Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Marília Ruiz: A condenação definitiva de Robinho e vocês da imprensa
A cobertura da imprensa sobre o julgamento do último recurso do ex-jogador Robinho na Justiça italiana no caso de violência sexual grupal me surpreendeu.
Depois de tímidas notas e notas de rodapés nas instâncias anteriores (na grande maioria da imprensa), hoje a confirmação da sentença de 9 anos de prisão está em todos os lugares. Há casos de emissoras e veículos de imprensa (como UOL) com correspondentes em Roma.
As duas notícias são ótimas: um crime não pode passar impune; e jornalistas não podem se sentir constrangidos em falar de estupro.
Constrangedor é o estupro.
Constrangedor é a tolerância do futebol em relação a "problemas pessoais" dos jogadores.
Constrangedor é ler e ouvir as mulheres sendo chamadas hoje às mesas redondas ainda mega masculinas, brancas e recheadas de machos-alfa como se estupro fosse um assunto de mulher.
O desconforto dos meus colegas homens em comentar o caso é que constrange.
Ser mulher, meus caros, é ter medo de ser estuprada todos os dias.
Desde que nascemos somos ensinadas a ter cuidado e a ter medo. É assim em 99% do planeta.
É uma afronta às mulheres dividir a pessoa física do estuprador e a pessoa jurídica do jogador.
O futebol sempre se protege de assuntos que desprotegem os mais vulneráveis.
Futebol é reduto machista.
A ginástica verbal que se testemunha nas discussões sobre o assunto mostra que ainda estamos longe de dias perfeitos. Teve quem comparasse os casos de Robinho e de Djokovic. Juro que teve. Desenho: um é um crime hediondo. Teve quem relativizasse a participação dos patrocinadores. Tem quem tenha falado sobre o "direito de trabalhar" e "ressocialização".
Mas hoje é um grande dia! Isso importa.
Seguimos.
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