Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Um tapa na cara ressuscitaria o futebol em SP?
O assunto do dia é o limite do humor e o tapa na cara de um astro de Hollywood em outro.
A dor dos outros é imensurável. A defesa da dor dos nossos sempre é mais cheia de argumentos do que da dor alheia. Nossa razão é sempre mais justa. Já condenei Will Smith, já entendi Will Smith, já me coloquei no lugar da vítima da piada sem graça. Ela, JADA, sente a dor da doença, ela sente a dor da repercussão do tapa, ela foi novamente esbofeteada pela vida que não lhe poupou de nada.
Mas o tapa pode ter, sim, repercussão boa se da próxima vez que resolvermos ultrapassar o milite alheio "sentíssemos" um tapa estalado humilhante e revigorante. Vivemos mergulhados em ofensas descompensadas, ataques virtuais, deboches, racismos, homofobias e cretinices mil. E o que acontece? Nada. Reagimos com ofensas às ofensas, com violência (ainda que verbal) à violência. O resultado de tudo isso é mais dor.
SP é o túmulo do futebol porque nós aceitamos isso. A torcida única, a ausência de bandeiras, o silenciamento das festas: aceitamos a censura e a falta de liberdade. Todos nós aceitamos. Não há um único movimento de resistência (tem o meu, mas não faz nenhuma diferença). Sim, há uma determinação no Estado. Mas pode cair. Não é só a falência e comodidade da Polícia que justificam essa bizarrice. É a nossa falência como ser humano. O ser humano que não pode ir ao estádio com pessoas que torcem para o outro time é que são o problema. Nós somos o problema.
Acordemos nesta segunda com esse tapa na cara. Como diria Nelson Rodrigues, "o problema do tapa na cara não é o tapa, mas o barulho".
PS: Antes vamos brigar sobre onde serão as finais do Paulista, porque, né, somos melhores nas ofensas, na verborragia e nos tapas na cara. Azar das verdadeiras vítimas.
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