Luís Rosa

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Opinião

Negros vivem momento histórico na Eurocopa

Com o recrudescimento do discurso de ódio, racista e xenófobo propagado por partidos de extrema direita, a Europa, em países como França, Inglaterra e Espanha, vê acender o sinal de alerta máximo pelo temor do aumento de perseguições extremadas contra as minorias.

Dentre essas minorias estão os imigrantes negros, nascidos no continente europeu ou naturalizados, que vivem um momento histórico.

Pela primeira vez na disputa da Eurocopa, sete países dos oito que começam nesta sexta-feira a decisão das quartas de final, com Alemanha e Espanha e depois Portugal e França, possuem jogadores negros.

Dois países chamam mais atenção. Na França, não é novidade nem a presença de jogadores negros nem os ataques de políticos de extrema direita contra os que vestem a camisa do país.

O maior propagador do discurso de ódio é a Frente Nacional, partido de extrema direita, que teve na figura de Jean-Marie Le Pen a principal voz dos ataques.

Antes e depois da Copa do Mundo de 2006, torneio que a França ficou na segunda colocação, Le Pen declarou que a França "tinha jogadores negros demais".

Na época, o zagueiro Lilian Thuram, campeão do mundo em 1998, respondeu que "não importa a cor, somos todos franceses".

Curiosamente, as duas gerações seguem os pais e estão em luta, dentro e fora de campo.

Para continuar o legado vitorioso do pai, o atacante Marcos Thuram é uma das apostas da França no confronto contra os portugueses.

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No domingo será a vez de Marine Le Pen, que segue o discurso de ódio do pai, tentar mostrar força nas urnas. À frente do partido de ultradireita Reunião Nacional, ela busca aumentar o seu poder político com a vitória no segundo turno para as cadeiras da Assembleia Nacional.

No primeiro turno, no último domingo, a Reunião Nacional venceu com 33% dos votos válidos. Com isso, analistas projetam entre 230 e 280 das 577 cadeiras, número perto da maioria da Assembleia, 289. Atualmente, o partido tem 88 deputados.

Ao contrário do que acontece na seleção brasileira, com raras manifestações políticas, os jogadores negros franceses, maioria no elenco, entraram mais forte em campanha com o pedido de votos para tentar frear o avanço da direita radical.

Nesta semana, após a vitória sobre a Bélgica nas oitavas de final, o lateral-direito Jules Kondé e o atacante Kylian Mbappé pediram que os compatriotas compareçam às urnas. Na França, o voto não é obrigatório.

"Mais do que nunca temos de votar. É realmente urgente. Não podemos deixar nosso país nas mãos dessas pessoas. É realmente urgente. Vimos os resultados do primeiro turno. É catastrófico. Espero muito que as coisas mudem e que todos se mobilizem para votar e votem no lado certo", disse Mbappé, na entrevista coletiva.

Alemães e espanhóis também estão preocupados com questões raciais e políticas.

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Além do brasileiro Vinícius Júnior, que atua no Real Madrid, o atacante Nico Willians, do Athletic Bilbao, sofreu ataques racistas neste ano no mesmo estádio, o Wanda Metropolitano, casa do Atlético de Madri.

No elenco espanhol, os negros são Nico Willians e Yamine Lamal, garoto do Barcelona. Titulares, os dois deram uma dinâmica mais agressiva à Espanha e devem formar o trio de ataque ao lado do experiente Álvaro Morata.

Turcos vivem clima pesado

Única seleção na disputa das quartas de final que não conta com jogadores negros no elenco, a Turquia é um caso à parte em solo alemão.

Autor dos dois gols na vitória sobre a Áustria, por 2 a 1, na terça-feira, o zagueiro Merih Demiral fez um gesto provocativo com as mãos imitando um lobo, uma suposta referência ao grupo ultranacionalista turco de extrema direita conhecido como Lobos Cinzentos.

O gesto se transformou em um incidente político, classificado pelo governo alemão como "racista". Isso porque na Áustria é proibido esse tipo de manifestação, mas não na Alemanha, onde se discute a possibilidade de bani-lo.

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O turco fez um gesto com as duas mãos semelhante à cabeça de um lobo, sinal muito representativo do movimento 'Ulkucu' , também conhecido como Lobos Cinzentos. A organização turca é acusada de ser terrorista, ultranacionalista, neofascista e islâmica e, segundo o Gabinete Federal para a Proteção da Constituição da Alemanha, são mais de 12 mil membros no país.

Por causa disso, segundo o jornal alemão "Bild", Demiral foi punido pela Comissão Disciplinar da Uefa com dois jogos de suspensão e não poderá enfrentar a Holanda, neste sábado. Caso a Turquia se classifique, o defensor também não será escalado contra o vencedor de Inglaterra e Suíça.

Este é mais um capítulo da situação de jogadores turcos na Alemanha. Ainda assola no país o caso do meia Mesut Özil, que deixou a seleção alemã em 2018 após ser criticado por ter posado para fotos ao lado do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Filhos de pais turcos, em 2007, Özil preferiu defender a seleção da Alemanha. O meio-campista fez parte do elenco que conquistou a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

No elenco alemão desta Eurocopa, os jogadores de origem turca são Ilkay Gündogan e Emre Can.

Em 2019, os dois foram criticados após curtirem uma foto de Cenk Tosun, que comemorou o gol da vitória da Turquia sobre a Albânia, pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2020, prestando continência. Os torcedores alemães interpretaram o gesto como uma alusão à ofensiva militar da Turquia contra os curdos na Síria.

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