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Vinícius Júnior escancara as armadilhas na luta contra o racismo
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Após sucessivos ataques racistas sofridos por Vinícius Júnior, a sua equipe de assessores e gestores de redes sociais entenderam que era preciso dar voz ao garoto e chamar atenção para o grave problema.
Por isso, no dia 21 de maio, às 17h18 (horário de Brasília), poucas horas após a sua expulsão na partida contra o Valência, a sua postagem no Twitter caiu como uma bomba e gerou uma onda mundial de engajamento e repulsa a mais um episódio de racismo sofrido pelo atacante brasileiro.
Para relembrar, Irritado com os gritos racistas antes e durante a partida no Mestalla, Vinícius explodiu e apontou em direção aos torcedores que o hostilizava. Acabou sendo, injustamente, expulso.
Sejamos sinceros. Esse estardalhaço só aconteceu porque Vinícius Júnior é o melhor jogador brasileiro da atualidade, veste a camisa do poderoso e multicampeão Real Madrid, é um atleta que rende muito dinheiro para grandes marcas e gera aumento de audiência instantaneamente.
Fosse eu e tantos outros negros menos conhecidos vítimas de racismo, a repercussão não seria mesma, mas vamos ter empatia com a dor do atacante, que, desde que chegou à Espanha, sofreu dez ataques racistas. Como sempre digo, lutar contra o racismo não é uma hastagh em redes sociais.
Líderes mundiais de diferentes posições políticas, artistas de todos os cantos, esportistas, clubes, federações e milhões de anônimos repudiaram os atos racistas.
Do outro lado dessa história, que não começou em Valência e já faz parte do cotidiano de estádios e mais estádios ao redor do planeta bola, muitos espanhóis, como o presidente da La Liga, Javier Tebas, jornalistas, políticos e torcedores comuns tentaram minimizar o fato e alguns até colocaram a culpa em Vinícius Júnior.
Vinícius Júnior saiu fortalecido desse episódio, mas existem algumas armadilhas que ele não pode controlar. Só precisa ficar atento para não ser engolido pelo oportunismo de entidades que o cercam.
Começa pelo seu clube, o Real Madrid que o transformou, com toda a justiça, em estrela de primeira grandeza ao lhe dar a camisa 7. Agora, com a saída de Benzema, o jogador que vai ser mais cobrado e visado pelos adversários será Vinícius Júnior.
A CBF está surfando na onda com os dois amistosos contra seleções africanas, o primeiro neste sábado, contra a Guiné-Bissau, em Barcelona, na Espanha. O segundo será na cidade de Lisboa, em Portugal.
A entidade, por exemplo, que pouco ou nada faz para ajudar com punições mais severas nos casos de racismo e homofobia nos estádios, que até hoje não se pronunciou sobre a condenação de Robinho por estupro e as acusações contra Daniel Alves, aqui quero deixar claro que não estou dizendo que o ex-lateral direito da seleção está condenado por violência sexual, mudou a tradição da seleção brasileira, e os jogadores irão atuar com o uniforme todo preto.
Quero crer que é um olhar para o futuro da seleção brasileira, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que disse ter sido vítima de racismo, mas até agora não revelou concretamente o que aconteceu, dar a Vinícius Júnior a camisa 10, que serve também como mais uma homenagem ao Rei Pelé, que morreu em dezembro do ano passado.
É claro que a Fifa não ficaria fora desse holofote de usar a imagem de Vinícius Júnior como propaganda para si própria. Sem dizer concretamente como isso vai funcionar, o presidente da entidade, Gianni Infantino, convidou o brasileiro para liderar um comitê antirracismo, que vai discutir como aplicar mais sanções mais duras a quem cometer atos racistas.
Enfim, desde o dia 21 de maio, houve muito barulho, algumas punições a torcedores de Atlético de Madrid e do Valencia, cujo clube também foi penalizado com pequenas sanções, promessas aos montes de uma nova era nos estádios.
Entretanto, ao menos na Europa, onde os campeonatos encerraram, o comportamento dos torcedores em relação aos jogadores negros e estrangeiros, não podemos nos esquecer dos casos de xenofobia, só vamos saber na prática quando a bola voltar a rolar no segundo semestre.
Aqui no continente sul-americano, espera-se que a Conmebol, que surfou pouco na onda Vinícius Júnior, e a CBF façam a lição de casa e ajam com rigor, mas isso eu tenho lá as minhas dúvidas.
Na verdade, se não houver punições rigorosas, mais do que aplicar multas, tudo vai continuar no mais do mesmo. Basta ver que depois do caso Vinicius Júnior, aconteceram atos racistas em jogos do River Plate e Fluminense, pela Libertadores, na Argentina, e Audax Italiano e Santos, no Chile, pela Copa Sul-Americana.
Por fim, vamos dar crédito e usar o famoso "o show tem que continuar". Que seja um amistoso bom de assistir, afinal nós brasileiros estamos desapontados com os rumos desta seleção brasileira, sem rumo e sem técnico, e que ainda está longe de mostrar que pode recuperar o prestígio.
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