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Marília Ruiz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Neymar, Abel e o futebol sem memória

Neymar no jogo de eliminação do PSG contra o Real Madrid na Liga dos Campeões - Javier Soriano/AFP
Neymar no jogo de eliminação do PSG contra o Real Madrid na Liga dos Campeões Imagem: Javier Soriano/AFP

15/03/2022 11h01

Neymar não sabe o que mais fazer para agradar a torcida, para ser aplaudido em uníssono no Brasil e para virar nome de rua em todos os municípios do país. Agora ele não sabe mais isso em francês também. Ele não se conforma que nem todo mundo aja como seus parças. Não é fácil ser ele, aguentar o que ele aguenta e ainda ser vaiado em eliminações. Até disputar outra Copa ele não sabe se quer. Ganhar é mais fácil e mais gostoso. O futebol não tem memória.

Abel Ferreira ganhou em pouco mais de um ano tanto quanto necessário para colocá-lo na história do Palmeiras. A tática (a mais bem executada; não a única) do futebol vertical e letal, muitas vezes reativa, criou areia na relação entre ele e a crítica. Ao mesmo tempo que ele coleciona troféus, coleciona coletivas (virtuais - o que faz toda diferença) que incendeiam mais do que deveriam. O ambiente está inflamado. O futebol não tem memória: qual a origem da animosidade?

Muitas são as possíveis explicações para o fato de Neymar ter relação conflituosa com os que não fazem parte do seu fã clube ou do seu núcleo de amigos. A boa série da Netflix mostra muito e dá boas dicas sobre como foi forjada a personalidade do 10 da nossa Seleção. O futebol dele foi forjado nos gramados - e esse a gente assistiu de camarote desde que ele era criança.

Abel agora mostra um pouco do seu trabalho longe dos gramados no livro recém-lançado, obrigatório para quem trabalha como futebol e viu o que ele fez nos últimos meses no Palmeiras. Agora podemos ler as explicações dele sobre o período. Parece-me, como sempre pareceu, inútil (para ser gentil) a discussão sobre ser ele retranqueiro ou sem repertório. Está bastante claro que a beleza do jogo para ele mora no placar (para mim também). Parece-me inútil também que ele precise convencer quem quer que ele convencer do contrário quando se lembra do seu "vizinho" ou faz ironias. Pregar para convertidos é mais fácil. Para "hereges", entretanto, é mais custoso e demorado. O futebol não tem memória - e gosto, diferentemente de mapa de calor, não se discute.