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Em Natal, um exemplo que pode ajudar o futebol no combate ao preconceito

O esporte transcende o simples ato de competir, ultrapassando os limites da vitória ou da derrota. Ele carrega um imenso potencial de transformação social, independentemente da sua intenção de reconhecer esse papel. A história está repleta de exemplos em que eventos esportivos se tornaram catalisadores de mudanças sociais significativas, seja em grandes arenas globais ou em pequenos campeonatos que indicam caminhos promissores para serem aplicados em contextos maiores.

Acompanhando o meu filho Théo que foi para o campeonato da academia do Paris Saint Germain em Natal, evento que reuniu centenas de crianças e milhares de participantes de todos os cantos do Brasil, me deparei com uma cena curiosa.

No meio do jogo entre Florianópolis e Grajaú todos os atletas se sentaram no campo e ficaram em silêncio por um bom tempo, enquanto a bola rolava nos outros três campos montados na Arena das Dunas.

Imediatamente liguei paro meu parceiro Duda, pai do craque Felipe que joga por Florianópolis, para saber o que era. Ele me explicou que "alguns pais se exaltaram na torcida, houve um princípio de confusão e o jogo foi paralisado nessa hora".

Depois, conversando com pessoas da organização, como Alex e Osmar, eles me explicaram que há um protocolo do campeonato que manda que a partida pare sempre que os princípios do campeonato não forem respeitados por pais/torcedores. Jogo para, traz prejuízo técnico para as crianças e cria um ambiente de reflexão geral.

Essa iniciativa chamou minha atenção como um exemplo concreto de boa prática que pode ser analisada, adaptada e implementada por ligas e federações. Sempre que houver manifestações contrárias aos valores do esporte, o árbitro pode interromper a partida e exigir que os atletas permaneçam no gramado, aguardando a resolução do problema.

Depois, justiça desportiva decide se haverá punição ao clube do torcedor e qual será a punição.

Um bom caminho para uma luta que precisa de resultados mais eficientes.

Futebol e Direitos Humanos

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Nos últimos anos, o combate ao racismo e à violência nos estádios ganhou força. No futebol, foram instituídos protocolos contra o preconceito, com alterações nos códigos esportivos para incluir penalidades mais severas a manifestações discriminatórias, seja por parte das torcidas ou dos envolvidos no jogo. Além disso, campanhas institucionais têm buscado reforçar esses valores.

Embora o avanço seja lento, especialistas acreditam que é possível acelerar o processo e tornar o esporte um espaço ainda mais inclusivo. Afinal, o futebol tem um compromisso inegociável com os direitos humanos. Ele une, não segrega. Promove a inclusão, não a exclusão.

A construção de uma política global de proteção aos direitos humanos ganhou força após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial, culminando na criação da ONU em 1945 e na promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) em 1948. Esse documento estabeleceu o caráter universal desses direitos, que, ao longo dos anos, foram incorporados em tratados e convenções internacionais ratificados por muitos países, incluindo o Brasil. No esporte, esses princípios também foram internalizados, tanto em regulamentos nacionais quanto em códigos de organizações como a FIFA.

Hoje, proteger os direitos humanos no esporte deixou de ser uma escolha: é um dever. A sociedade não aceita mais posturas passivas que apenas evitam desrespeitar esses direitos. Exige-se uma atitude ativa de proteção e promoção. Protocolos como o que presenciei em Natal mostram que é possível construir um ambiente mais inclusivo e respeitoso.

Assim como o racismo, a homofobia, o machismo e a violência, nenhuma forma de discriminação tem mais lugar no esporte. É essencial que direitos humanos e o ambiente esportivo caminhem juntos, reafirmando o esporte como ferramenta de inclusão e transformação.

O caminho necessário

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Quando pensamos em Direitos Humanos, o mundo contemporâneo tem exigido respostas e compromissos cada vez mais efetivos por parte dos Estados. E claro que o esporte não só deve seguir esse caminho, como ir além. Ser protagonista nesse movimento.

Não se aceita mais apenas uma postura passiva de respeito a direitos humanos (ou seja, eu não desrespeito e pronto), mas a sociedade cobra uma postura ativa, de proteção de direitos humanos.

Os tratados internacionais de proteção de Direitos Humanos, Constituição brasileira, a decisão do STF, o Código da Fifa e as decisões recentes do STJD são facilitadores nesse caminho.

O protocolo que vi em Natal também pode ser.

Assim como o racismo, a homofobia, misoginia, e todo tipo de preconceito, a violência não tem mais espaço em lugar nenhum, muito menos no sempre inclusivo esporte.

Proteger direitos humanos e o ambiente esportivo não é só uma escolha possível para o esporte, é um dever.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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