Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Vovô Roberto Dinamite, a estátua tarda mas não falha
Os cabelos brancos denunciam a pressa do tempo e a lentidão do ser humano. Passaram-se 50 anos desde a explosiva vitória do Vasco por 2 a 0 sobre o Internacional, e somente agora aquele garoto da Baixada Fluminense, um dos muitos Robertos desse país, vai virar estátua na casa onde cresceu.
Precisou de uma bomba certeira para ganhar o sobrenome eterno como se de batismo fosse, Dinamite. E de um total de 708 gols pelo Vasco para ser esculpido pelas mãos de um artista.
Roberto precisou disputar 1.110 jogos com a camisa do clube.
Precisou ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro.
Precisou ser o maior artilheiro do Campeonato Carioca.
Precisou ser o maior goleador do Vasco.
Precisou ser o maior ídolo do clube.
Precisou fazer gol de lençol no Osmar.
Parem as máquinas porque é preciso escrever mais do que uma linha sobre esse gol. Foi no Carioca de 1976, contra o Botafogo. O ídolo do Vasco recebeu da direita a bola de Zanata, matou no peito, aplicou um lençol no zagueiro Osmar e detonou o goleiro. O gol, aos 45 minutos do segundo tempo, foi o da virada: 2 a 1.
Roberto precisou recusar um convite para jogar no Flamengo.
Precisou fazer cinco gols sobre o Corinthians no Maracanã lotado.
Precisou reunir amigos da pesada na sua festa de despedida, e, entre eles, Zico, com a camisa do Vasco na foto para a posteridade.
Nem dá pra dizer que só faltou fazer chover. Deve ter feito isso também.
O que faltava mesmo para Roberto Dinamite merecer uma estátua em São Januário? Dinheiro? Em cinco horas a torcida corrigiu o lapso histórico: uma vaquinha arrecadou R$ 190 mil, merreca que não paga o valor de Roberto, patrimônio do Vasco e do futebol.
Demorou tanto que Roberto já é avô de Valentina e Bento. A menina, de 7 anos, e o pequeno, de 1, já poderiam se orgulhar do coroa de cabelos brancos por tudo o que os livros e a televisão contam, mas em breve terão a materialização da lembrança em uma estátua no Brasil de desmemórias.
Que a estátua de Roberto em São Januário corrija as perdas pela lentidão do processo. E que tenha o sorriso aberto e sereno, marca registrada do artilheiro, agora com mais uma razão para novamente mostrar os dentes: fez-se a justiça.
POR FALAR EM ÍDOLO...
O STJD acertou em mandar para o banco dos réus o descontrolado Fred. Ele não precisava acrescentar à sua biografia a agressão a Ronald, do Fortaleza. O quase quarentão, libriano de 38 anos, um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro, tem nome e história a zelar; não importa se doeu ou não o golpe no pescoço do adversário; não importa se o humilhante lençol era desnecessário, com o jogo já parado. A cena patética não combina com a categoria do ídolo do Fluminense, que, ao puxar a camisa do adversário, obrigando-o ficar de pé, desceu alguns degraus da fama. Foi feio e, infelizmente, inesquecível.
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