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Marluci Martins

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cuca reverteu a hashtag #CucaNão

Cuca: da rejeição à idolatria - Pedro Souza/Atlético
Cuca: da rejeição à idolatria Imagem: Pedro Souza/Atlético

03/12/2021 09h54

No dia 26 de janeiro de 2021, quando o Brasil registrava 1.206 mortes por Covid-19 em 24 horas, chegando ao total de 218.918 óbitos desde o começo da pandemia, um fato bem menos grave era destaque no noticiário: a torcida do Galo, em um barulhento protesto, ameaçava invadir a sede do clube. O investimento de R$ 180 milhões na montagem de uma equipe competitiva criou a expectativa por uma temporada dos sonhos em 2020.

Os alvos eram o técnico Jorge Sampaoli e o time - tachado de "sem-vergonha". As ameaças e a gritaria não mudaram o destino do clube naquela temporada encerrada com atraso devido à pandemia: Flamengo campeão, no dia 25 de fevereiro de 2022.

E de novo a torcida bateu pé no início de março, quando ouviu o diretor Rodrigo Caetano anunciar o nome de Cuca para o cargo de treinador do time. O troféu da Libertadores por ele conquistado com o clube em 2013 já parecia fato esquecido, e buscou-se no século passado uma desculpa para a rejeição: em 1987, quando ainda era jogador do Grêmio, Cuca foi acusado de envolvimento em um caso de abuso contra uma menor de 13 anos, durante excursão à Suíça, onde chegou a ficar detido por quase um mês.

Cuca reverteu aos poucos e de forma incontestável a hashtag #CucaNão e, com a merecida conquista do título brasileiro no comando do Atlético-MG, viralizou na noite da última quinta-feira (2/12) - na sensacional virada sobre o Bahia - como herói que rompeu um jejum de 50 anos. Já há quem o considere o melhor treinador da história do clube. E ainda não acabou. Nos próximos dias 12 e 15, o Galo disputa a final da Copa do Brasil com o Athletico.

No Brasileiro, a tabela fria anuncia as qualidades do campeão brasileiro: com 81 pontos em 36 jogos, o time tem a melhor defesa da competição (27 gols contra 32 do Flamengo). Com 60 gols, oito a menos que o Flamengo, o Galo não terá o melhor ataque da Série A, o que não enfraquece a competência de um setor ofensivo abençoado por Hulk, artilheiro com 18 gols, principal estrela da companhia e candidato a craque em todas as enquetes de fim de temporada. Das páginas dos quadrinhos para os campos de futebol, Hulk fez, sob o comando de Cuca, a torcida seguir mutação inversa à do furioso personagem verde: quem era raiva no início do ano, hoje é só alegria, paz e amor.