/60/L.1, seguia essa mesma linha e reconhecia o esporte como promotor de paz e desenvolvimento. Diz a resolução que:

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7. Acreditamos que hoje, mais do que nunca, vivemos num mundo global e interdependente. Nenhum Estado pode existir numa situação de total isolamento. Reconhecemos que a segurança coletiva depende de uma cooperação eficaz na luta contra ameaças transnacionais, em conformidade com o direito internacional."

Os chefes de Estado, através da ONU, reafirmam seu compromisso na construção e manutenção da paz e do respeito aos Direitos Humanos.

Ou seja, o principal órgão mundial de política internacional reconhece a importância do esporte como meio eficaz na busca não somente da consecução dos "Objetivos do Milênio", mas reforçam o esporte como instrumento da valorização da cultura de paz e a observância dos Direitos Humanos.

Dessa forma, a Resolução da ONU traz o esporte como uma das mais valorizadas medidas a serem promovidas pelos países membros das Nações Unidas:

145. Salientamos que o desporto pode ajudar a promover a paz e o desenvolvimento e contribuir para um clima de tolerância e compreensão, e incentivamos o debate de propostas a utilização do termo "desporto" em vez de "esporte", o que sobressai nesse ponto 145 da norma da ONU é (1) a importância do esporte na promoção da paz e do desenvolvimento e (2) sua relevância na promoção dos direitos humanos, por meio da construção de um clima de tolerância e compreensão.

O esporte parou guerras, parou por causa de guerras, parou por ajuda humanitária.

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O esporte parou por causa das vítimas no Rio Grande do Sul, ainda bem!

O esporte tem o dever de se engajar em causas do mundo, devendo estar a serviço dele. Sempre lembrando que não existe esporte longe dos Direitos Humanos.

Ou seja, ouvir a vítima e entender a força do esporte em causas humanitárias. Thiago Maia é um outdoor de que isso é possível e, por isso, merece sempre todas as homenagens.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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