Manchado pelo racismo, Campeonato Espanhol volta sob risco de novos casos
A LaLiga, a Real Federação Espanhola de Futebol, dirigentes de clubes, governantes, autoridades policiais e membros do judiciário formaram um pacto e prometem tolerância zero contra quem ousar praticar atos racistas como os que aconteceram contra o brasileiro Vinícius Júnior na reta final da última edição do Campeonato Espanhol.
Todos os esforços foram feitos para que nesta edição do Espanhol, que começa nesta sexta-feira, não ocorra nenhum caso de racismo, mas ainda paira a incerteza de que tudo isso irá funcionar.
É preciso relembrar que a exposição do caso Vinícius Júnior colocou não só clubes e torcedores como tolerantes ao racismo. A Espanha foi acusada de ser um país racista.
Com essa mancha do racismo assombrando o país, a LaLiga, que é associação independente que administra o Campeonato Espanhol, foi quem mais trabalhou desde o incidente em Valência, quando Vinicius Júnior sofreu o décimo caso de racismo e usou as suas redes sociais para pedir um basta aos ataques.
Classificação e jogos
Dessa maneira, a situação extrapolou os gramados, virou uma corrente mundial e gerou até uma crise política entre Brasil e Espanha.
A repercussão negativa foi agravada pelas declarações infelizes de Javier Tebas, o presidente da LaLiga, que trocou farpas com o atacante brasileiro através das redes sociais.
De prático, após uma série de prisões, pouco foi feito para dar segurança aos atletas de que os novos casos não voltem a acontecer.
Em entrevista ao De Primeira, programa do UOL Esporte, no qual eu participei na última terça-feira, Daniel Alonso, delegado da LaLiga no Brasil, disse que as punições vão depender da Real Federação Espanhola e do Ministério Público. A LaLiga queria ter mais poder, mas esbarra na legislação do país.
"É a [Real] Federação [Espanhola] que controla a arbitragem, tem o poder de punir um clube, de fechar a arquibancada ou de estabelecer um mecanismo de perda de pontos ou o modelo que for melhor. O que LaLiga faz é denunciar esses infratores, pegar todas as imagens e recursos que a gente consegue para encontrar e punir esses infratores", disse Alonso.
Com uma campanha de marketing ostensiva, a LaLiga tenta recuperar a imagem, algo que Alonso concordou que o produto perdeu um pouco do seu atrativo por causa dos casos de racismo.
"Teve um impacto forte para explicar às marcas, aos parceiros, de ter um compromisso forte contra o racismo e explicar o porquê a gente não podia punir, porque é a cobrança de qualquer torcedor. A gente está sofrendo ainda isso, estamos falando disso porque é um tema fundamental, que afeta a imagem da marca, não só no Brasil, mais no Brasil porque é o Vinicius, mas afeta globalmente", afirmou Alonso.
Real Madrid quase 100% negro
Como curiosidade, dos 20 clubes desta edição do Campeonato Espanhol, o Real Madrid é o que tem mais jogadores negros em seu elenco. Com a chegada do meia inglês Jude Bellingham, o clube merengue tem nove atletas negros à disposição, que podem começar juntos caso o técnico Carlo Ancelotti assim desejar.
São eles, Éder Militão, Rüdiger, Alaba, Mendy, Camavinga, Tchouaméni, Bellingham, Rodrygo e Vinícius Júnior.
A única posição do elenco que não conta com jogadores negros é no gol. Com a contusão do goleiro Thibaut Courtois, que rompeu os ligamentos do joelho esquerdo e deve ficar oito meses afastado dos gramados, a diretoria vai em busca de outro jogador para ser titular.
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Quero receberPelos nomes que estão na pauta para abrir negociações, não tem nenhum goleiro negro.
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