Luís Rosa

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Leila Pereira pisa na história do Palmeiras e vai continuar dando as cartas

No dia 3 de outubro, véspera da derrocada do Palmeiras na semifinal da Copa Libertadores, foi inaugurado no clube um busto em homenagem a César Maluco, ex-atacante e conselheiro do clube.

Por trás desse evento, ocorreu mais uma demonstração do egocentrismo e de como a presidente Leila Pereira coloca o seu marketing pessoal e pisa na história centenária do Palmeiras.

No post no X (ex-Twitter), o texto foi o seguinte. "Com a presença da presidente Leila Pereira, inauguramos em nossa Sala de Troféus, o busto do ídolo César Maluco, maior artilheiro da história do clube na Era Profissional."

Setorista do Palmeiras que fui por oito anos, presenciei inúmeros eventos que, pelo protocolo e o bom senso, a presença do presidente do clube foi obrigatória.

Nos comentários, os chamados torcedores comuns, em sua grande maioria, entenderam que a presidente usou mais um acontecimento, onde ela não era a protagonista, para colocar a sua presença em destaque.

Mas o estilo Leila Pereira é assim. Nada acontece no Palmeiras sem que ela apareça em primeiro lugar, e aí de quem ousar ficar pelo seu caminho, haja visto a perseguição aos conselheiros que manifestaram opinião contrária.

Dois dias depois, o Palmeiras ruiu na semifinal da Copa Libertadores ao perder nos pênaltis para o Boca Junior, algo que muitos palmeirenses temiam, pois o time não vinha jogando bem. Dessa forma, aumentou o tom das críticas à gestão Leila Pereira, sob o comando da torcida organizada Mancha Alviverde, ex-parceira da presidente, no futebol e no Carnaval.

Nesta quarta-feira, diante da escalada dos ataques de vândalos às suas propriedades, Leila Pereira deu uma entrevista desastrosa, que só reforçou o jeito peculiar de se colocar como a figura mais importante dos 109 anos de história do Palmeiras.

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Foi estarrecedor ouvir a empresária dizer "a grande emoção antes da Crefisa chegar era quando não caía. Hoje as pessoas ficam estressadas porque, de quatro Libertadores, ganhamos duas. Isso é ridículo".

Pode até ser dito, isso os seus poucos defensores, que ela se referia aos anos de 2012, quando o Palmeiras foi rebaixado pela segunda vez à Série B, ou em 2014, sabe-se lá como o Palmeiras escapou da terceira queda.

Só que não é bem assim. Quem convive diariamente com Leila Pereira e tem falado na condição de anonimato com a coluna, relata que ela age como "se fosse a pessoa mais importante que sentou na cadeira de presidente do Palmeiras."

É inegável o tamanho da ajuda financeira, que mudou o Palmeiras de patamar no futebol sul-americano, ao longo desses quase dez anos, mas é bom ponderar que isso foi uma mão dupla, um ganha-ganha.

Como era a marca Crefisa em 2014 e como ela é vista e valorizada atualmente?

Da mesma forma, quem era a empresária Leila Pereira, que se diz palmeirense, mas poucas vezes era vista no estádio torcendo fervorosamente nos momentos de alegria e tristeza? Ou, como dizem alguns, se ela tem a capacidade de cantar o hino do clube e citar dez ídolos, por exemplo, que fizeram histórias nas duas primeiras Academias de Futebol.

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Em 2016, ano que o Palmeiras conquistou pela primeira vez o Brasileirão na era dos pontos corridos, eu a entrevistei com exclusividade para o extinto jornal "Agora São Paulo", em parceria com o repórter Alexandre de Aquino, e a tirei da zona de conforto.

Na época, era sabido que nos bastidores, Leila Pereira articulava a sua candidatura à presidência, mas ela sempre negava. O que a irritou foi que eu disse que se o Palmeiras não ganhasse o título, o seu candidato, Mauricio Galiotte, corria o risco de perder a eleição.

Irritada, ela esbravejou. "Então os palmeirenses só gostam de mim por causa do meu dinheiro?". Respondi com uma palavra. "Sim".

O tempo passou, Leila Pereira virou conselheira, presidente, aniquilou desafetos como os ex-presidentes Paulo Nobre e Mustafá Contursi, que foram decisivos para que ela fosse reconhecida como sócia em uma manobra controversa.

Além disso, a presidente tem ampla maioria e ditas as ordens no Conselho Deliberativo e no COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) e, nesta última batalha, a Mancha Alviverde, maior torcida organizada, está deixando de ser a principal voz nas arquibancadas com a caçada na Justiça que está por vir.

Para conseguir tudo isso, o dinheiro falou mais alto, mesmo hoje o que se sabe, o patrocínio das empresas de Leila Pereira está longe de ser a maior receita do Palmeiras.

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A questão é que não há ninguém capaz de vencer Leila Pereira na próxima eleição, que será realizada no final de 2024. A oposição se dividiu e minguou. Nem mesmo no grupo da situação algum conselheiro vai pleitear lutar pela indicação.

Diante desse cenário, como já se esperava, na coletiva de mais de uma hora nesta quarta-feira, Leila Pereira aproveitou os holofotes para lançar a sua candidatura à reeleição.

Assim, mesmo que a oposição consiga se unir, Leila Pereira seguirá com o seu poder inabalável por mais três anos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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