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'Respeita as minas' da porta para fora do Conselho do Corinthians
Um documento assinado por cinco homens, que formam a Comissão de Ética do Corinthians, e que versa rasamente sobre as "origens do machismo e da misoginia" termina com a recomendação do arquivamento de uma denúncia de machismo explícito e de ameaça de agressão feita pela conselheira Analu Tomé (oposição) contra o vitalício Manoel Ramos Evangelista, conhecido como Mané da Carne, figura há décadas no clube. O caso foi revelado com exclusividade por esse BLOG em novembro passado.
Em seis páginas cheias de clichês lamentáveis, os subscreventes André Luiz de Oliveira (conhecido como André Negão, presidente da comissão), Carlos Roberto Elias (relator), Raul Lovo Neto, Amir Bertoni Gebara e Leonardo Riberio da Silva colocaram fim ao processo disciplinar 006/2021 aberto depois de o conselheiro vitalício ter ofendido aberta e repetidamente a conselheira de oposição por meio de mensagens enviadas em um grupo de Whatsapp que reúne os conselheiros corintianos.
A denúncia apresentada por Analu Tomé incluía provas contundentes: cópias das mensagens por escrito e áudios que incluíam ameaça de agressão física (leia mais abaixo). O Corinthians resolveu se omitir.
Vou colocar entre aspas partes da vergonhosa decisão assinada pelo relator Carlos Roberto Elias. Cheia de erros, de falsas simetrias, de trechos copiados em CTRL C e CTRL V de buscas questionáveis na internet, e de machismos clássicos, o documento é uma afronta. Os erros de português e de concordância, além da narrativa fraca e de cortes secos, mostram o despreparo dos senhores membros (todos homens) para tratar do tema. E pior. Uma Comissão de Ética que diz não ter competência para julgar a conduta dos seus membros serve para quê???
"O surgimento da ideia de sociedade patriarcal ocorreu na Idade Antiga, há mais de 2500 anos, na Roma Antiga e na Grécia Antiga. Nesses lugares, portanto, as mulheres eram postas em situação de subordinação ao homem. Para se ter uma ideia da intensidade dessa relação, os homens possuíam até mesmo o direito sobre a vida ou a morte das esposas. Portanto, a identidade feminina era completamente desvalorizada, e a única função da mulher para essa sociedade extremamente patriarcal era a procriação. Em um contexto mais recente, sobretudo nos últimos dois séculos, fi possível observar esse patriarcado de forma menos evidente, mas ainda presente. Por exemplo: na situação da mulher ter sido por muito tempo impedida de trabalhar. (...) O machismo estrutural, que deve ser amplamente combatido, ocorre por conta da criação de estereótipos de gênero pela sociedade patriarcal, onde (sic) sempre foi enfatizado que os homens devem possuir aspectos de virilidade, confiança, agressividade, e as mulheres devem ser frágeis, vulneráveis, delicadas e inseguras. Nesse contexto, foram criadas diversas disposições legais para o combate do machismo estrutural e proteção às mulheres. (...) Entretanto a lei fixa (sic) a investigação à Polícia Federal nos casos em que forem praticados um ou mais crimes por intermédio da internet. (...) Isso posto, com os fundmanetos acima mencionados, em que pese entender completamente os argumentos da representação e, pessoalmente, ser favorável à qualquer combate de discriminação, racismo, homofobia e misoginia, em face da ausência de competência da Comissão, OPINO PELO ARQUIVAMENTO PRELIMINAR da representação", diz o documento já assinado, carimbado e engavetado.
Entenda o caso
Em novembro passado, esse BLOG revelou com exclusividade que o conselheiro vitalício Mané da Carne havia ofendido e conselheira da oposição Analu Tomé em grupo de Whastapp que reúne os conselheiros do Corinthians.
Dias depois do caso revelado, Analu apresentou uma denúncia formal com provas contundentes no Conselho Deliberativo corintiano: cópias das mensagens por escrito; e áudios que incluíam ameaça de agressão física.
"Pode ter certeza. Deleto tudo o que vocês (sic) posta. É muita sacanagem ler essas bobagem (sic) que você posta. Vai arrumar um tanque de roupa para se divertir", escreveu Mané da Carne no grupo que discutia uma verba para festas beneficentes no final do ano no clube.
No dia seguinte, depois deste BLOG revelar o caso de misoginia explícita que, segundo relatos de outros conselheiros, são recorrentes, o conselheiro vitalício há décadas no clube disse que não se desculparia com Analu, que não havia falado nada demais e foi além!
"Agora colocaram uma lei da Penha (sic), que qualquer coisa que você fala é mimimi, machismo. Elas podem tudo, e nós não podemos nada. Mas comigo não tem esse negócio não. Se uma mulher me ofender, eu vou para cima e dou-lhe murro mesmo", afirmou em mensagem ouvida por essa colunista.
Mais tarde, entretanto, tentou justificar o absurdo: "quando eu disse dar um murro, não quis dizer agredir ninguém. Mas um murro de palavras."
A Comissão de Ética do Corinthians, que usa a #RespeitaAsMinas em várias iniciativas, resolveu covardemente se omitir.
Resolveu fazer nada contra tanta porrada e impropério misóginos, machistas e, no mínimo, inapropriados em grupo que reúne pessoas que foram votadas para representar o sócio e torcedor do Corinthians.
Tem nome para isso: desrespeito às minas.
Procurada pelo Blog, Analu disse estar decepcionada e cansada. "Não vou além, não Marília. Nunca vai dar em nada. Estou desiludida e cansada. Não vou procurar nem a Justiça comum", afirmou.
PS: No mesmo dia da condenação definitiva de Robinho por violência sexual grupal pela Justiça da Itália, eis a prova que as coisas não mudaram, não. Infelizmente.
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