Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Robinho sai da vida do futebol para entrar na história de forma humilhante
Aos 37 anos, Robinho sai da vida do futebol para entrar na história. E entra na história de forma humilhante, abjeta, vergonhosa: tornou-se, no dia 19 de janeiro de 2022, um criminoso condenado na Itália. Provavelmente jamais pagará os nove anos de prisão por violência sexual de grupo, mas contaminou sua biografia, agora imunda e obscena, repleta de títulos ofuscados, sem o valor de outrora.
Ao condenar Robinho, a Corte de Cassação de Roma impede indiretamente o risco de um possível erro do Santos no futuro, pois dirigentes estúpidos cogitaram um dia dar uma chance a alguém que ainda tentava acertar as contas com a justiça italiana, mas perdia de goleada. A conta a ser paga será alta, ainda que Robinho esteja livre da extradição e com boas chances de seguir a vida pelas bandas de cá, sem ver o sol nascer quadrado.
Mas vai ser dureza. Assim como a bola, a sociedade pune. A boa casa no Guarujá será o limite do (ex-)jogador, e o travesseiro já não será macio; se bem que o sono deve ser o pior possível desde aquele fatídico 22 de janeiro de 2013, quando uma albanesa comemorava seus 23 anos na casa noturna Sio Café, em Milão, e foi estuprada por um grupo de brasileiros, segundo o seu relato. Entre eles - de acordo com o relato da jovem -, Robinho, um dos principais jogadores do Milan àquela época.
Pode-se dizer que a vítima foi violentada de novo nesta quarta-feira (19), quando a defesa de Robinho não hesitou em ir ao mais baixo nível, tentando difamar a albanesa. Insistiu na tese de que o que rolou foi consensual, afirmou que a vítima teria provocado os brasileiros e acusou-a de frequentar boates acompanhada por homens. A tentativa de drible apenas tornou mais humilhante a situação do réu: os cinco juízes - quatro homens e uma mulher - não entraram no jogo.
Sempre se esperou mais de Robinho do que ele conseguiu entregar. De promessa estonteante nos seus primeiros passos no futebol, o jogador sepulta, com a condenação em última instância na Itália, o passado em clubes de ponta como Santos, Real Madrid, Manchester City, Milan e Atlético-MG. Fim de linha também para Robinho como cidadão, marido, pai e filho. O garoto da Vila Belmiro tropeçou na fama e virou exemplo indigno.
Não há revolta nesse texto, embora alguns adjetivos deem margem à interpretação de um relato odioso. Não é. Há um misto de pena e realismo aqui. Jogadores são mimados, e não deve ser fácil acumular fama e fortuna de uma hora para outra, quando o real vira euro, e o barraco de um só cômodo se transforma em mansão de luxo. Brotam de todos os lados oportunistas farejadores de vantagens financeiras e sociais, sem nada a perder, só a ganhar. Quem perde é o ídolo. Perde a liberdade de ir e vir sem se envergonhar, perde o status construído graças a um dom restrito a pouquíssimos, perde o futuro na carreira, perde o carinho de uma nação apaixonada por futebol.
Podia ter sido melhor, mas foi bom enquanto durou. Adeus, Robinho, o futebol se despede aqui.
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