Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sócrates em Paris
Não vi Sócrates jogar. Pendurou as chuteiras quando eu era ainda recém-nascido. Porém, não foi preciso ter presenciado e assistido ao futebol nas décadas de 70 e 80 para tê-lo como um dos meus maiores ídolos. Uma referência dentro e fora das quatro linhas. Uma tatuagem no braço.
Tenho orgulho e satisfação de carregar a figura do capitão do Brasil na mítica Copa de 82 na minha pele. Não considero que éramos amigos. Tive um único encontro frente a frente com o Doutor, numa conversa que, como de costume, foi muito além da bola. Falamos de política, cultura e família. Refletimos sobre a vida - que ele viria a perder pouquíssimas semanas depois.
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira faleceu em dezembro de 2011, mas voltamos a "nos encontrar" em maio de 2022. Do outro lado do Oceano Atlântico. Na França. Com a biografia "Doutor Sócrates" (escrita por Andrew Downie) na bagagem, viajei a Paris para fazer a cobertura da final da Liga dos Campeões, entre Liverpool e Real Madrid, no Stade de France.
Raí, irmão mais novo do rosto da "Democracia Corinthiana", é unanimidade na capital francesa. Ele, por sua vez, vi jogar. Brilhou no PSG nos anos 90. Reconhecimento que não surpreende. O que eu não sabia - talvez tivesse a obrigação de saber - é que o irmão mais velho, que teve uma única e isolada temporada na Europa (Fiorentina, em 1984/85), também tem uma presença de espírito impressionante entre os parisienses.
Não foi uma. Nem duas. Nem mesmo três. Em quatro dias de trabalho, nove torcedores (oito locais e um inglês) e um segurança do aeroporto de Orly resolveram "me tietar", todos com a mesma abordagem: o dedo apontado para minha tatuagem e a palavra universal "Sócrates!".
Também sem nunca tê-lo visto em campo, o mais novo dos fãs, Julien, pediu para tirar uma foto. Não comigo. Queria somente um registro com meu braço direito, onde carrego ainda, entre outras tatuagens, uma imagem do Tintim, dos desenhos animados mais famosos na própria França, que, desta vez, acabou ofuscado por um antigo craque brasileiro que encantou o futebol mundial.
O Real Madrid terminou a temporada vencendo o Liverpool e conquistando o décimo quatro título da Liga dos Campeões. Já eu voltei para Lisboa, onde moro desde 2015, com a lembrança de Sócrates mais viva do que nunca na memória.
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