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Luís Rosa

REPORTAGEM

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Com poder econômico, Leila deve manter controle do Conselho Deliberativo

Presidente do Palmeiras, Leila Pereira usa seu poder econômico para manter controle do Conselho Deliberativo - Anderson Lira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Presidente do Palmeiras, Leila Pereira usa seu poder econômico para manter controle do Conselho Deliberativo Imagem: Anderson Lira/Futura Press/Estadão Conteúdo

06/03/2023 04h00Atualizada em 06/03/2023 15h59

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Com o apoio político e econômico da presidente Leila Pereira e a ajuda do corpo a corpo comandado pelo ex-mandatário Maurício Galiotte, os conselheiros da chapa da situação, Alcyr Ramos da Silva Júnior e Maurício Alves Camargo, são os favoritos a vencer, hoje, a partir das 19h, no Palestra Itália, as disputas das eleições, respectivamente, para presidente e vice do Conselho Deliberativo do Palmeiras.

Nesta eleição correm por fora como azarões, pela oposição, Carlos Antônio Faedo, como presidente, e Felipe Giocondo Cristovão. Candidato independente, Roberto Silva não teve nenhum parceiro para ajudá-lo como vice.

Os cerca de 300 conselheiros votam em cargos distintos, e não na chapa em conjunto. Até por causa disso, a candidatura de Roberto Silva foi registrada sem a necessidade de ter um postulante à vice-presidência.

Reuniões em restaurantes, convites para assistir aos jogos no camarote da presidência e, principalmente, a promessa de retornar benefícios para a compra de ingressos pelos conselheiros foram alguns dos "mimos" que a presidente Leila Pereira usou para recuperar o apoio de conselheiros da situação que estão insatisfeitos com a sua gestão.

Obviamente, como o voto é secreto, é difícil saber se todos os indecisos irão votar nos candidatos da situação, mas líderes da oposição ouvidos pelo UOL disseram que o poder econômico de Leila Pereira e a influência política de Maurício Galiotte são fatores que devem ser decisivos.

Foi dessa forma que, no mês passado, a situação ficou com 61 das 90 vagas na eleição da renovação do Conselho Deliberativo. Esses conselheiros tomam posse nesta segunda-feira.

Somado ao trabalho de corpo a corpo da situação, a oposição, ao invés de se unir, esfacelou-se e deixou Carlos Antonio Faedo e Felipe Giocondo Cristovão com menos apoio do que ambos esperavam.

Sinal de como a oposição não teve consenso em torno de um candidato é que o conselheiro Élio Esteves, mesmo com a possibilidade de atrair mais pessoas em apoio ao seu nome, desistiu por acreditar que não tinha como vencer o candidato da oposição.

Além disso, Roberto Silva, que era da situação e ocupava o cargo de diretor da secretaria-geral do clube, resolveu se lançar como candidato independente.

No começo da tarde da segunda-feira, Roberto Silva enviou uma carta aos conselheiros, na qual abriu mão da sua candidatura e deu apoio aos candidatos da oposição.

Em sua justificativa para tomar a decisão, Roberto Silva confirmou que a presidente Leila Pereira usou o seu poder econômico para conquistar votos de conselheiros indecisos.

"Pudemos ver uma movimentação muito grande até no grupo da situação, que sempre tratou e venceu com facilidade estes tipos de eleições. Movimentação essa que, infelizmente, continuou no caminho da nossa velha política, com nomeações de novos diretores, promessa de benefícios, de vitaliciedade, convites para jogos, pizzas e uísques", escreveu Roberto Silva.

Segundo UOL apurou uma caravana de conselheiros, bancada pela presidente, viajou à Campinas para acompanhar a partida entre Palmeiras e Guarani, no Brinco de Ouro da Princesa.

Confiram na íntegra a carta de Roberto Silva:

Queridos amigos e amigas do conselho deliberativo da Sociedade Esportiva Palmeiras,

Venho aqui neste momento demonstrar a maior gratidão e orgulho por todo o apoio e palavras de carinho por mim recebidas nestas últimas semanas. Sei que tomei uma decisão muito difícil, e mesmo sozinho e sem base de apoio de grupo algum, consegui plantar uma discussão importante neste nosso conselho, que ficou no foco máximo neste período, e foi valorizado como há muito não se via.

Pudemos ver uma movimentação muito grande até no grupo da situação, que sempre tratou e venceu com facilidade estes tipos de eleições. Movimentação essa que infelizmente continuou no caminho da nossa velha política, com nomeações de novos diretores, promessa de benefícios, de vitaliciedade, convites para jogos, pizzas e uísques. Mas independente da maneira que o fez, reconheceu através disso que precisava dar uma atenção e valorização maior a nosso conselho.

Conselho este que ao longo dos últimos anos vem cada vez mais perdendo o seu protagonismo e se tornando um órgão assessório. Estamos talvez no melhor momento financeiro e de resultados no futebol de nossa história, e é a hora de fazer a nossa política evoluir e acompanhar o nível da nossa instituição de futebol, hoje respeitada no mundo inteiro por seu profissionalismo.

Nós temos 300 cadeiras no conselho que hoje resumindo em palavras de verdade, não vem servindo para quase nada perto do que poderia ser a real função de um conselheiro do maior clube das américas. É muito pouco votar para aprovar balanços e previsões orçamentárias que você mal consegue ter acesso a dados e discutir. Os conselheiros(as) hoje são eleitos basicamente para escolher entre serem diretores estatutários ou membros da oposição.

E é por isso que friso aqui alguns dos meus pilares de campanha, que eu acredito que sejam praticamente unânimes em nosso conselho, e peço para que independente do resultado dessas eleições, nós tenhamos madurez o suficiente para começar a olhar para o futuro do nosso conselho, que vai ajudar a definir o futuro da nossa SEP, principalmente agora com o advindo de novos investimentos e profissionalismo no futebol brasileiro.

- Precisamos de uma reforma e atualização do nosso estatuto, que está claramente defasado. É necessário trazer uma visão de governança corporativa e compliance, não só à diretoria executiva, que hoje já aplica boas práticas, mas também a todos departamentos e ao conselho. Além disso, reforçar uma estrutura independente, tanto no Conselho Deliberativo quanto no Conselho de Orientação e Fiscalização (COF), sem qualquer interferência e indicação de outros poderes.

- Participação maior dos nossos conselheiros através de comissões diversas e amplas, que não devem ser somente pontuais, como foi no caso da redução dos vitalícios, mas sim permanentes, sempre revendo todos os pontos que podem ser melhorados no nosso estatuto.

- Revisão da maneira que ocorrem as nossas reuniões presenciais de conselho, tornando-as mais produtivas e com mais participação e discussão. Aproveitar o espaço e momento que comparecem mais de 250 conselheiros para que sejam momentos preciosos no nosso calendário político.

E com isso finalizo o meu discurso e formalizo que estou retirando a minha candidatura.

Obviamente eu não esperava vencer uma eleição tão difícil quanto essa sem apoio dos dois grupos que disputam o protagonismo político do Palmeiras. Mas saio de cabeça erguida e objetivo cumprido, esperando tendo plantado essa sementinha e vontade de evolução e crescimento no coração de todos vocês conselheiros (as), sempre com a nossa SEP em primeiro lugar.

Declaro o meu apoio ao candidato Carlos Faedo, que é quem tem as propostas mais alinhadas com o que acabo de declarar como essenciais para o nosso crescimento como órgão, até porque a situação não propôs sequer uma única proposta além da volta de benefícios.

Uma ótima reunião a todos e Avanti Palestra.

Roberto Silva
SP/06/03/2023